Felicidade
Desta vez, resolvemos nos enveredar por um caminho bastante difícil, uma vez que nenhum filósofo chegou a nenhuma conclusão definitiva e, talvez, o pensador mais próximo da verdade seja Epicuro, que dirá que a felicidade é a ausência de desprezar. Mas discutiremos esse médico da alma no final do artigo. Agora, para demonstrar a dificuldade de conceituar a felicidade, vamos citar quatro diferentes filósofos e um mesmo assunto:
- Descarte: Pode-se dizer, em geral, que não há nenhuma coisa que nos possa arrancar por inteiro o meio de nos tornamos felizes, desde que ela não perturbe nossa razão; e que, nem sempre, são as parecem mais terríveis que mais prejudicam.
- Renard: Quando um homem diz "Sou feliz", quer simplesmente dizer: “Tenho problemas que não me atingem”.
- Epicuro: Uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a justiça, e essas, por sua vez, são separadas por sua vida feliz.
- Mill: É preferível ser um homem insatisfeito do que um porco satisfeito, é preferível ser Sócrates insatisfeito do que um imbecil satisfeito. Aristóteles acreditava que a felicidade estava no justo meio termo. Não na metade das coisas, mas no equilíbrio individual que cada um deveria descobrir para si. Montaigne nos parece indicar que a felicidade está na amizade, e, quando ele perdeu um grande amigo muito cedo escreveu uma frase bastante inteligente: “Éramos amigos porque eu era eu e ele era ele”.
Rousseau disse: Infeliz daquele que não tem mais nada a desejar! Perde, por assim dizer, tudo o que possui. Usufrui-se menos do que se obtém do que daquilo que se espera: e só se é feliz antes de ser feliz. Finalmente, podemos falar desse enigma chamado Epicuro, que, para mim, é um amigo de todas as horas. Epicuro tinha um tetrapharmakon para ajudar as pessoas nos momentos de crise, tanto pessoais, como as dele, que sofria de cálculos renais, naquela época doença incurável, quanto para a comunidade que vivia em momentos de crise ou decadência de um Estado. Seus quatro remédios eram:
- Não devemos ter medo da doença porque ou ela nos mata ou se torna crônica. Tornando-se crônica, vivemos com ela.
- Quanto à morte não podemos temer, pois eu não morro pelo simples fato de que não posso saber que estou morto. Quem sabe são os outros.
- Quanto aos deuses (Epicuro viveu aproximadamente no século VI a.C.), eles tem mais o que fazer do que ficar bisbilhotando a vida pequena de cada um de nós.
- Assim temos o remédio. Primeiro: não devemos temer a doença. Segundo: não devemos temer a morte. Terceiro: não devemos temer os deuses. E, se assim o for, a felicidade é possível, pois ser feliz não é uma abstração. É pura e simplesmente uma vida simples que busque ficar longe de tudo que causa desprazer.
Prof. Egydio Neves Neto
Prof. Renata Neres