INVESTIGAÇÃO - Em liberdade, suspeito de ataques racistas pede desculpas a Taís Araújo
Da Redação
O estudante universitário Pedro Vitor Siqueira da Silva, de 20 anos, suspeito de envolvimento nos ataques racistas contra a atriz Taís Araújo, negou ser o autor das mensagens postadas no Facebook e pediu desculpas pelo ato que, segundo ele, partiu de um grupo de adolescentes.
"Eu pediria mil desculpas a ela. Falaria que eu não participei de nada, defendi ela em certos momentos. Eu queria que chegasse até ela o meu arrependimento mesmo, pela época em que fui administrador. Dizer que ela tem meu apoio", afirmou.
Silva e outros dois jovens foram presos na quarta-feira (16), durante operação da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), realizada em sete estados brasileiros. No último sábado (19), a Justiça atendeu ao pedido das defesas e transformou as prisões temporárias em medidas cautelares.
Em entrevista ao site G1, Silva alegou que as publicações partiram de adolescentes que, assim como ele, também administravam o grupo “Que Loucura, Cara” (QLC), de onde partiram as mensagens racistas, postadas em uma foto no perfil da atriz, em outubro do ano passado.
O estudante alegou que estava em uma festa e sem acesso à internet na noite de 31 de outubro, quando as mensagens foram publicadas, e que só tomou ciência do que havia acontecido na tarde do dia seguinte.
"Se eu tivesse visto, apagaria, tentaria tirar a pessoa do grupo, mesmo eles sendo muito mais fortes do que eu no grupo. Eu tenho muito arrependimento de não ter visto na hora. Se eu tivesse visto, eu teria combatido sozinho, eu teria banido quem tivesse ali", disse.
Silva explicou que o grupo QLC era administrado por 15 pessoas, sendo a maioria delas menores de idade. Parte deles assumiu ser responsável pelas publicações racistas contra a atriz, afirmando que tinha o objetivo de se promover, a partir da repercussão do caso.
“Eu acordei às 14h, 15h, entrei no Facebook e a primeira coisa que eu vi foi a foto dela, da Taís Araújo, falando que tinha sofrido ataque. Não sabia que tinha sido o grupo. Uns dez minutos depois, entrei no chat dos adm (administradores) e vi lá: ‘pô, vou aparecer na Globo, vou ficar famoso’, ‘comentei mesmo’, ‘quero ficar famoso, quero aparecer’”, afirmou.
O estudante afirmou que tentou defender a atriz e, na tentativa de reverter a situação, chegou a publicar uma foto segurando um cartaz com os dizeres “Peço perdão pelo vacilo, Taís. QLC não tolera racismo”.
Na imagem, Silva aparece usando uma blusa com capuz e um lenço amarrado no rosto, e diz que optou por não revelar sua identidade na época porque tinha medo de sofrer represálias dos próprios integrantes do grupo.
“Tem muito hacker, fiquei com medo de ameaçarem minha família. Eles pegam os dados, clonam cartão, compram coisas. Fiquei com medo de as pessoas acharem que eu tinha feito os comentários. Não fui eu, foi mesmo para pedir perdão pelos que tinham ficado mal pelo que aconteceu”, justificou.
O universitário explicou ainda que o QLC foi criado em 2013 com o intuito de divulgar tirinhas de humor e que haviam regras a serem seguidas. Comentários racistas, homofóbicos ou preconceituosos sempre eram excluídos pelos administradores.
Silva contou que entrou no grupo em julho do ano passado e, logo em outubro, tornou-se administrador. Ele permaneceu nessa função até novembro, após a repercussão dos ataques contra a atriz, quando decidiu se desligar.
“Pegavam coisas do Google, fotos aleatórias, colocavam tirinhas, postavam humor, não tinha nada de política, nada de homofobia, nada de racismo, era mais humor mesmo. Só que começou a ter muita gente, tomar conta de 40 mil pessoas é algo - na internet ainda - muito difícil”, afirmou.
Investigação
O advogado do estudante, Luiz Gustavo Vicente Penna, afirmou que entrará com pedido de habeas corpus para trancar a ação penal, ou seja, para que o cliente seja excluído da ação por falta de provas.
"Hora nenhuma ele postou comentários racistas, ou contra a Taís, ou insuflando algo nesse sentido. Ele tentou, de alguma forma, minorar as consequências daquele grupo, do qual ele fazia parte. Se ele devesse alguma coisa, jamais usaria o seu próprio perfil para pedir desculpas", afirmou.
O universitário e os outros três jovens presos cumprem agora medidas cautelares e, por isso, não podem mudar de endereço e devem se apresentar à Justiça sempre que forem convocados. Eles respondem pelos crimes racismo, injúria racial e formação de quadrilha. (Com informações do Portal G1)