Governo insiste em táticas ultrapassadas de controle de preços, diz presidente da Faesp

Governo insiste em táticas ultrapassadas de controle de preços, diz presidente da Faesp
03/02/2025

Tirso Meirelles lembrou que proposta de taxar exportações para controlar preços levou Argentina à crise

 

A tentativa de controlar os preços dos alimentos por meio da taxação das exportações pode gerar distorções significativas no mercado, alertou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles. Ao impor tarifas sobre produtos agrícolas vendidos para o exterior, o governo pretende aumentar a oferta interna e, consequentemente, reduzir os preços para os consumidores locais. No entanto, essa estratégia desestimula os produtores, que podem reduzir a produção devido à menor rentabilidade, o que pode levar, paradoxalmente, a uma menor oferta no mercado interno no médio e longo prazos. Além disso, restrições à exportação podem prejudicar a competitividade do país no comércio global, afastando compradores internacionais em busca de mercados mais previsíveis.

Outro efeito colateral dessa medida é a desorganização das cadeias produtivas e dos investimentos no setor agrícola. Taxações sobre exportações podem gerar incertezas para os produtores, desestimulando investimentos em tecnologia, infraestrutura e expansão da produção. Como resultado, a produtividade pode cair e o setor enfrentar dificuldades para atender tanto à demanda interna quanto à externa. Além disso, pode-se esperar um deslocamento do comércio, com queda na entrada de divisas, impactando negativamente o câmbio e a balança comercial.

“É lamentável ver que o governo brasileiro insiste em táticas que já se provaram ineficazes. A Argentina passou por uma situação como essa, de taxação das exportações, o que só agravou seus problemas econômicos, sociais e políticos. Falta ao Brasil uma política agrícola de longo prazo, com recursos e programas que realmente atendam ao produtor e compreendam a importância do setor agropecuário brasileiro”, frisou Meirelles.

Em 2008, a Argentina decidiu taxar as exportações, por meio de “retenciones” móveis, ajustáveis com base nos preços internacionais. Essa política foi uma tragédia para o país vizinho, pois não controlou a inflação, impactou negativamente o crescimento do país, levou a perda de competitividade e espaço no comércio internacional.

Tentativas de controle de preços via taxação de exportações são comprovadamente contraproducentes, geram tensões comerciais e distorções econômicas. Parceiros comerciais afetados por essas restrições podem retaliar, impondo barreiras a outros produtos do país ou simplesmente trocando de fornecedor, prejudicando ainda mais a economia. Consumidores locais podem não sentir os efeitos esperados na redução de preços e o desestímulo à produção leva a uma menor produção e escassez de alimentos. Enfim, os resultados tendem a ser o oposto do esperado e a Argentina é a prova disso.

Ao invés de soluções de curto prazo e tentativas de controle do mercado, o Governo deve implementar políticas mais consistentes, que fomentem a produção, os investimentos, ganhos de produtividade e o aprimoramento da infraestrutura logística. Assim, efetivamente, garantiremos maior eficiência produtiva, menores custos e maior produção, ingredientes que viabilizam segurança alimentar e competitividade do setor agropecuário.