Dermatite atópica canina: de onde vem essa coceira, doutora?
A coceira nos animais pode ser causada por diversos fatores, como infecções, parasitas e enfermidades alérgicas.
A dermatite atópica canina é uma desordem cutânea alérgica, de caráter inflamatório, crônico e multifatorial que atinge cerca de 15% da população mundial de cães. Pode se desenvolver em animais que tenham predisposição genética (racial) submetidos à presença de alérgenos geralmente ambientais (como pólen e ácaros) e/ou alimentares.
O tratamento é complexo e envolve medicações para aliviar a coceira, eliminar os parasitas,
tratar as infecções associadas e recuperar a integridade da pele. Medicações orais, injeções, xampus e produtos colocados sobre a pele do animal podem ser utilizados dependendo do caso, e somente o médico-veterinário dermatologista poderá individualizar a melhor combinação de tratamentos para seu animalzinho.
Infelizmente, não existe cura, mas EXISTE CONTROLE e isso traz qualidade de vida para os pacientes. O controle pode vir por meio de medicamentos que reduzem a coceira, tratam as infecções de pele, protegem contra a entrada de alérgenos ambientais, entre outros. A investigação das causas alérgicas por meio de triagem e testes alérgicos e de retirada e reexposição ajudam muito na conduta dos pacientes portadores de dermatite atópica.
No geral, os animais começam a apresentar sinais clínicos dermatológicos entre 6 meses e 7 anos de idade. Esses sinais podem ser suaves no primeiro ano e ir se agravando progressivamente, fazendo com que cerca de 70% dos cães desenvolvam a enfermidade até os 3 anos de vida.
O diagnóstico definitivo da dermatite atópica em cães é complexo e requer uma anamnese minuciosa e o exame clínico geral completo, incluindo otoscopia. É necessário descartar a presença de outras dermatopatias (exemplo: infestação por ectoparasitas, infecções bacterianas, fúngicas, autoimunes, endócrinas…).
O tratamento da dermatite atópica canina envolve duas fases. O controle inicial da inflamação e do prurido, através de fármacos anti-inflamatórios e antipruriginosos, deve ser seguido por um manejo proativo contínuo para manter a remissão e prevenir alterações crônicas (Nuttall e Gow, 2020).
Sendo assim, uma abordagem multimodal deve ser implementada, como:
- controle da inflamação da pele e do prurido;
- diminuição da exposição aos alérgenos;
- reparação da barreira cutânea;
- controle das infecções secundária da pele.
Vale ressaltar que o tratamento deve ser sempre individualizado e ajustado ao controle das crises, da presença ou não de sazonalidade e da saúde geral de cada paciente. O acompanhamento do médico-veterinário dermatologista é de extrema importância para o paciente alérgico encontrar qualidade de vida.
Luciana Netto
Médica-veterinária dermatologista
CRMV 25310