Ícone do Colunismo Social

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23/08/2021

Há um ano, as minhas manhãs de domingo, não eram mais as mesmas, pois não assistia com a mesma frequência o Programa Record em Revista, hábito que tive por muitos anos. Acabava em torno de 10 horas e em seguida ligava para a Patrícia, para brincar e darmos grandes risadas. Ela era uma apresentadora fantástica e sabia vender os produtos como ninguém. “Venha ser feliz no Magazine Luiza, Med Clin é o melhor lugar para você fazer seu exame, olha este relógio e assim vai...”, eu imitava e ela adorava. Ríamos tanto, que até engasgávamos... Sua família comentava que ela ficava esperando a minha ligação. Colocava no jornal sobre os meus telefonemas. Era uma mãe, irmã, amiga para todas as horas. Ela me prestigiou muito e vice versa (penso eu). Fomos grandes amigos. Mas amigos mesmo!            

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Sonia Menezes Pizzo, conhecida como a colunista "Patrícia de Franca", morreu por volta de 1h30 da madrugada do último dia 7 de agosto, no Hospital Regional de Franca. No dia 13 de agosto de 2020, sofreu um AVC, e apesar de sempre ter permanecido inconsciente, seu quadro se estabilizou e em respeito à sua vontade, expressa em documento, foi morar numa clínica.

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Tinha 90 anos, mais de 60 deles dedicados à comunicação, especialmente ao jornal Comércio da Franca, onde publicou sua coluna por 35 anos, à rádio Difusora AM, à rede Record de TV e ao portal GCN. Teve passagens também pelo jornal Diário da Franca, pela TV Bandeirantes e pelas rádios Hertz, Imperador e União FM.

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Foi uma das fundadoras da Apacos – Associação Paulista de Colunistas Sociais e da Febracos- Federação dos Colunistas Sociais do Brasil. Era a mais antiga colunista social do Brasil, com mais de 60 anos interruptos de intensas atividades como comunicadora. Em 1981, na entrevista de apresentação do cantor Júlio Iglesias, inaugurando o Hotel Maksoud Plaza, entregou ao astro espanhol dois espetaculares pares de sapatos de sua “Franca - Terra do Calçado" e o fato foi notícia em todo mundo. Entrevistou milhares de personalidades que ficavam encantados e muitos tornaram-se amigos.

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Nasceu em 6 de janeiro de 1931 em uma casa de fundos na rua Thomaz Gonzaga, Centro da Franca. Na década de 50, já casada com o contador Américo Pizzo e ainda ‘apenas’ a professora Sônia, foi convidada pelo então diretor do Comércio da Franca, o jornalista Alfredo Henrique Costa, para assumir uma coluna social no jornal. Com apoio do marido, aceitou o desafio. Surgia Patrícia e, com ela, um novo jeito de fazer colunismo.
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O começo foi difícil, marcado por preconceitos. “Sofri amargamente. Fui muito caluniada, desprezada”, disse em uma de suas entrevistas. Duas eram as principais razões da resistência que enfrentou. A primeira, sua origem humilde, que desagradava a elite francana da época. A segunda, o fato de ser mulher, lutando para forjar seu espaço numa sociedade profundamente machista.
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Persistente, corajosa e muito carismática, conquistou seu lugar e gravou seu nome na história da cidade.

Ela amou como ninguém sua terra natal. Lançou tendências, revolucionou o colunismo social e ajudou a consolidar muitas marcas, como Magazine Luiza, a Francal Feiras e a Unifran. Manteve uma relação que em muito transcendia o profissional. Era íntima de seus fundadores e diretores, convivia com eles proximamente e acompanhou o crescimento das empresas – e das famílias.
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Concebeu, desenvolveu, produziu e realizou, por décadas, a Noite (Elegantes e Personalidades), considerada a maior festa do interior paulista por muitos anos. O evento atraía para a cidade personalidades do mundo político, empresarial e artístico de todo o país e era um de seus grandes orgulhos. Tenho mais de 20 estatuetas que ela me homenageou. Enfeitam meu escritório.

Estava sempre maquiada, bem vestida e com adereços. Era elegante em todos os aspectos!

Suas festas de aniversário reuniam mais de 400 pessoas, animadas por grandes bandas e até desfile de Folia de Reis. Dançava até o último instante. (A foto que estou ao seu lado foi nos 89 anos). No seu discurso disse que era o último. E, foi mesmo! 

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Foi uma das fundadoras da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) em Franca. A aproximação com a causa aconteceu depois de perder seu irmão, Artur, que era excepcional e viveu por mais de duas décadas numa cadeira de rodas. Ao longo da vida, enfrentou também dores terríveis. Viu partir o pai, a mãe, o irmão, a irmã e o marido, Américo. Os golpes mais duros viriam em 2006 e 2011, quando morreram seus dois filhos. O primeiro a partir foi Américo Júnior. Cinco anos depois, morria Mauro Menezes Pizzo. Na Missa de Sétimo Dia do Mauro, foi ao púlpito, olhou para o altar e disse “Em nenhum momento questionei por que levou as minhas joias mais valiosas”. Confortou a igreja que estava mais que lotada. Esse momento nunca mais saiu da minha cabeça. 

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Apesar da tristeza, nunca perdeu a fé. Profundamente religiosa, era devota de Nossa Senhora Aparecida, ou, como preferia dizer, “Nossa Senhora Aparecidinha”. Orava, durante pelo menos uma hora, de joelhos, todas as manhãs, e não perdia nenhuma ação da Igreja Católica em Franca, especialmente os eventos promovidos pelo padre José Geraldo Segantin, da Paróquia Santo Antonio, que cantava nos seus aniversários a música ‘Creio em Ti’.
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Viúva de Américo Pizzo desde 1985, casou-se em 1997 com o agricultor Cecílio Jorge, que está internado na mesma clínica que ela morou quase um ano. Em 2011, foi lançada sua biografia, “Querida”, um delicado e cuidadoso trabalho de pesquisa da escritora Lúcia Helena Maniglia Brigagão. Uma linda história de amor, trabalho, dedicação, mas acima de tudo, superação. 

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Deixa quatro netos, bisnetos e uma imensidão de fãs, no qual serei eternamente, o presidente deste fã clube da minha pupila Patricia.

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Obrigado por tudo. Até um dia!

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