Crônica: Ídolos e heróis (por Américo Perin)
Américo Perin
Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis. Bertolt Brecht
Pensando sobre esse tema, resolvi hoje falar um pouco de algo que me preocupa sobremaneira, porque entre nossos heróis encontramos os nossos ídolos. E aí começa o perigo a que estão expostos nossos jovens hoje em dia. E até muitos adultos incautos, malformados ou mal informados. Saí por aí perguntando principalmente aos mais novos: Quem são nossos ídolos? O que é ser ídolo no Brasil hoje em dia? Até em tom de ironia alguém chegou a dizer que se tornar ídolo em solo brasileiro, hoje, haveria de ser participante do Big Brother Brasil, um grande astro da música nacional e internacional ou um famoso jogador de futebol.
Hoje, qualquer pessoa sem grandes referências ou exemplo para a nossa sociedade pode ou está se tornando ídolo. Aliás, nos últimos tempos, o cinema e as novelas têm me chamado a atenção com a quantidade de ídolos que são “fabricados” no cenário nacional. Por sinal, de uns tempos para cá, outra pergunta não consegue sair da minha mente: por que não são feitos filmes e novelas de brasileiros realmente importantes que tenham algo de bom para oferecer à nação? Que sejam bons exemplos para essa juventude, já tão malformada pela grande maioria das nossas instituições de ensino? Será que ser correto não dá audiência, não rende bilheteria?
Recentemente, correu pela internet uma charge alemã, em que os jogadores da nossa seleção de futebol preparavam-se para entrar em campo: todos postados na frente de um grande espelho, dando os últimos retoques nos seus penteados. Claro que cada um num estilo diferente do outro... São raros os brasileiros que, como eu, não sabem o nome desses jogadores e não discutem calorosamente sobre suas atuações em campo. Conversando com uma pessoa que acompanha o futebol de perto, fiquei sabendo que é grande o número de nossos jovens que anualmente são contratados por “olheiros” de outros países, mas a permanência da grande maioria deles na Europa é curta. Motivo: falta de educação, postura, principalmente na relação dos parentes que os acompanham e seus vizinhos europeus. Sabe aquela coisa de jogar papel na rua, rádio em volume altíssimo no carro e em casa, atravessar fora da faixa de pedestres etc. etc... E os artistas “nossos” ídolos? Cazuza, como sua própria mãe, Lucinha Araújo, revela no seu livro, admitiu que ele chegou a trazer drogas da Inglaterra! Um verdadeiro criminoso! E o nosso imenso repertório de “sertanejo universitário?” E tem também ´’FUNK” QUE SE PRONUNCIA “FANK’.
Os meus questionamentos sobre essa idolatria e exibicionismo desnecessários é que nossa sociedade perdeu os valores verdadeiros, perdeu nossa brasilidade! Nossa sociedade fabrica falsos ídolos que nos deixam carentes e frustrados o tempo todo. Nossos ídolos são os acessórios e roupas de grife, o celular de “treismiureau”, os carros importados, as joias caras, o dinheiro e o poder! Mas onde estão os valores como a honestidade, a perseverança, a bondade, a tolerância, a caridade, e ainda mais, onde estão aquelas virtudes que norteavam as vidas de nossos pais e avós, aquelas que eles ensinaram na minha infância?
O povo é facilmente manipulável porque está carente de exemplos melhores. Estamos carentes mesmo dentro de casa, onde muitos pais não conseguem vencer o apelo, atualmente, da internet, que estimula o consumo desenfreado de seus filhos e que gera mais e mais frustração e raiva, num círculo vicioso que deságua em violência e revolta. O Brasil precisa urgentemente de gente consciente, que respeite os verdadeiros valores morais e éticos, e que crie as possibilidades para que surjam outros exemplos para serem admirados nos cinemas, nas novelas, na grande mídia enfim...
Acredito que o Brasil está cheio de bons exemplos. Não são muitos, mas eles existem, perto e longe de nós: na vida privada, no nosso círculo de amigos, entre nossos familiares. Basta expô-los.