Américo Perin

18/11/2024

Repentinamente surgem assuntos que nos emocionam com doçura e afetividade... bate-papo com uma pessoa que nos adoça a alma!

Estamos quase velhos, temos o direito de lembrar!!!!

Ela nasceu no Distrito de Santa Clara, pertencente à Vila Prudente, onde na época as ruas eram de terra e misturavam-se às colônias italiana, alemã, lituana, russa... vizinhos dali, na Vila Zelina, moravam os polacos e onde até hoje acontece a Feira Cultural. Como a grande maioria de todos nós - graças a Deus não tínhamos celulares - foi criada ouvindo os mais velhos.

Eu nasci no Ipiranga, onde as coisas não eram diferentes, talvez até pela proximidade geográfica. Naquele tempo comprávamos na venda, nos açougues... quitandas quase não existiam, pois, os quintais eram grandes e ali tínhamos hortas e pomares.

Na venda, divididos pelo balcão e uma cortina de doces pendurados – maria-mole, doce de batata, de abóbora - de um lado ficavam os “pinguços” e do outro os que iam comprar pão embrulhado num papel comum, óleo engarrafado na hora etc. Arroz e feijão ficavam expostos em sacos de boca aberta, onde por cima dormiam os gatos que, à noite, se alimentavam dos ratos.

Criamo-nos convivendo com os mais velhos, ouvindo e aprendendo com suas histórias/estórias as “coisas da sabedoria!”

No Ipiranga daqueles anos, ainda se via aqui e ali um carro de bois com sua cantilena característica. As carroças que entregavam o leite na porta das casas, entregues em um litro de vidro mal fechado, apenas com uma rolha e sempre devolvido para, no dia seguinte, voltarem

com leite novo (sabe-se lá como e com que esses litros eram lavados...). No açougue, comprávamos a carne que ele pegava da prateleira de trás e a jogava com força no balcão, e dali tirava a quantia de quilos que nossas mães nos mandavam levar.

Tudo era pago no fim do mês. Existia uma caderneta onde com certos sinais, feitos à lápis - raramente o comerciante sabia escrever – era registrado o valor das compras.

O rio Tietê, onde pescávamos sempre abastecia nossos almoços com carás, bagres, carpas e as temidas traíras... E não se pescava de rede. Usávamos uma vara de taquara, linha, anzol e minhoca como isca. Um lanche de pão e mortadela que era engolido junto com a água do próprio rio, direto, com as mãos mal lavadas e cheirando minhoca que partíamos em pedaços com os dedos.

Não morremos pelos costumes e estilo de vida da época. Criamos resistência e imunidade. E o principal: aprendemos “respeitar os mais velhos!”

Obrigado AVFAB – Associação de todos Veteranos da Força Aérea Brasileira, pois a cada semana conheço melhor cada Veterano. Boa semana a todos e a minha melhor continência à Senhora Tenente Coronel Cybele, que hoje, aposentada do quadro de saúde da FAB, eu posso chamar simplesmente de você, minha amiga.