Aleijando ou viciando cidadãos

27/03/2023

Nosso saudoso Luiz Gonzaga e seu parceiro Zé Dantas, numa de suas composições, em 1953, diziam: “doutô, uma esmola a um homem qui é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão” Pois é. Numa viagem a Portugal, alugamos um carro e, com ele, fomos, ida e volta, à Espanha. Tudo completamente diferente do que estamos acostumados a ver por aqui. Estradas sem movimento, nada de indústrias à mostra e à vista, e uma agricultura formada de poucas oliveiras já muito antigas.

Intrigado, na volta a Portugal, o dono de um restaurante, muito simpático e bastante falador, deu-me a oportunidade para que lhe perguntasse como se sustentava a economia do país. E a resposta foi rápida: indústria de confecções têxteis. Ora... Portugal, sem dúvida, não é dos países mais fortes economicamente comparando-o com o resto da Europa. Mas quando a comparação é feita com o Brasil...

Continuei a pensar nesse assunto e, inevitavelmente, nosso Nordeste se tornou o foco principal da cisma. Ora “pois, pois”, se cá, no Nordeste, temos grandes quantidades de terras que não ajudam a agropecuária, por que não pensamos em trocar o sistema de “bolsas-auxílio” pelo incentivo, por exemplo, ao cooperativismo? Esse dinheiro todo gasto nas bolsas, se investido na criação de uma indústria têxtil, por exemplo, nem que incipiente no começo, mas que já servisse de início para a formação de uma mão de obra especializada no ramo? O sistema “S” de educação poderia participar com muita produtividade da ideia.

Transpor água de uma região para outra não é simplesmente necessário, é vital! Mas o custo dessa operação também é bastante grande... Jogando mais um pouco de pensamentos ao ar, lembrei-me que, na época do Brasil Colônia, e depois também no Império, por conta da cana-de-açúcar, o Norte e o Nordeste brasileiros eram regiões até mais ricas do que o Sudeste e o Sul!!!! Estradas de ferro e navios aliados às rodovias ligando o resto do Brasil àquelas regiões, transportando matéria-prima e produtos manufaturados na ida e na volta... Mais empregos na logística também, mais pessoas ganhando e consumindo...

Óbvio que a consequência de criar uma melhor situação econômica a essas nossas regiões seriam melhor saúde pública, melhores escolas e eleitores críticos, o que, para muita gente de lá mesmo, não seria nada confortável. Pois é, “seu dotô”... Pensando bem, com tantos países vizinhos precisando do nosso dinheiro a fundo perdido...