ALERTA - Carnaval é 'coquetel explosivo' para espalhar Zika, alertam infectologistas

25/01/2016

A passagem de milhares de turistas por capitais com tradicionais carnavais de rua em Estados com alto número de casos de bebês nascidos com microcefalia e suspeita de ligação com o Zika Vírus pode representar um "coquetel explosivo" e ajudar a espalhar ainda mais a doença pelo país, alerta a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Até o momento há mais de 3.530 casos de microcefalia relacionados ao Zika em 21 Estados.

Para os especialistas, o Carnaval reúne fatores de risco preocupantes para o aumento da transmissão do Zika, num momento em que a epidemia ainda se encontra em curva de ascensão no Brasil.

O alerta se soma a um comunicado da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, escritório regional nas Américas da Organização Mundial da Saúde), que na segunda-feira relatou aumento de casos da síndrome de Guillain Barré em países com epidemias de Zika. Em julho de 2015, 42 pessoas foram confirmadas com a doença, que causa problemas neurológicos, na Bahia.

O "coquetel explosivo" do Carnaval inclui, segundo os infectologistas, as grandes aglomerações de pessoas, em geral com poucas roupas e mais vulneráveis às picadas do Aedes aegypti (mosquito transmissor da Dengue, Chikungunya e Zika), possibilidade de chuvas, maior quantidade de lixo nas ruas e por consequência mais chance de potenciais criadouros do mosquito.

Isso se soma ao maior número de relações sexuais sem proteção e risco de gestações indesejadas justamente nos locais de maior incidência do vírus relacionado à má formação fetal, dentre outras consequências ainda pouco conhecidas.

Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, dos 3.530 casos de microcefalia relacionados ao Zika em todo o país, 1.236 estão em Pernambuco, primeiro Estado a identificar o aumento do problema, onde foi decretado o estado de emergência desde novembro. Em segundo está a Paraíba, com 569 casos, e em terceiro a Bahia, com 450 ocorrências. O Rio de Janeiro fica em 9º lugar, com 122 casos.

Nancy Bellei, coordenadora de virologia clínica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), cita a preocupação com a transmissão sexual devido a um estudo de 2011 que teria documentado como um cientista americano vindo do Senegal, que passava por um surto de Zika, teria transmitido a doença para a mulher, nos Estados Unidos, através do sêmen.

"Ainda precisamos de mais estudos sobre a relevância epidemiológica dessa forma de transmissão, mas até pouco tempo também não sabíamos da ligação entre o Zika e a microcefalia. É uma doença nova, sobre a qual ainda não se sabe muito. Não precisamos esperar para nos protegermos. Não se pode descartar a chance de termos até um aumento de casos de Zika após o Carnaval justamente pelo contato sexual", diz.

Nancy explica que o potencial de propagação do Zika devido ao Carnaval também depende da existência do mosquito nos locais de origem dos turistas.

"Se a pessoa vai para uma capital com grande Carnaval de rua, é picada e infectada pelo Zika e volta para sua cidade, mas lá não há o mosquito, ela vai adoecer, se tratar, e tudo bem. Agora, se o local de origem tiver o Aedes, o mosquito pode picar essa pessoa, receber o vírus e introduzir a doença num local até então livre dela", explica.

Segundo a especialista, o Aedes é encontrado em todos os Estados, mas a região Sul estaria menos vulnerável, por ter clima mais frio e tradicionalmente apresentar menor incidência do mosquito. Mesmo assim, todo o cuidado é necessário. (Com informações da BBC Brasil)