Afinal, o que é o autismo?
A maioria da população sabe que este transtorno existe e, no mínimo, já ouviu falar algo sobre esse assunto. No entanto, muitas vezes, as explicações conhecidas sobre ele são limitantes, como: “são aquelas crianças que vivem no mundinho delas”, “crianças que são isoladas e se balançam” ou, ainda, “crianças que gritam e gostam de coisas que rodam”. Estes estereótipos interferem não só nas informações, mas também na oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que muito podem nos ensinar com seu jeito diferente de ver, ouvir e sentir o mundo.
O TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) é um Transtorno do Desenvolvimento compreendido como uma condição permanente que se manifesta antes dos 3 anos de idade. Caracteriza-se por um conjunto de sintomas que afeta as áreas da socialização, comunicação e do comportamento e, dentre elas, a mais comprometida é a interação social (SILVA; GAIATO; REVELES, 2012).
O termo “espectro”, que compõe o nome dado ao transtorno, indica que os prejuízos transitam entre as três principais áreas acometidas, mas nem sempre todas essas dificuldades aparecem juntas. Há pessoas com comprometimentos sociais, mas sem problemas comportamentais, e há casos de disfunções comportamentais sem atraso de linguagem, por exemplo. Desta forma, entende-se que as manifestações ocorrem sob diversas formas e, por isso, é equivocado generalizar as características, visto que todas as pessoas são únicas, independente do diagnóstico.
Com relação ao diagnóstico, este é essencialmente clínico, realizado por meio de observação direta do comportamento do paciente e de entrevistas com os pais ou cuidadores. Em nosso país, o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), publicado em 2013, estabelece alguns critérios que precisam ser preenchidos para um possível diagnóstico, como:
- Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes: déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para a interação social; falta de reciprocidade social; incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade apropriados para o estágio do desenvolvimento.
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos duas das maneiras a seguir: comportamentos motores ou verbais estereotipados ou comportamentos sensoriais incomuns; excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento; interesses restritos, fixos e intensos.
- Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades.
É muito importante estar atento às crianças, para, a partir das observações, reconhecer se o desenvolvimento delas está dentro do esperado para a idade. Isso facilita o diagnóstico precoce, que norteia as principais intervenções que contribuirão para seu desenvolvimento e para a família como um todo.
Existem inúmeros tratamentos para quem é diagnosticado com TEA. Estes envolvem, a depender de cada caso, as áreas da saúde como psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicopedagogia. O trabalho multidisciplinar é fundamental para suprir os prejuízos observados em determinadas áreas e também ampliar as habilidades já adquiridas pela criança.
Sinais de alerta para buscar ajuda profissional:
Criança com pouco ou nenhum contato visual; atraso na fala ou repertório muito abaixo do esperado para a idade; "não escutar" quando é chamada; ecolalia (repetir mecanicamente palavras ou frases que ouve sem contextualização); alimentação seletiva; apego a rotinas; movimentos repetitivos; brincadeiras pouco funcionais ou usuais; pouca ou nenhuma socialização.
Deixamos aqui alguns recados:
Aos pais, amem incondicionalmente seus filhos, sejam eles diagnosticados ou não com autismo. Sejam colo e suporte. Brinquem, eduquem, levem aos profissionais de que eles precisarem, alimentem, olhem para eles como eles realmente são e para suas infinitas qualidades, independente do diagnóstico. É importante respeitar e estimular as habilidades que precisam ser trabalhadas, assim como a habilidade que eles têm de amar e ser amados.
Aos responsáveis de crianças autistas, a ideia não é romantizar sua luta, não é fácil. Há muitas barreiras na sociedade que não facilitam. O seu trabalho é o de cuidar e ser suporte para contribuir com a possibilidade de desenvolvimento e isso você já está fazendo. Cada vez que acolhe seu filho ou sua filha, você derruba um tijolo do muro que a sociedade ainda possui. Você que cuida, seja mãe, pai, avó ou avô, você faz a diferença!
Aos profissionais, nenhum estudo, curso, aprimoramento são válidos quando não há o acolhimento da criança e de sua família em sua totalidade, respeitando suas singularidades e capacidades. Somos a voz que possibilita que a criança encontre em sua casa um ambiente que a receba e a ajude a se desenvolver.
A você que leu até aqui, seja acolhedor e nunca julgador! A sociedade precisa incluir as pessoas autistas de forma genuína e deve se adaptar a elas. Fica aqui nosso convite para que possamos refletir sobre como contribuir e incluir.
Referências:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.
SILVA, A. B. B.; GAIATO M. B.; REVELES L. T. Mundo singular: Entenda o Autismo. Fontanar. 2012.
Isabela Carolina Pinheiro - CRP 06/161284
Fernanda Almeida Fernandes - CRP 06/142845