Câncer de mama: saiba sobre os desafios no pós-tratamento
Saúde emocional e sexualidade estão entre as pautas que ainda precisam ser debatidas entre profissionais da saúde e a sociedade
O câncer de mama, o segundo mais comum entre as mulheres no Brasil (atrás apenas dos tumores de pele não melanoma), tem registrado avanços significativos no tratamento e no aumento das taxas de sobrevivência. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), até 2025, cerca de 74 mil novos casos da doença serão diagnosticados anualmente no país. Mas graças à evolução dos tratamentos oncológicos e à detecção precoce, hoje vivemos o que pode ser considerada a maior geração de sobreviventes do câncer de mama. No entanto, a batalha dessas mulheres não termina com a cura física.
Entre 1980 e 2000, o câncer de mama já era um dos maiores desafios de saúde pública para mulheres no Brasil, com taxas de mortalidade elevadas, especialmente devido ao diagnóstico tardio e ao acesso desigual a tratamentos, particularmente nas regiões Norte e Nordeste. Especificamente na década de 1990, a taxa de mortalidade era de cerca de 9,5 por 100.000 mulheres, mas nas regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste, a mortalidade começou a se estabilizar à medida que o acesso ao diagnóstico precoce melhorava.
“Este fato marcou o início de uma transição que continuou nos anos seguintes, resultando em melhores resultados para pacientes diagnosticados em estágios iniciais da doença”, explica a médica Giovanna Gabriele, mastologista do corpo clínico dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein e chefe de equipe dos hospitais Nove de Julho e São Camilo Pompéia, além de Especialista e Titular pela Sociedade Brasileira de Mastologia (TEMa).
A informação correta é o melhor preventivo
Apesar dos avanços significativos no tratamento e no aumento das taxas de sobrevivência, um desafio persistente é a falta de informação correta sobre os fatores de risco do câncer de mama. Embora a detecção precoce e as inovações oncológicas tenham transformado o panorama da doença, é alarmante constatar que muitas mulheres ainda possuem concepções equivocadas sobre os principais fatores de risco.
Uma pesquisa recente, encomendada pela Pfizer e conduzida pela empresa Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), revelou que sete em cada 10 mulheres no Brasil acreditam, de forma equivocada, que o histórico familiar é o principal fator de risco para a doença. Porém, de acordo com a literatura médica, apenas entre 5% e 10% dos casos têm ligação com fatores hereditários.
A pesquisa, intitulada "Câncer de Mama no Brasil: Desafios e Direitos", entrevistou 1,4 mil mulheres acima de 20 anos em seis capitais brasileiras (São Paulo, Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal). Apenas 32% das participantes reconhecem que o câncer de mama está associado a fatores de risco modificáveis, como o consumo de álcool e o excesso de peso, os quais podem ser influenciados pelo estilo de vida.
A (há!) vida após o câncer
Com a crescente conscientização e a evolução do tratamento, a expectativa de vida após o diagnóstico de câncer de mama aumentou consideravelmente nas últimas três décadas. Nos anos 90, a taxa de mortalidade por câncer de mama era significativamente maior, mas com a detecção precoce e o avanço dos tratamentos, muitas mulheres sobrevivem à doença e continuam suas vidas de maneira plena. Vale destacar que, quando diagnosticado em fase inicial, as chances de cura chegam a 95%.
Contudo, o suporte emocional é essencial para que essas mulheres se sintam preparadas para esse novo capítulo de suas vidas.
Muitas pacientes oncológicas relatam dificuldades em lidar com o período pós-tratamento. “Embora o câncer tenha sido vencido, o impacto emocional permanece. É comum que se sintam perdidas, sem saber como retomar suas vidas de forma plena. Por isso, o suporte emocional e psicológico são fundamentais para a recuperação total,” destaca a médica.
Kelly Pinheiro, jornalista e empresária, é um exemplo inspirador de alguém que enfrentou o câncer de mama e emergiu ainda mais forte. Paciente da dra. Giovanna Gabriele, ela não apenas venceu a doença, mas transformou essa experiência em uma oportunidade para compartilhar sua jornada, inspirando outras mulheres a enfrentar o câncer com coragem e determinação.
"Tive o apoio de familiares, amigos e profissionais extremamente atenciosos. Sei que com o suporte adequado e a determinação, é possível não apenas sobreviver ao câncer de mama, mas também construir uma vida plena e significativa após a doença. Hoje, utilizo tudo o que me fortaleceu para ajudar outras mulheres a encontrarem sua própria força", compartilha Kelly.
Também precisamos falar sobre sexo
Embora o câncer de mama seja uma das doenças mais debatidas na atualidade, a sexualidade após o tratamento ainda é um tabu. Muitas mulheres enfrentam dificuldades em retomar a vida sexual, especialmente aquelas que passaram por cirurgias de mastectomia (remoção parcial ou total da mama) ou tratamento hormonal, enfrentando os efeitos de uma menopausa (quando induzida), fadiga, depressão, baixa libido, estresse e ansiedade.
“A sexualidade faz parte da identidade feminina e é fundamental que as pacientes se sintam confiantes para retomar essa parte. Elas podem levar uma vida maravilhosa, mas algumas coisas não serão mais como antes, por isso questionamentos como 'será que sou menos mulher?’ são comuns no consultório”, complementa a médica. Com o avanço das técnicas de reconstrução mamária e o desenvolvimento de tratamentos menos invasivos, o impacto físico da doença tem sido reduzido, permitindo que as mulheres voltem a se sentir confortáveis com seus corpos.
Além disso, há um alarmante fenômeno social: 7 em cada 10 mulheres são abandonadas pelos parceiros durante ou após o tratamento. “Novamente é necessário reforçar a importância do suporte multidisciplinar, que inclui assistência psicológica e familiar. Nosso trabalho não termina na cura física. Precisamos cuidar dessas mulheres como um todo, resgatando sua autoestima e confiança”, reforça a mastologista.
Para finalizar, a dra. Giovanna Gabriele destaca a importância do Outubro Rosa para a conscientização sobre o câncer de mama, período em que a mídia, médicos e influenciadores se dedicam ao tema. “Essas ações são muito importantes pois têm o poder de salvar vidas, apoiando com informações responsáveis e incentivando mulheres a procurarem um médico mastologista para a realização de exames periódicos. Mas não podemos ser somente alarmistas, precisamos e devemos desassociar o câncer à sentença de morte. Há uma vida incrível após o diagnóstico!”, finaliza a especialista.
Sobre a Dra. Giovanna Gabriele:
A Dra. Giovanna Gabriele é mastologista especialista em cirurgia oncológica, reparadora e estética, com experiência em aconselhamento genético. Ela desempenha um papel ativo na Comissão de Genética e Alto Risco da Sociedade Brasileira de Mastologia e é médica mastologista no corpo clínico de hospitais em São Paulo, incluindo o Sírio-Libanês, Nove de Julho e São Camilo Pompéia.
Informações para imprensa: Mclair Comunicação