A grande mentira
Vitimados pelos efeitos da indústria cultural, somos, até hoje (enquanto nos dizem sermos brasileiros), educados para comemorarmos a “grande descoberta de 1500” que deu início às atividades, digamos pitorescas, dos Sarneys, Severinos, Malufs, Magalhães e também de alguns outros políticos atuais, por esta latitude e longitude do globo terrestre.
Primeiramente, é necessário colocar-se uma ideia de parâmetro nessa história toda. Se alguma coisa foi descoberta, é porque ela já existia, mas estava escondida. Ora bolas, este país continente nunca esteve escondido, até porque não existia como tal. Eram os índios brasileiros? Tinham eles a ideia de nação? Tinham ideia de posse de uma determinada porção geográfica do mundo? Eram eles infelizes com a vidinha que tinham aqui? Pois é, era necessário que viessem os europeus para “salvar-lhes as almas” à custa de uma mortandade que se verifica até hoje.
É bom lembrar que, quando os portugueses chegaram aqui, traziam consigo a ideia da contrarreforma em que estava mergulhada a Europa por conta das matanças e perseguições entre o clero da Igreja Católica e os rebeldes de Lutero. Coitados dos índios, pelados e donos de uma liberdade que só a eles pertencia, foram um prato cheio para os jesuítas que viam demônios por toda a parte. E começou a primeira tentativa de escravidão enquanto, ao mesmo tempo, diziam estar salvando-lhes as almas. José de Anchieta até inventou um tal de “teatro verdade”, que era uma forma do pobre índio que não sabia o que era pecado confessá-los em público para ter direito de ir para o paraíso. Ora, imaginem a dificuldade de um índio entender o conceito de pecado porque andava nu, porque trabalhava só para garantir sua subsistência etc. etc.
Aí começaram os desastres nesta Terra de Santa Cruz. Desacostumados ao trabalho escravo, nossos índios (nossos?) foram morrendo por causa da depressão que ia se instalando em seus sentimentos. A solução foi importar os africanos, que eram mais fortes fisicamente e já estavam acostumados com o trabalho diário. Aos índios, que deixaram de ser interessantes economicamente, só restou a dizimação pelas doenças trazidas pelos seus “libertadores”. E o negro, beneficiado pela lição deixada pelos índios, teve parte de seus direitos conservados pelos seus “donos”, principalmente no tocante aos seus usos e costumes. Com isso então, e só aí, iniciou-se o que seria o cerne cultural de uma nova nação.
Na verdade, a “nação cultural brasileira” esperou muitos anos para dar mostras da sua existência. Estima-se que isso tenha ocorrido pelos idos do fim do século XIX e início do século XX, o que é muito pouco tempo para o surgimento de um sentimento de patriotismo que, ainda hoje, só existe na retórica de meia dúzia de ingênuos e a outro tanto de mal-intencionados. Quando será, não se sabe. Mas um dia o Brasil será descoberto de verdade e um povo moreno saberá, mesmo com toda tendência de globalização cultural que nos ronda sorrateiramente, resgatar a pilhagem que foi e continua sendo imposta a esse país maravilhoso. Enquanto isso não acontece, vamos aproveitando o feriado prolongado da semana e torcer para que o prejuízo causado pela paralisação da produção nesses dias não seja tão nocivo para a economia do povo brasileiro.