Américo Perin
A Academia Sertanezina de Letras realizou, na quinta-feira, dia 14, a cerimônia de divulgação dos trabalhos elaborados, dos alunos que participaram, dos professores e diretores que os incentivaram e a entrega do Prêmio Arauto de Literatura 2024 aos que foram contemplados nas suas duas modalidades: Prosa e Verso. E que teve por tema COMO VOCÊ VÊ O AMANHÃ.
A emocionante cerimônia foi realizada na sede da ASEL, presidida por Ângela Maria Volpe, e contou com a participação dos acadêmicos que integram a Academia Sertanezina de Letras, autoridades, alunos, amigos e familiares.
A partir desta semana, como incentivo aos nossos jovens escritores, escritoras, poetas e poetisas, publicarei nesta coluna os temas e poesias premiados.
MODALIDADE PROSA
1º lugar – CARTA ABERTA AOS SOBREVIVENTES DO AMANHÃ
Pseudônimo: Lady Luz - Nome: Larissa Nicolussi Domingos - 9º Ano B EMEF Prof. José Negri:
“Em algum lugar do mundo, 12 de junho de 2054.
Aos sobreviventes,
Meu pai sempre me dizia: “O presente é o agora, feito para aproveitar, saborear. O amanhã... Nunca prevemos, só podemos sonhar e somente nossas ações podem fiar a linha do que será”.
Infelizmente, um ponto de costura deu errado, começou a desfiar... Não sabemos quando, necessariamente, mas mortes foram diárias, choros diversos; o medo do amanhã nascia todo dia, antes do Sol, e se deitava conosco ao anoitecer.
Corajoso sobrevivente, não sei quem é você, tão menos em que parte do mundo você se encontra, mas se você estiver lendo essa carta é porque o fim chegou. Um fim causado por nós, do passado, que geramos gigantescas catástrofes por ignorância e poder... Guerras em que um irmão levava a alma no peito e um corpo no enterro, com sangue nas mãos de soldados, os quais sonhavam com a liberdade... Uma terra outrora feliz que agora se enche de luto das almas sem paz. É o mesmo lugar em que uma mãe cantava uma última canção de ninar para um filho que nunca acordará.
E as rezas aos deuses são a única luz nas almas perdidas que esperavam um lar a cada choro sem esperança. E do outro lado, olhos congelados com lágrimas entaladas no coração, com desespero da neve que caía no chão, porém, quem poderia julgar?!
Com o clima mudando, um dia areia nos pulmões e no outro, olhos de vidro... “Segurança” nem nos lares, pois muitos foram inundados por águas de chuvas torrenciais, misturadas às lágrimas dos moradores que, além de seus abrigos, perderam entes queridos.
Leitor desconhecido, sou muito nova, não sei nada da vida... Mas tenho um desejo, ou melhor, uma esperança, a qual brilha toda noite com as estrelas: que todas as mortes não foram em vão, que a próxima geração, a sua geração, se salve e que o que aconteceu em Brumadinho não se torne algo normal; que as sucessivas chuvas no Rio Grande do Sul não sejam apenas fenômenos naturais, que as guerras não sejam vistas como algo banal.
Que todos os dias tenha uma criança rindo de barriga cheia; que famílias possam sentar-se à mesa juntas e cear no Natal; que líderes de todas as nações e religiões possam conviver em paz; que a esperança nasça com o Sol e durma o sonho dos anjos.
Acho que já falei demais, ou melhor, escrevi demais; agora somente quero acreditar que a sua geração, leitor do novo amanhã, faça tudo diferente de nós.
Você, sobrevivente sortudo, que encontrou essa carta, abra os olhos e o coração, compartilhe com os outros a necessidade de não cometerem os mesmos erros da minha geração. E traga, por favor, um AMANHÃ melhor, o qual eu não pude conhecer.”
Parabéns Lady Luz! Alimente esse dom da escrita! Transformar ideias em palavras impressas é uma capacidade que não é dada a todos. Continue, continue e continue!!!!!!!