EMPREGO - Indústrias de Sertãozinho começam a se recuperar
Meca do setor sucroenergético, Sertãozinho voltou a respirar depois de um mergulho profundo, por longos e arrebatadores sete anos, em uma crise sem precedentes.
Uma sequência de fatores, tais como a crise financeira mundial de 2008; adversidades climáticas exorbitantes; descoberta da camada de pré-sal; subsídios à gasolina e controle dos preços com o intuito de segurar a inflação; retirada da incidência da Cide sobre o combustível fóssil; a variação cambial; o superávit global de açúcar e a consequente queda dos preços da commodity; entre outros, provocou um tsunami em toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, em todos os seus subsetores, sem exceção, desde o campo até a destinação final de seus produtos e subprodutos.
Diante deste cenário, o etanol foi perdendo competitividade, implicando na derrocada, segmento por segmento, do setor. O mercado de açúcar, etanol e energia, mais viável econômica e sustentavelmente para o Brasil, gerador de milhares de empregos e renda, foi abafado pela ausência de políticas públicas de incentivo e de regras claras de definição do seu papel na matriz energética brasileira.
Sertãozinho, principal polo sucroenergético do País, foi do céu ao inferno, sendo gravemente atingido pela crise econômica que se arrasta por todo o território nacional, agravada pelo momento crítico, à parte, do setor. O município viu sua principal atividade econômica, a indústria, descer de escada rolante os níveis de emprego.
A situação ceifou milhares de postos de trabalho, levando à realização, em janeiro de 2015, do Movimento pela Retomada do Setor Sucroenergético, que reuniu 15 mil pessoas em Sertãozinho. No ato, trabalhadores, empresários, lideranças políticas, produtores de cana, cidadãos e representantes de entidades ligadas à cadeia produtiva da cana promoveram uma caminhada pelas rodovias Armando de Salles Oliveira e Carlos Tonani, principais vias de acesso ao município, que resultou na leitura de uma carta reivindicatória da manifestação, com o intuito de sensibilizar os governos estadual e federal sobre a grave situação do setor e da economia em geral, não só na cidade, mas como em todo o País.
De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, em 2007, de janeiro a dezembro, a indústria de transformação de Sertãozinho apresentou um saldo positivo de 2.741 postos de trabalho, enquanto que, em 2008, o resultado já foi mais modesto, com 728 empregos gerados, para, em 2009, apresentar uma variação negativa de 2.726 vagas.
Em 2010 e 2011, o setor apresentou leve melhora, com saldos positivos de 1.872 e 658 postos de trabalho, respectivamente. Já 2012 fechou em queda (-783), e 2013 mais favorável (+919), no entanto, 2014 e 2015 seguiram negativos, tal como em 2009. Foram perdidos 2.413 e 2.137 empregos, nesta ordem. Em 2016, de janeiro até setembro, a variação ainda se mostra negativa (-706), porém, é menos impactante que a registrada em igual período do ano passado (-1.354).
Para Paulo Gallo, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br), entidade de classe que representa a indústria de base – fornecedora de máquinas, equipamentos e serviços às usinas –, a atividade econômica do setor volta a ficar em alta, devido aos bons preços no mercado de etanol e, principalmente, no de açúcar, com expectativa de cotações remuneradoras até 2019.
“Há uma sensação geral de melhoria no setor, porém ainda com resultados muito fracos em termos de encomendas de novos projetos e/ou ampliações. No entanto, há uma perspectiva forte quanto a serviços de manutenção de entressafra, com uma carteira de vendas já efetivada no atual semestre, bem superior à do mesmo período em 2015, mas que também ainda não é o ideal, o que precisamos”, enfatiza Gallo.
Ainda segundo o presidente do CEISE Br, quase 30% do faturamento das cerca de 500 empresas associadas à instituição advém de outros segmentos, como o Papel e Celulose, Óleo & Gás, Energia Eólica, Alimentos, Siderurgia, Mineração, Automobilística, Naval e Transportes.
Entre elas está a Engevap Engenharia e Equipamentos, especializada em soluções produtivas nas áreas de geração e utilização de vapor, cálculos mecânicos e térmicos, e projetos detalhados de caldeiras, que, segundo o engenheiro de Projetos, Luiz Fernando Saran, tem fornecido para empresas que atuam no setor de óleo vegetal e biodiesel, executando trabalhos de manutenção e retrofit (reforma) de equipamentos, o que corresponde a 13% dos pedidos concretizados.
“As vendas de entressafra já se iniciaram e já fechamos uma parte do valor previsto, em torno de 40%. Com o fechamento de negócios ocorrendo com um pouco mais de antecedência este ano, estamos estimando um crescimento total de pelo menos 10%”, avalia Saran.
De acordo com o engenheiro, em 2017, a Engevap aguarda realizar negócios também com o setor de energia (pequenas e médias usinas termelétricas – UTEs), além do setor de açúcar e álcool. “Com a manutenção dos preços do etanol e do açúcar em alta, as usinas devem buscar investimentos para aumentar a produção desses produtos e, para isso, precisarão de mais energia (vapor). Sendo assim, como a nossa empresa fabrica caldeiras de baixa, média e alta pressão e faz retrofit em caldeiras existentes, entendemos que os próximos três anos, pelo menos, serão de bons resultados não só para nós, mas para todo o setor”, conclui. (Informações do Tribuna Ribeirão Preto)