Aconteceu entre 1643 e 2024
Américo Perin
AULA DE POLÍTICA
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault:
Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…
Mazarino: - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: - Criando outros.
Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: - Sim, é impossível.
Colbert: - E sobre os ricos?
Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: - Então, como faremos?
Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!
OS PORTUGUESES DE NASSAU:
Disse um ordenança de Maurício de Nassau a seus assessores, durante a ocupação holandesa: “Convém que Vossas Senhorias procurem enganar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses particularmente dispostos e dedicados para com Vossas Senhorias, dos quais possam vir a saber em segredo os preparativos do inimigo (...) Esses portugueses devem ser os
mais importantes e honrados da terra e lhes será recomendado que, exteriormente, se mostrem como se fossem dos mais desafetos aos holandeses”.
TRAIDOR PREMIADO
Os cofres públicos já foram também usados para premiar delatores. Um exemplo é Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou a Inconfidência Mineira em 1792. Ele era conhecido como mau pagador em Ouro Preto, estava cheio de dívidas, e depois da delação ficou tão malvisto que temia ser assassinado. O governo resolveu o problema dele mandando-o para uma fazenda no Piauí que recebera de graça. Presente governamental.
LIMPANDO COFRES
O Banco do Brasil foi fundado e refundado várias vezes. A primeira delas foi em 1808, por Dom João VI, depois de sua chegada ao Rio de Janeiro, fugindo das tropas de Napoleão que invadiram Portugal. Ao voltar para Portugal, em 1821, Dom João VI pegou todo o dinheiro depositado no banco. Levou tudo!
O MINISTRO QUE NÃO ROUBAVA
Em 1831, depois que Dom Pedro I abdicou em favor do seu filho, o imperador seguiu para a Europa no navio Warspite. Com ele, o fiel Marquês de Paranaguá, antigo ministro da Guerra. Paranaguá estava apreensivo, pois teria que viver com uma pequena aposentadoria em Portugal. Não fizera fortuna no governo. A bordo, ele recorreu a Dom Pedro em busca de uma solução para seu problema e ouviu o seguinte do ex-imperador: “Faça o que quiser, não é da minha conta. Por que não roubou, como Barbacena?”. Este, no caso, era o ex-ministro da Fazenda, o Visconde de Barbacena.
OS SANTOS DO PAU OCO
Até a Igreja esteve envolvida no envio de ouro para a Europa no século VIII, sem pagar tributos à Coroa Portuguesa. Quem não queria pagar os impostos colocava ouro e pedras preciosas dentro de imagens religiosas ao passar pelas vistorias. O método utilizado até por padres gerou a expressão “santo do pau oco”, para designar algo que não é o que parece.
SUBORNO EM ITAIPU
Segundo a revista americana Times numa edição de 1981, empresas europeias deram 140 milhões de dólares em propinas e suborno para autoridades brasileiras, de modo a pegarem uma fatia da construção da Usina de Itaipu.
COMILÕES
Em 1981, quando Eurico Resende governava o Estado do Espírito Santo, em apenas três meses as compras de carne para o Palácio atingiram 5,8 toneladas. Mas foram comprados, também, 850 frangos. Fazendo as contas, sua família teria comido 72 quilos de carne e nove frangos por dia. Mas o governo justificou: além das famílias, havia também os servidores que comiam lá. Haja servidores...
ESCÂNDALO DA MANDIOCA
Na pequena cidade de Floresta, em Pernambuco, a agência do Banco do Brasil fazia empréstimos a pessoas influentes do Estado, supostamente para plantarem mandioca. Mas essas pessoas nunca pagavam o empréstimo. Alegavam que a seca destruía o plantio – que nunca havia sido feito – e o prejuízo era coberto pelo Seguro Agrícola. Em 1981, quando se descobriu a mutreta, calculava-se que o valor dos “empréstimos” chegara a 700 milhões de dólares! Pedro Jorge de Melo e Silva, procurador da República, encarregado de apurar o caso, foi morto no ano seguinte. Entre os acusados pelo assassinato, foi preso e condenado o major da Polícia Militar José Ferreira dos Anjos, que fugiu da cadeia e só foi recapturado em 1996. O processo do desvio do dinheiro, até onde se sabe, nunca foi concluído.
Dando um pequeno salto no tempo, surgiu um juiz, lá no Paraná, Sergio Fernando Moro, nascido em 1 de agosto de 1972, em Maringá. Pois não é que o Dr. Fernando se meteu numa confusão com os “supremos” do nosso Supremo e...
E você aí, ainda está decepcionado com Dom João e os cofres do Banco do Brasil?...
Pois, então, meus amigos, dando continuidade ao nosso modo de ser, conclamo-os a formarem alguns blocos e saírem pra rua. Afinal, o Carnaval de 2024 está chegando!!!!!!!