FHC
A morte de Thiago de Mello, o grande corifeu das gerações dos anos 60 e 70, que, naquela época, se não era inocente e bonita, parecia... Toda uma minúscula juventude, “que como sempre é diminuta e barulhenta, mas faz a história”. Os outros são figurantes, que, depois dos acontecimentos, acertam suas narrativas para dizer que fizeram parte da história. Uns negando a importância daquelas pessoas, outras confirmando, mas, na, verdade todas mentindo.
Sim! A história, como já mostrou Foucault, é um aglomerado de mentiras e ideologias. Estamos presos no que ele chamou de epistêmico. É nesse sentido que a ironia da história, que gostamos de chamar o lado jocoso da vontade dos deuses, transforma idiotas em heróis e gênios em imbecis.
Ainda que a escrita pareça difícil, e o é, na narração, na realidade (desculpem-nos o pleonasmo), no dia a dia, é bem fácil de entender. Um Itamar, que passara a vida bestamente sem nunca ter feito nada de importante (logo, é o nosso idiota), ganhou a Presidência da República no susto e todo mundo da política esperava que o mentecapto fizesse um grande favor à nação: não fizesse nada! Deixasse passar os dois anos que faltavam, como já foi dito sem fazer nada, para não provocar os militares, que, a esta altura, principalmente os De Linha Dura, iriam voltar à presidência, mas eis que o destino, ou o intestino, levou Itamar Augusto a querer governar.
Nisso, passou a montar um governo capaz de dar apoio no congresso aos seus projetos. Foi assim que a Erundina, que era petista, foi parar no governo de Itamar. É evidente que o PT (inocente naquela época; se não o era, já fingia bem) expulsou a Erundina do partido e a ministra, na sua maior inocência, ainda acusou de corrupção o ministro da Economia. Ambos caíram do governo e o presidente não tinha ninguém para convocar para o ministério da Economia. Foi quando se lembrou de Fernando Henrique Cardoso, ministro das Relações Exteriores em Washington, que não pode dizer não ao Itamar.
Como somos velhos, lembramo-nos dos palavrões que o recém-formado PSDB disse ao FHC, posto que ele não sabia nada de Economia. O partido, como sempre, tinha muito “cacique pra pouco índio” e, depois de um governo desastroso, como deveria sê-lo, o partido já nascia natimorto. Mas As Parcas da História resolveram agir. Aqueles moços, que conhecemos bem de outros artigos, como Edmar Bacha, Gustavo Loyola, Gustavo Franco e Pérsio Arida, que haviam criado o Plano Cruzado, corrigiram os erros do primeiro plano e deram de presente, porque os gênios são assim, não precisam aparecer.
Para Itamar, que entregou o plano para FHC, Ciro Gomes e Rubens Ricupero, que passam para a história como os pais do real, o plano foi apropriado, pois baixou a inflação de 3.000% para 17% ao ano. A população, alegre, e tinha toda razão para isso, na campanha presidencial chacoalhava a nota de 1 real, que, na época, tinha o poder aquisitivo de um dólar (que inveja).
Fernando Henrique, candidato à presidência contra Lula, sabia antecipadamente que estava eleito. Uma boa olhada na biografia de Fernando Henrique: estudante disciplinado, temperamento frio e calculista, seus amigos dizem que é “mão de vaca”, o que ele confirma entre sorrisos. Filho e neto de generais, excelente aluno na universidade. Sua tese de doutoramento rendeu-lhe um livro que, junto com Falleto, permite a ele viajar o mundo. Recebe elogios e prêmios universitários, principalmente nos EUA, onde ganha a mais alta honraria dada a um livro de Economia.
FHC, lá naqueles anos 60, criou a teoria de que o Brasil não era nem colônia de Portugal e muito menos estava fadado a uma charada estúpida que muita gente ainda acredita. Qual seja: ou o fascismo ou o socialismo. Vejam que infelizmente a população sem leitura desse país voltou a essa discussão, que nos parece já resolvida pelo grande mestre. O Brasil não é um país subdesenvolvido e não está condenado ao socialismo e muito menos à barbárie. SOMOS UM PAÍS DEPENDENTE do progresso econômico e tecnológico da prosperidade ocidental e precisamos dela, e como o sistema econômico mundial também precisa do Brasil, numa relação perfeita entre centro e periferia, o que FHC fez foi perceber que o povo brasileiro, querendo gadgets, e o mundo ocidental e liberal querendo nos vender esses “brinquedinhos”, seria tranquilo, no bom sentido, fechar um contrato com os EUA, por exemplo, que, em troca de vender milhões de celulares no Brasil, deveria ajudar a administração brasileira a resolver seus problemas de macroeconomia. Foi assim que o primeiro governo de FHC levou o Brasil de volta ao mundo das melhores economias do planeta.
Autor: Egydio Neves Neto