Crônicas do meu amigo Américo Perin - A namorada do professor Luiz

12/06/2023

Isso foi lá pelo início dos anos 40 e aconteceu de verdade, na velha Piracicaba. Eles eram ainda muito jovens e nem tinham ideia do que o futuro lhes preparava. Enquanto isso, gastavam algumas poucas horas dos fins de semana fazendo o footing” na Praça da Matriz.

Pois é, para aqueles que hoje reclamam da “invasão cultural” de que somos vítimas, é bom saberem que, desde há muito, já se usavam expressões de outras línguas, algumas que até acabaram se incorporando no linguajar pátrio. Quem nunca ouviu, por exemplo, as músicas de um bom forró? E pensar que tudo começou numa base militar norte-americana instalada no Brasil, lá em cima, no nosso mapa, perto de Miami... Era quando, durante a segunda grande guerra, os militares dos EUA abriam seus portões para um baile “For All”, que ninguém é de ferro né...

Bem, voltando aos nossos jovens de 1942, num desses “footings” iniciou-se o namoro do Luiz, que ainda nem era professor, com uma das moças mais bonitas da cidade. Namoro assim: olhar para cá, olhar para lá e umas pouquíssimas palavras trocadas sempre sob o olhar de alguma parenta mais velha da jovem.

Tudo ia bem, até que, em determinado sábado, o Luiz disse que precisava ir embora mais cedo, pois iria tocar num baile. “TOCAR NUM BAILE?! – VOCE É MÚSICO?!” – E a namorada terminou o namoro ali mesmo. Também, como uma moça recatada... de família... poderia dar-se em compromisso com um... um ... um músico?! Que barbaridade para a época!

É, era assim a coisa. Mas os anos se passaram e o Luiz, sempre tocando seu trombone, formou-se na Escola Normal, foi um excelente professor e aposentou-se como diretor de um grande colégio da cidade. Casou-se, curtiu os netos da bela família que formou com uma jovem que não ligava por ele ser músico e, segundo notícias, o Luiz toca até hoje lá pela banda de “lá...”.

Andando pela cidade, quando ainda vivo, ele ainda via, às vezes, a antiga namorada que lhe deu o fora. Velhinha, coitada, vivendo a tristeza desde há uns 40 anos, logo após o fracasso do casamento com um médico que acabou com o dinheiro da família nas mesas de jogo e a abandonou por outra mais jovem que tinha algum dinheiro para ele gastar...
Pois é, professor, qualquer dia desses nos encontraremos “aí” e tocaremos umas valsinhas juntos, pois já me disseram que no céu também tem banda aos domingos...