Francisco não é Chico

26/02/2024

Para algumas pessoas, Francisco é Chico; Antônio é Tonho; José é Zé; e os codinomes seguem uma lista enorme, que podem conter diminutivos ou aumentativos, ficando, por exemplo, Chiquinho, Chicão; Toninho, Tonhão; Zezinho ou Zezão, entre tantos outros. Por vezes, os codinomes são colocados pela própria família; outras por amigos ou até desconhecidos, e assim vão surgindo as variações nos nomes de muitas pessoas.

Dias atrás, estava num estabelecimento hospitalar quando fui auxiliada por um profissional que foi destacado para me levar até o setor que gostaria de ir. Sorridente e muito gentil, ele me saudou com um belo bom dia e se apresentou dizendo seu nome e informando que me acompanharia até o local desejado.

Como não tinha entendido o nome, perguntei e ele disse sorridente: “meu nome é Francisco, não é Chico.” Pode até parecer que ele tenha sido seco, mas em nenhum momento passou por perto de ser deselegante. Diante da resposta, comentei: “realmente um nome tão bonito merece ser pronunciado de forma completa. Acho lindo o nome Francisco.”

Conversador, assim como eu, durante o trajeto ele mencionou situações em que fora chamado de Chico, Chiquinho e Chicão, e alertou as pessoas que o chamaram assim que gostaria de ser chamado pelo nome recebido pela mãe.

Segundo Francisco, o nome foi colocado por sugestão de um primo médico, que, por ocasião do destino, fora quem fez o difícil parto prematuro, sendo que a gestação ainda não estava completa – a genitora estava de 7 meses. Diante disso, surgiu a ideia do nome, que foi aceito pela mãe, como forma de agradecimento a São Francisco de Assis.

Durante o trajeto, que demorou aproximadamente cinco minutos, ele completou: “nada contra quem gosta de ser chamado de Chico, mas quero ser chamado pelo nome que recebi. Se eu fosse artista ou cantor, como Chico Anysio ou Chico Buarque, por exemplo, até combinaria. Agora pensa no Papa, que é Francisco, sendo chamado de Chico. Não combina, né! Acho que seria até falta de respeito”, completou.

Compreendendo e até concordando com as colocações do homem, comentei que tenho uma irmã 15 anos mais nova que se chama Eduarda, porém, em casa, não a chamamos de Duda, como muitas Eduardas ou Marias Eduardas, que acabam sendo anunciadas pelo referido codinome. Já vimos amigos a chamando pela forma abreviada do nome e, meses atrás, até perguntei se ela se incomodava ou ficava triste por ser chamada por nós de Eduarda. Ela disse que nunca pensara nisso, já se acostumara e não se incomodava. Aliviada, sigo chamando-a pelo nome recebido, que acho lindo, além de forte.

Terminando a conversa com o simpático profissional, que me perguntou com que eu trabalhava, já que carregava comigo um notebook, disse que sou jornalista e escrevia artigos para publicar num jornal de minha cidade e que ele acabara de me dar uma ideia de texto a ser escrito. Visivelmente feliz, antes de se despedir comentou que ficara lisonjeado por me inspirar a escrever um texto.

Ele nem imagina, mas eu que me senti engrandecida por conversar com uma pessoa desconhecida, que me deixou tão à vontade, batendo um papo que parecia despretensioso, mas que serviu para me fazer refletir sobre a importância de dar ao

outro o direito de se apresentar como gostaria de ser chamado, respeitando cada pessoa da forma como é ou gostaria de ser conhecida.

Concluo esse texto pontuando que, assim como o título, Francisco não é Chico. Todavia, se ele quiser, poderá ser Chiquinho, Chicão, Chico ou qualquer outro nome ou codinome que o faça se sentir bem. No fim das contas, o que vale é respeitar o outro ser humano da forma como ele é e gostaria de ser tratado.

 

Por: Tatiane Cristina Pereira Guidoni Gimenez

Jornalista – MTB: 47.966

Instagram: @tatianeguidonigimenez