CRISE SEM FIM - CAMAQ demite funcionários e encerra definitivamente atividade industrial
Fernando Laurenti
A empresa CAMAQ se especializou na produção de equipamentos para os setores de gás, óleo e mineração, qualificando seus funcionários no padrão Petrobras, fazendo com que projetos de grande porte pudessem ser realizados pela fábrica sertanezina em várias regiões do Brasil.
Nos anos de 2014 para 2015, a CAMAQ entregou dentro do prazo estipulado pela Odebrecht o último equipamento, o último contrato. Depois disso, mais nenhum projeto foi contratado pelas grandes empreiteiras do país e nem pela Petrobras, que acabou se envolvendo num esquema de corrupção, dificultando parcerias de várias empresas, incluindo a CAMAQ, que acabou sentindo os efeitos negativos dessa situação.
A crise política, prisão de empreiteiros, crise financeira e o envolvimento de executivos dessas grandes empresas nos esquemas de corrupção trouxeram sérios problemas para as indústrias do país. Para a CAMAQ ainda mais pelo fato de estar diretamente ligada ao setor, que virou a bola da vez no cenário político e jurídico do país. Os processos “Mensalão” “Petrolão” e Lava Jato desencadearam uma quebradeira dos parceiros das grandes empreiteiras. Quebraram empresas de projetos e fornecedores de equipamentos para a Petrobras, empresas espalhadas por todo Brasil.
A CAMAQ não é a primeira e pelo visto não será a última a paralisar suas atividades, Em conversa com o presidente do Grupo CAMAQ, Adésio José Marques, disse-nos que o Departamento Comercial continua trabalhando no intuito de conseguir fechar algum projeto.
Se conseguir - e se os empresários tiverem motivação - pode ser que a fábrica da CAMAQ volte a produzir. E, se isso acontecer, funcionários poderão ser recontratados.
A reportagem do Jornal Agora ouviu o empresário e presidente do Grupo CAMAQ e ex-presidente do CEISE Br, Adésio José Marques.
JÁ - O que foi que aconteceu com a CAMAQ ?
“Todo mundo está vendo a crise que estamos passando. Nós nos especializamos nos setores mais ricos do mundo, que são petróleo, gás e mineração. Só que o país está parado e as grandes empreiteiras que pegam os projetos do governo e da Petrobras estão com sérios problemas. Enquanto elas não se movimentam, nós, os menores que fabricávamos para estas grandes empresas, ficamos sem assinar nenhum contrato, estamos sem serviço desde março do ano passado quando entregamos o último projeto em Recife”.
JA - E o acerto trabalhista dos mais de 200 funcionários que foram demitidos ?
“Nós tínhamos 430 trabalhadores no mês de março do ano passado. De março de 2015 a março deste ano demitimos em torno de 500 funcionários, aliás, as demissões deveriam ter sido feitas todas em março do ano passado. A fábrica ficou o segundo semestre inteiro ociosa, mas acreditando que a coisa iria melhorar e acreditando no Brasil fui segurando e aí foi virando um bola de neve. Talvez tenha sido aí o meu erro. Começando atrasar pagamentos, chegando a um ponto que não dá mais. Entendi que liberando todo mundo, eles podem receber FGTS e o seguro desemprego e aguardarem os acertos trabalhistas. Vamos parcelar para os trabalhadores, mas uma coisa é certa: todos de direito vão receber. Só quero dizer que a CAMAQ não quebrou, temos dinheiro para receber dos serviços que fizemos e até pedimos ajuda do jurídico do Sindicato com a maior humildade para nos ajudar a receber os serviços que já entregamos e não recebemos”.
JA - Qual a possibilidade de uma retomada. Ou não tem volta, está mesmo fechada?
“De momento está fechada e não sabemos se voltaremos ou não. Meu pessoal do Departamento Comercial está trabalhando e tentando vender. Se conseguirmos - e se for viável - pode ser que voltaremos. Se não der, fica fechada, inclusive com possibilidade de vender a fábrica para outros grupos. Precisamos ter motivação e incentivo para tentarmos voltar: hoje você produz e não sabe se vai receber. Nós mesmos temos crédito a receber, então é duro, é difícil, não dá para prever o futuro”.