Crônica: O que existe é a facilidade... (por Américo Perin)

15/07/2024

Em tempos de facilidades, se criam dependentes.

Quando criança, lembro-me bem, e isso já lá vão setenta e tantos anos, parece que havia mais felicidade nas pessoas. Tudo era muito mais simples, principalmente a vida. Simples assim: os pais diziam aos filhos que eles tinham que respeitar os mais velhos, pois eles eram mais sábios e tinham coisas para ensinar e os filhos respeitavam. Os pais diziam aos filhos que eles tinham de ir à escola, estudar e “APRENDER” para ficarem mais bem preparados para o futuro e os filhos iam à escola, estudavam e aprendiam. Os professores tinham de ser respeitados e eram! As crianças aprendiam com o exemplo de pessoas punidas pela lei e pela sociedade, que tinham de respeitar o direito dos outros e que elas também tinham obrigações para poder viver em sociedade, e aprendiam. Enfim, os pais ensinavam com seu exemplo de trabalho na maioria das vezes árduo, que trabalhar era bom e fazia bem para a família e para a sociedade.

A geração “BOLSA”.

Viajando pelo Nordeste, o guia chamou nossa atenção para um pequeno lugarejo de ruas sem pavimentação, sem água encanada, sem esgoto, mas que ostentava antenas parabólicas em cima dos telhados de todas as casas. Casas baixinhas e geminadas, uma característica comum na região. Foi um programa do governo, explicou o guia, para fazer inclusão sei lá do que. Claro que, ali, a junção de eletricidade mais televisão é igual gente vendo propaganda política do governo atual...

Nas ruas da capital e das pequenas cidades ao redor, muitas pessoas em idade produtiva sentadas pelas calçadas, enquanto muitas, mas muitas crianças brincavam em vez de naquela hora estarem na escola.

Aqui na nossa região, uma sobrinha que lecionava numa cidade próxima, preocupada com uma muito perceptível evasão escolar, juntou-se a outros professores e foi aos bairros verificar o que estaria acontecendo. O que viu: 8h30, mães sentadas à calçada, com seus chinelos de dedo, barrigudas, sentadas muito deselegantemente, bebendo cerveja, fumando e “batendo papo”, enquanto seus filhos brincavam na rua em vez de, naquela hora, estarem na escola.

Bem, todo mundo sabe das bolsas-auxílio que, salvo engano, custam considerável parcela dos nossos impostos para cada “beneficiado”. Existe também o auxílio reclusão, cujo valor pago aos presidiários que possuíam carteira assinada etc etc é bem maior do que o mísero salário mínimo, que ganha um trabalhador honesto com suor do seu rosto – sem falar dos aposentados.

Aquelas famílias da cidadezinha do Nordeste, com as “BOLSAS TUDO” e mais programas e programas de esmola do governo, aquelas famílias da cidade da nossa região cujos maridos ou esposas estavam registrados em uma propriedade agrícola qualquer e agora estão presos (são muitos, viu?), que recebem do governo uma polpuda “pensão” por mês a título de auxílio, que recebem visita íntima na prisão, que passam o dia na sombra, comendo bem, praticando esporte, e, como se tem notícias pela mídia, usando celulares e até consumindo bebidas alcoólicas e em outros casos drogas mais pesadas...

Com certeza, temos aqui a negação de tudo o que escrevi no início desta matéria.

Dias atrás, assistindo um documentário num desses canais via cabo, que eu pago com o resultado do meu trabalho, tive outra prova de que os mais velhos precisam ser respeitados pelos mais novos. Aprendi com um preto velho, semialfabetizado, líder de uma comunidade quilombola situada na divisa entre São Paulo e o Rio de Janeiro, que “NÃO EXISTE DIFICULDADE, O QUE EXISTE É A FACILIDADE”. Explicando seu pensamento, ele disse ao pesquisador que antigamente as mulheres iam com uma lata d’água em cima da cabeça buscar água “naquele rio lá longe”, muitas com crianças no colo iam e voltavam cantando! Felizes! Enquanto os homens na roça também cantavam o dia todo enquanto carpiam, plantavam e colhiam o sustento das famílias. Hoje, disse ele, minhas netas reclamam porque têm de lavar roupa na mão “naquele tanque ali com água encanada e tudo...”

Palavras de Luiz Gonzaga em uma de suas músicas: “Doutor, a esmola dada a um homem que é são ou vicia ou aleija o cidadão...”

Ei, “pisite”, você aí do governo, quer melhorar o Brasil? Crie vilas pelo país adentro, com escolas, mini-hospitais, administradas por técnicos bem preparados nas diversas áreas necessárias, bota esse povo para trabalhar e produzir, e para a produção do interior ser escoada crie estradas de ferro e ou vias navegáveis aproveitando esse imenso potencial hidráulico com que fomos abençoados. Isso só para começar...

A incompetência e ideologia equivocadas e retrógadas não têm mais lugar no contexto atual da nossa nação, por mais que se esforcem para não dar uma boa formação escolar ao povo criando cidadãos críticos, que se tornam presas fáceis de serem enganadas pelas mentiras fabricadas a cada dia e divulgadas por uma imprensa refém da vontade dos corruptos e mal-intencionados. Nosso país é grande demais e são muitos os que tentam travar as novas ideias e boas propostas que ainda surgem de políticos bem-intencionados e honestos.

E pensar que, em época recente, o povo, feliz, julgava que finalmente “OS DE COLARINHO BRANCO TAMBÉM IRIAM PRA CADEIA (E LÁ FICARIAM!!!)”.