Afeganistão
Olá Eminência, sei que prometi escrever sobre o comunismo, mas os acontecimentos no Afeganistão estão chamando atenção de todas as pessoas, muitas delas extremamente preocupadas com as cenas de violência mas, sobretudo, as mulheres tem prestado atenção aos eventos pois, infelizmente, a ortodoxia dos talibãs é, ao meu ver, um mal exemplo para os machistas de todo o mundo, ainda mais pelo fato de estarmos passando por uma onda conservadora em todo o planeta e pessoas começam a enxergar nesses religiosos pontos em comum como, por exemplo, o ódio aos homoafetivos.
É preciso lembrar que a algumas colunas atrás escrevemos sobre as guerras do Oriente Médio, e como se sabe estes assuntos estão ligados, pois para os talibãs há uma guerra entre o Ocidente (judaico-cristão, que somos nós) e o Oriente Médio (os muçulmanos). Para eles os soldados ocidentais, ao pisarem o solo sagrado do Islão, estão profanando a cultura e a religiosidade muçulmana. Não é difícil perceber que quando eles controlam os mares a sua economia prospera e quando nós controlamos os mares é a nossa economia que cresce e, ao fazê-lo, coloca em risco toda a cultura maometana, portanto para eles é muito importante manter territórios dedicados a Alah (é a tradução do nome de Deus para a língua árabe). Quanto a Deus, as três religiões: cristã, judaica e islâmica acreditam no mesmo Deus. Desse modo , em 1204 a quarta cruzada cristã tomou o mar Mediterrâneo, começou a expansão capitalista e judaico-cristã sobre o Islão. Posteriormente, na Primeira Grande Guerra os islâmicos sofreram mais uma derrota que pôs fim ao Império Turco Otomano criando, a partir daí, nesta região, vários países que até hoje sofrem influência das potências europeias e dos EUA e ainda sofrem o assédio da economia chinesa. Evidentemente esses povos que se ligam pela religiosidade islâmica nos veem como inimigos da sua fé e do seu estilo de vida. É preciso olhar a questão do Afeganistão nesse contexto e com ‘sangue frio’ para não cometermos preconceitos e má vontade para com a comunidade maometana. Os muçulmanos, iguais a nós, dividem-se em várias ‘seitas religiosas’ e brigam mais entre si do que com o Ocidente, ainda que nos pareça o contrário.
Em 1979 duas revoluções no Oriente Médio passaram a desejar a expansão do islamismo. De um lado o Iraque de Saddam Hussein com a sua religiosidade islâmica sunita e do outro lado, no Irã, o aiatolá Khomeini com a sua religiosidade
islâmica xiita. Desde essa época países árabes e o persa Irã estimulam grupos religiosos e armados que defendem a religiosidade islâmica ortodoxa com ‘sangue no olhos’, além disso os EUA, os países europeus, a Rússia e também a China vivem se intrometendo nas questões internas desses países e muitas vezes cometendo arbitrariedades e injustiças, que aumentam o ódio desses países contra o Ocidente, por isso, repito, é preciso ter neutralidade nessa questão pois há muita injustiça cometida pelas grandes potências contra esses
povos como, por exemplo, estimular guerras entre as várias facções religiosas para vender armas para eles ou conseguir petróleo a um preço mais vantajoso. Logo não se preocupe se você não consegue entender rapidamente o que ocorre
nesses conflitos, pois o assunto é obviamente complexo e exige um estudo global da história humana e a CIA dos EUA comete erros absurdos de interpretação que levam à morte de soldados americanos e, muitas vezes, de
crianças islâmicas, o que, como você sabe, aumenta a vontade de lutar contra as injustiças dos cristãos. É o caso dos talibãs (palavra que significa estudantes do Al Corão). Os EUA financiaram garotos afegãos para lutarem contra a invasão ao Afeganistão realizada pelos soviéticos. São esses jovens financiados pelos EUA que agora expulsaram os militares americanos, pois para eles não se trata de lutar contra o comunismo ou o capitalismo, o que eles querem é uma república religiosa, não gostam do comunismo por causa do ateísmo e não gostam do capitalismo por várias razões, como por exemplo: consumismo, cigarro, bebida e prostituição das mulheres.
Os talibãs, na sua ortodoxia corânica, não aceitam que as mulheres frequentem escolas, sejam empresárias ou, até mesmo, coisas simples como dirigir um carro ou sair sozinha de casa para passear, isso gera represália e duros castigos. É nesse ponto que as mulheres ocidentais precisam se unir, discutir essas questões, pois os talibãs estão ligados a várias redes terroristas que não querem apenas libertar o ‘solo sagrado do Islão’ do que é para eles o ataque cristão judaico, mas impor a todo o planeta o jeito religioso do talibã. Este é, para os ocidentais, o maior dilema: que tipo de cultura religiosa queremos?
Autor: Egydio Neves Neto