A Revolução Redentora

06/12/2021

Cara Eminência, que nesse momento está lendo essa coluna, em primeiro lugar, muito obrigado. Em segundo lugar tenha paciência pois estamos historiando rapidamente o que nos parece mais relevante na história político-econômica do Brasil para que possamos nos apresentar a você e, principalmente, poder chegar ao governo atual e oferecer à você nossos estudos para que a Eminência possa fazer ‘sua crítica roedora’. Apesar das pessoas discutirem muito o Regime de Exceção de 1964, ainda é muito cedo para que haja, se é que um dia vai haver, uma explicação definitiva para a ditadura de 64. Para termos uma ideia da proximidade dos acontecimentos dos anos 60, vamos falar um pouco de Mao Zedong (conhecido erradamente no Brasil como Mao Tsetung). Sim, o Mao da China, que como sabemos, matou, no mínimo 40 milhões de pessoas de fome em apenas 4 anos. Mesmo assim, o facínora tem quem o defenda. Pois bem, o referido ditador, pelo menos na minha visão, quando perguntado nos anos 1960 sobre o que ele achava da Revolução Burguesa da França de 1789, ele teria

respondido que era muito cedo para falar sobre um acontecimento do século XVII. Imaginemos o quão cedo é para falarmos sobre 1964, mesmo assim vamos tentar. É uma obrigação do nosso ofício. Sempre lembrando que existem, embora não pareçam, várias explicações para a ditadura militar do século XX no Brasil.

Em primeiro lugar temos a visão mais simplista, e que agrada a quase todos: a esquerda, por achar que fez papel de heroína ao lutar contra as injustiças e ‘os anos de chumbo’ que duraram de 68 a 78. A direita acredita que lutou bravamente contra os comunistas, o populismo e a corrupção. Para ambos os lados foi uma luta do capitalismo X comunismo. Eis uma visão, que como foi dita, é uma narrativa difícil de ser combatida. No livro ‘Os novos inconfidentes: Os Senhores das Gerais’, a historiadora Maria Starling afirma, com todas as letras e muita pesquisa, por ser sua tese de doutorado, que a fábula que conta que os militares deram um golpe em 64 para combater o comunismo não fica em pé depois de uma ampla pesquisa metodológica, então o que queriam os militares Goubery do Couto e Silva, Humberto Castelo Branco e o civil Cláudio Aragão Villar, que são os artífices da derrubada de João Goulart e consequentemente, principalmente Goubery que governou o Brasil por 21 anos por trás dos presidentes militares. O que eles pretendiam, e foram exitosos, nos seus intentos era tomar o poder dos civis (de direita e de esquerda) e impor ao Brasil os duros remédios do receituário liberal dos EUA e preparar o país para duas coisas: a primeira um grande crescimento econômico aliado a uma maciça industrialização (daí o Milagre Econômico) que deu um crescimento anual de 13%. A segunda também bem-sucedida foi, e será para sempre, o atrelamento da economia brasileira ao progresso econômico ocidental. Devemos entender por isso a ligação do Brasil à economia dos EUA.

Muito bem, é claro que a esquerda era contra isso, mas o que nos importa é que parte da direita também era, pois, esse grupo ganhava dinheiro com a importação de produtos industrializados para vender internamente no país. Essas pessoas estavam dentro do partido chamado UDN. Por isso, os militares enganaram a própria direita conservadora escondendo o real objetivo do "Golpe", uma vez que alguns empresários e a tradicional família mineira seriam contrários a uma tomada do poder pelos militares para executar uma administração que desenvolveria o país, e ao mesmo tempo, deixaria os empresários fora do poder político e econômico.

Assim podemos entender por que após a revolução redentora, os militares cassaram a esquerda, o que é óbvio, e também a direita que apoiou os atos militares e até mesmo financiou a revolução. Desta maneira Carlos Lacerda, o grande jornalista conhecido como ‘boca da UDN’, aquele partido também conhecido como ‘banda de música’ foi um dos primeiros a ter seus direitos políticos cassados. Como se vê, os militares, sabedores que não teriam apoio para um golpe que mudasse a economia do Brasil criaram a fábula da necessidade de combater o comunismo e que em 2 anos depois de sanada a corrupção e afastado do poder e das eleições os políticos populistas o Brasil livre de suas mazelas seria devolvido para a direita. Quem acreditou nesta ‘fake news’ histórica teve que esperar 21 anos para reaver o Brasil em suas mãos.

 

Autor: Egydio Neves Neto