Falando de Economia com Beto Bellini - O medo da inflação
O Brasil vive um período de relativa estabilidade de preços, com a adoção do sistema de metas de inflação. Apesar da diferença sentida pelo consumidor entre os índices oficiais e as variações de preço no comércio, principalmente supermercados, ainda é possível fazer um certo planejamento de suas despesas e até mesmo pequenos investimentos.
Se você perguntar por que a inflação é prejudicial a uma economia, provavelmente terá como resposta que esse indicador revela um desequilíbrio na atividade, causando instabilidade. É como se a inflação fosse um termômetro que indica alguma anormalidade na economia.
A inflação é o aumento persistente de preços e que acaba por ocasionar perdas de poder aquisitivo para a população do país onde ocorre. É um fenômeno monetário perigoso, porque a elevação de um preço puxa a de outros, dando o pontapé inicial a uma bola de neve conhecida como hiperinflação. As causas são diversas, mas, normalmente, resultam ou da emissão sem lastro de moeda (quando o governo precisa de dinheiro para pagar suas dívidas sem que tenha ocorrido um aumento nas atividades econômicas) ou do reajuste no câmbio (quando o governo é obrigado a desvalorizar sua moeda em relação à outra mais forte, em geral o dólar).
Na prática, o desequilíbrio entre oferta e demanda é o grande estímulo para a inflação crescer. Quando a demanda (procura) está muito alta e os ofertantes (fabricantes, fornecedores) não aumentam a quantidade oferecida, os preços tendem a subir até um novo ponto de equilíbrio. Essa negativa em ampliar a oferta pode ser pela incapacidade de produzir ou até mesmo uma estratégia das empresas para forçar alta nos preços. De qualquer forma, o consumidor sempre paga a conta.
Os diferentes governos (federal, estadual e municipal) têm criado diversas formas de estímulo ao crescimento econômico, para ampliar a circulação monetária através da produção, emprego, renda e consumo. Porém, nem todas as medidas surtem o efeito desejado e ainda podem resultar em diminuição das receitas públicas pelo subsídio aos impostos.
Um dos principais problemas trazidos pela inflação é a perda da noção de relatividade dos preços; ou seja, a perda pelo consumidor de sua base de comparação. Se há uma alta generalizada dos preços de bens e serviços, a população perde seu poder de compra e isso desestimula os negócios e os investimentos. A inflação dificulta o planejamento econômico.
Esse desequilíbrio entre preços e produção se traduz na inflação, mas há diferença entre desequilíbrios sazonais - ou seja, causados por alguma questão pontual, como o excesso de chuvas para os preços das hortaliças - e variações persistentes de preços. O Brasil é historicamente vulnerável a variações de preços, pois enfrenta um problema crônico: faltam investimentos continuados para aumentar sua capacidade instalada.
Os brasileiros ainda veem na inflação um dos maiores motivos de preocupação quando o assunto é economia e conservam práticas que remontam ao tempo em que o País vivia sob os reajustes da hiperinflação - como a compra do mês no supermercado -, que só foi controlada após o Plano Real, em 1994, e a adoção do regime de metas, em 1999.
O mercado, de forma geral, não se preocupa com a volta do descontrole da inflação, apesar de uma atenção das instituições financeiras com o índice de preços. A estabilidade de preços tende a aumentar a confiança da população, que passa a consumir mais, o que leva a uma nova rodada de alta de preços se a oferta não acompanhar o crescimento da demanda.
Diante disso, dá para imaginar que, se a inflação é ruim, a meta do governo - que adota o sistema de metas para a inflação desde 1999 - para ela poderia ser zero. Por o Estado gastar mais do que arrecada, isso já pressupõe que haverá alguma inflação para financiar suas atividades.
Ao fazer pública sua meta de inflação, o governo ganha credibilidade pelos agentes privados e isso aumenta as chances de que o índice inflacionário fique dentro do limite estabelecido.
Ao consumidor, resta a possibilidade de compreender que ele é o grande agente na relação de troca. Quem detém o dinheiro e o consumo. Se ele for cuidadoso na escolha, criterioso nos gastos e não comprar os produtos em alta, certamente terá menos prejuízo. Exemplificando: quando a gasolina aumentar, ao invés de correr ao posto para encher o tanque do carro, o certo é diminuir ou parar o consumo, obrigando os ofertantes a buscar menores custos e menores preços aos consumidores.
Prof. Gilberto César Ortolan Bellini, mestre em administração, professor da Unip/RP e da Fatec Sertãozinho.