CRISTINE FRAMARTINO BEZERRA

Humanidade paradoxal
22/04/2025

Para os Cristãos de todo o mundo, este período é um precioso tempo de reflexão e, especialmente, de recordar os últimos momentos de Jesus na sua caminhada “Crística” pelo Planeta.

Jesus curou cegos e leprosos, percorreu enormes distâncias, por vezes a pé, por vezes em barcos, pregando o Amor ao próximo, o perdão das ofensas, a eliminação de julgamentos, como em uma das suas maiores demonstrações, quando alertou pacificamente aos que desejavam apedrejar uma adúltera... “Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”...

Embora para alguns historiadores, dentre seus principais seguidores discípulos, como Simão, André, Judas e até Tomé, eles se maravilhavam diante dos milagres, porém, demoraram muito a compreender que o “Reino” do Mestre não era o deste mundo. Seus companheiros de jornada ainda acreditavam que Jesus seria o redentor do povo judeu do jugo de Roma...

Assim, muito provavelmente, parte da população de Jerusalém acreditava exatamente nisto, no líder político, que arregimentava multidões por onde passava e que faria a grande libertação há tempos esperada por todos eles.

Curiosamente, hoje pela manhã, quando eu refletia sobre a Semana Santa e seus desdobramentos à época e seus reflexos até agora, acabei lendo um texto numa postagem de rede social que definiu bem o que sempre me incomodou na caminhada do Mestre Jesus, o paradoxo da Crucificação, ou melhor, o paradoxo da Humanidade de então, diante da Crucificação.

Parte do texto que li, que não referenciava autoria, dizia exatamente assim: “Que eu não seja a multidão volúvel que te aclama num dia e te esquece no outro...”

No Domingo de Ramos, a entrada de Jesus em Jerusalém foi triunfal. Apesar da simplicidade de ter escolhido um animal dócil e simples para conduzi-lo, a multidão estava lá, atenta e feliz, cantando “Hosana”, dando glória ao filho de Deus, com palmas, muitas plantas e uma alegria sem fim.

Poucos dias depois, em uníssono, exatamente a mesma multidão preferiu dar liberdade a um assassino àquele que havia espalhado tanto amor e bênçãos por onde passou.

Sentenciado a mais humilhante das penalidades da época, Jesus Crucificado, imagino eu, que sentiu uma profunda sensação de ingratidão, que eu considero uma das maiores dores humanas...

Porém, ele era o Cristo, sabia que havia a necessidade de passar por aquele sofrimento para que sua causa maior, a difusão do Amor a todo o Mundo se tornasse realidade... E ainda teve tempo, grandeza de alma e generosidade de pedir a Deus que perdoasse a todos que o condenaram, porque não sabiam o que faziam.

Meu ponto de interrogação sempre foi: será que de fato aquelas pessoas não sabiam o que faziam? Quantos entre aqueles haviam sido tratados por Jesus, não só de suas dores físicas, mas também de seus padecimentos morais... E simplesmente se omitiram na hora exata de se manifestarem?

Claro que não temos como voltar no tempo. Mas sempre confio na força dos exemplos que arrastam... Nunca acreditei no dito popular de que “a voz do povo é a voz de Deus”, especialmente porque a voz do povo, na crucificação de Jesus optou pelo pior possível... Mas há aí também uma dicotomia importante... A multidão precisava prestar um serviço à causa maior da difusão do Amor... Que, aliás, é outra história, que nos faz refletir sobre destino e livre-arbítrio, que prometo trazer num outro momento!

Hoje, na importante reflexão da Semana Santa o que desejo, de verdade é que cada um de nós reflita de que lado da história estaria se a proposta de Pilatos nos fosse feita agora. O que levaríamos em conta? Quantas vezes confundimos propostas eminentemente políticas com religiosas? Como estamos em relação à nossa própria religiosidade e caminhada humana?  Somos de fato propagadores da paz e dos ensinos do Mestre? Ou simplesmente preferimos acreditar que tudo está muito distante da nossa realidade e que jamais condenaríamos uma criatura tão plena de Amor...?

Ainda hoje Jesus continua caminhando ao nosso lado, com todo o Amor e Ternura que movem seu imenso coração.

Ainda hoje Ele pede que Deus nos perdoe por nossos equívocos e contradições!

Que possamos aproveitar esta Páscoa das possibilidades infinitas e abrirmos nossos corações para o verdadeiro entendimento, respeito entre os povos e atitudes de fato cristãs, que nos movam com energias tão iluminadas e crísticas, como a do Mestre Jesus!

Feliz Ressurreição!

Muito Amor e Luz!

 

Cristiane Framartino Bezerra