A vida na velha Três Lagoas

15/04/2024

Américo Perin

 

Bem, como último capítulo da saga do caminhão do pistoleiro Camisa de Couro, hoje vou falar um pouco do Abel, segurança pessoal que a Camargo Correa destacou para “cuidar” do Sr. Sebastião Franco, gerente administrativo da Obra de Jupiá, em Três Lagoas, hoje MS.

Logo em seguida à contratação do Abel, o Camisa “deu sossego” e, por coincidência, levou um “descarrego” de três Colts 45.

Esse Abel levava a profissão muito a sério. Até nos fins de semana ficava plantado na varanda da casa do Sr. Sebastião. E de uniforme! Claro que na cintura sempre carregava seu fiel velho amigo, “o 45” ...

Sujeito caladão, próximo dos 2 metros de altura e forte como uma mula. Sua esposa, que acabou trabalhando na casa dos Franco de Moraes, certa vez contou para Dona Noêmia que conheceu o marido quando ele e a parte do bando do Lampião fugiam, descendo o Rio São Francisco, dos volantes que os perseguiam após o ataque final que acabou com Lampião e o bando todo.

E assim, aos poucos, fomos conhecendo o grandalhão. Na primeira noite em que sua esposa se juntou aos fugitivos, toda turma dormiu numa grota, perto de Petrolina, Pernambuco. Sua esposa sentou na esteira para ir ao “banheiro”, e imediatamente viu-se de frente com dois Colts já engatilhados... Não era para menos, a situação assim o exigia.

Para se entender melhor, o escritório da Camargo, feito de madeira, como a maioria dos prédios construídos em função das obras da barragem, tinha do lado de fora uma cobertura que dava para o pátio das oficinas que faziam as manutenções mecânicas, elétricas etc. Uma “calçada” também de madeira compunha o cenário.

Nos dias de pagamento os peões, em fila, iam passando por ali – do lado de fora – e cada um recebia seu envelope com o pagamento do mês. Vez ou outra, um deles “demorava um pouco mais” parado em frente à janela e o Sr. Sebastião abria a gaveta grande da escrivaninha, fazendo seu Colt cano longo vir rodando lá do fundo. Rapidamente a mensagem era entendida e o peão já dava lugar para o colega que vinha atrás.

Quando o Abel foi contratado, seu posto nesses dias era ficar do lado de fora da janela, com os braços apoiados sobre o peito. Sim, isso mesmo, o que reforça a imagem do seu tamanho... Ele ficava nessa posição, calado e com o olhar perdido no horizonte. Se alguém resolvesse demorar mais um pouco na frente da janela, o Abel dava uma pigarreada de levezinho e a fila andava...

Certa ocasião, ele, que estava sempre por perto, ouviu meus comentários sobre o cavalo que sempre “sobrava para mim”. É que, nos fins de semana, eu, o Paulinho (filho mais novo da família) e nosso amigo Toninho cavalgávamos o dia inteiro. Meu cavalo não aceitava sela nem freio. Na ida, o danado era o último da fila, mas, na volta, era o primeiro.

Com essas e outras, ele sempre se divertia tentando me derrubar. Nunca conseguiu, mas tentava. Em dado momento, o Abel pediu licença, “licença Seubastião”. E se ofereceu para conhecer o tal animal. Montou e o cavalo nem se mexeu! O Abel, com os pés quase alcançando o chão, provocou o cavalo de todas as formas e nada do animal se mexer. Tenho que reconhecer que a, partir desse dia, aquela montaria mudou completamente sua forma de me tratar. Numa outra ocasião, também em fim de semana, conversávamos na varanda sobre um “problema” que o Paulinho foi arranjar com um namoro contrário à vontade da família da moça. Família muito conhecida por resolver seus “casos” da forma bem peculiar, naqueles tempos, naquela região. O Abel pediu licença para o “Seubastião” para dar uma saída rápida. Claro que a permissão foi dada, era domingo! Quando o gigante voltou, e isso não demorou muito, ainda o assunto era achar a solução para o problema do Paulinho. Foi quando o Abel mais uma vez pediu permissão e perguntou: “Seubastião”, “esse um que tão falano num é aquele que tá caído no chão ali na esquina?”

Hoje, se um motoqueiro nos mostra um dedo, a gente no máximo fala um palavrão que ele nem escuta. Falta educação, não acham?

 

 

Música?

 

Mirella Vitória Gonçalves

(Trompetista da Orquestra Jovem de Sertãozinho)

 

A música... Para mim, é uma forma de expressar meus sentimentos ou angústias, a música pra mim é um refúgio do mundo... Um refúgio... E que refúgio meus amigos!

A música é a arte mais direta, ela entra no ouvido, vai para o coração e manifesta-se na alma. Sou a prova de que música tem o poder da cura, ela tem a capacidade de puxar as pessoas para fora de si por algumas horas. Para algumas pessoas, não é tão importante, mas, a partir do momento em que você coloca em sua vida diariamente, ela conforta, tranquiliza, inspira, relaxa, anima... E mais, muito mais...

Um músico não tem que ser o que toca algum instrumento, mas aquele que... Através de um instrumento, toca a alma das pessoas...

A música me traz a calma que o mundo tira...

A música é um território sem nenhum dano...

Ouvir música boa é tão gostoso quanto um amor correspondido...

Sentir a vibração de uma música é o melhor alimento para a alma...

A música tem a capacidade de decifrar notas e mais profundas emoções, tem que ter o amor para poder sentir, precisa sentir para ouvir o que o coração tem para dizer.

Olha que hoje nem é dia do músico, né? Mas não precisa ter um dia exatamente específico para falar da música, e o que ela pode fazer na vida das pessoas.

Deixe a música falar mais alto que seus problemas...

 

O texto acima foi escrito por uma jovenzinha de apenas 16 anos de idade. São coisas assim que me dão orgulho e força para continuar.

 (Américo Perin – Maestro)