A bicicleta
Américo Perin
Esse meio de transporte tão prático e de resultados salutares para a saúde de seus usuários parece, nos dias de hoje, estar ganhando novos adeptos em nosso país.
Em países bem mais desenvolvidos, seu uso é bastante explorado por todas as camadas sociais. Não é como aqui em que os ciclistas são estigmatizados como “pessoas de menos importância”, que usam suas bicicletas simples e baratas para ir a todos os lugares. Há também, claro, os de melhor condição social, que usam suas bicicletas caríssimas e de última geração tecnológica, mas para passeios de recreação.
Sabe-se que, nos grandes centros, algumas empresas brasileiras já estão incentivando com premiações funcionários de todos os níveis que forem ao trabalho com suas bicicletas. Notou-se o óbvio: a atividade física melhora a produtividade do indivíduo e, assim, empresários oferecem estacionamento apropriado, salas de banho e até café da manhã reforçado aos empregados que se aventurarem a irem trabalhar com suas bicicletas.
Quando da construção da barragem de Água Vermelha, conheci uma francesa, senhora de seus 40 anos na época, doutora em geologia, que deixava seu carro de luxo na garagem e só usava uma bicicleta para se locomover durante seus afazeres diários. Tenho uma prima, que hoje trabalha para o governo norte-americano na área de física nuclear, que, durante toda sua vida de estudante, tanto no Brasil como na Alemanha, onde se doutorou em Física, só se locomovia com sua bicicleta.
Vocês já viram aqui no Brasil um médico, advogado, engenheiro, professor, fazendo seus serviços de rua usando uma bicicleta?
Neste pobre país, em que já os escravos se vestiam com roupas importadas de outros países, criou-se a cultura do esnobismo. Aqui, campeia o preconceito, segundo conceitos duvidosos concebidos de forma burra.
De minha parte, continuarei circulando pela cidade com a minha linda e confortável bicicleta azul. Passeio e me divirto vendo passarem por mim pessoas que nem sequer me olham, mas que, em situações “normais”, até me cumprimentariam. Não que eu seja tão importante assim, mas cumprimentar um “homem que está ‘na Barão’ de bicicleta em pleno horário de serviço”?!
Isso é muito interessante mesmo. São traços da nossa cultura. Fazer o quê, não é?