Economia criativa cresce apesar da crise

01/08/2022

Américo Perin

 

Muito embora eu pratique a arte de tocar um instrumento musical desde a mais tenra idade, foi somente depois da minha aposentadoria como tecnólogo – 34 anos na área de engenharia de assistência técnica da indústria automobilística – que realmente me dediquei inteiramente à música, inclusive cursando duas faculdades e fazendo uma especialização em Regência.

Nesse período de profissional em música, não raras vezes fui interpelado por alguém menos avisado: “Você é músico? Mas trabalha com o quê?”. É claro que a resposta, já pronta, sai na mesma hora: “Sim, de segunda a sexta eu preparo a sua diversão de fim de semana...”. Fui claro, não?

Então parabenizando aqui a nossa vizinha cidade, BARRINHA, que recentemente inaugurou a sua ESCOLA CÍVICO-MILITAR, pensei nesta matéria, talvez como uma síntese boa e esclarecedora sobre a importância desse fato, pois em tratativas recentes iniciamos o estudo de acrescentar o curso de música naquela ESCOLA.

Somos produtores. Sim, produzimos entretenimento e riquezas!

Sim, tal como aquela indústria que produz caldeiras, engrenagens, correntes, alimentos etc etc, nós também participamos do PIB Nacional!

E, para falar só de música, posso garantir que, após longos anos de estudo, um bom músico ainda continua a estudar até oito horas por dia, todo dia, durante toda sua vida!

Então, preconceito de lado, podemos dizer, sem medo de errar, que a cultura pode ser usada para incentivar o desenvolvimento econômico justo, perfeito e sustentável de um país. Os países mais desenvolvidos sabem disso e dão muita importância a esse tipo de produção. As atividades culturais são estratégicas e geram trabalho, emprego e renda, além de promover a inclusão social, especialmente entre jovens.

Pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam uma participação de 7% de bens e serviços culturais no PIB mundial, com crescimento anual previsto em torno de 10% a 20%. No Brasil, o crescimento médio anual dos setores criativos também tem se mostrado fator importantíssimo no aumento médio do PIB nacional (mais de 4,3%) nos últimos anos.

Segundo reorganização feita pelo governo no Ministério da Cultura, o Brasil tem cinco setores criativos:

  • Patrimônio (materiais e imateriais, museus e arquivos);
  • Expressões culturais (artesanato, artes visuais, culturas afro, indígena e populares);
  • Artes e espetáculo (dança, música, circo e teatro);
  • Audiovisual, livro e literatura (cinema, vídeo e publicações);
  • Criações funcionais (moda, arquitetura, design e arte digital).

 

No Brasil, mais de 320 mil empresas estão voltadas para a produção cultural. Empregam formalmente cerca de 3,7 milhões de pessoas e são responsáveis por 8,5% dos postos de trabalho, segundo levantamento feito pelo IBGE há alguns anos.

A média salarial paga pelo setor é quase 44% superior a nacional. Ainda assim, a área aguarda uma alavancagem das produções nacionais e a construção de espaços de lazer – atualmente apenas 21% das cidades brasileiras contam com salas de teatro e apenas 9% possuem salas de cinema, segundo o instituto.

Contudo, o uso da cultura para aquecer a economia exige ações diferenciadas. Nos últimos anos, o Estado brasileiro tem apoiado a produção e difusão de atividades culturais por meio de programas de fomento ou leis de incentivo, cujo foco principal são os benefícios fiscais. De uma forma meio que capenga é verdade, pois infelizmente a maioria das empresas, claro, prefere aproveitar o marketing gratuito e colar sua imagem a nomes já consagrados, “esquecendo-se” dos que estão iniciando – muitas vezes até com excelente qualidade artística e ótima contribuição para formação cultural do povo.

Outra modalidade de suporte são as linhas de financiamentos oferecidos por bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entre 2000 a 2008, os desembolsos do BNDES a projetos ligados à cultura foram de aproximadamente R$ 300 milhões. Não consegui dados mais atualizados em função da crise que, infelizmente atingiu esta área de atuação econômica e profissional.

Para apoiar o crescimento do setor, a Secretaria da Economia Criativa planeja aumentar a quantidade de pesquisas sobre o mercado brasileiro, articular e estimular o fomento direcionado aos projetos criativos, aumentar a capacitação de gestores culturais e mesmo de cursos para formação em universidades e centros tecnológicos; além de apoiar a produção, distribuição e consumo dos serviços e bens criativos. E aqui dou testemunho: essa pesquisa, sim, está sendo feita. Já fui contatado duas vezes nesse sentido pelo IBGE e para enfoques diferentes, embora o assunto principal seja o mesmo.

Apesar dos ajustes fiscais que os governos estão fazendo, devido à enorme crise pela qual passam todos os setores produtivos do país, com reflexo direto na arrecadação - de onde se originam os recursos repassados à cultura –, continuamos a criar, inovar e fazer cultura/educação.

Somos produtivos, sim.