Jan-Jan (Do tostão à vassoura)
Vamos ‘jangar’! Era assim que o público votante dos anos 50/60 cantava nas ruas alegremente e, ao mesmo tempo, fazia uma traquinagem política (mais uma) inventou uma chapa política que só existia na cabeça do povo porque os candidatos à presidência da República do Brasil eram pela UDN Jânio Quadros e Milton Campos (vice) e, na outra chapa, tínhamos Henrique Teixeira Lott e João Goulart (vice). No entanto, como era possível ao povo misturar os candidatos, a população votou para presidente em Jânio e para vice em João Goulart, cujo apelido carinhoso era Jango. Essa brincadeira que custou cara ao Brasil era chamada de "jangar", como é óbvio um chiste, com o nome dos dois candidatos. E... deu no que deu! Jânio não suportava o seu vice e o mandou em viagem diplomática para a China, fato que ajudou a alcunhar em Jango o dito de comunista. O presidente, Quadros, foi eleito para ser um populista, porém tentou fazer um governo de sobriedade econômica obedecendo as regras duríssimas do FMI. Regras essas que consertam a economia de um país, mas dói muito no bolso das pessoas pertencentes às classes C, D e E. Além disso, Jânio era a esperança da UDN de um governo de direita no qual ‘a boca da UDN’, o grande jornalista e governador da Guanabara Carlos Lacerda, seria uma espécie de Primeiro Ministro. Quadros dispensou a UDN e Carlos Lacerda, perdendo com isso o apoio da direita brasileira. Como o que é ruim sempre pode piorar os EUA abandonaram Jânio, pois sua política autônoma em relação à Guerra Fria desagradou muitíssimo os políticos estadunidenses, e ainda Jânio, que não era bem visto pela esquerda, foi muito criticado quando mandou a polícia reprimir violentamente um comício no qual estava presente a mãe de Che Guevara, o mesmo que ironicamente recebia no palácio presidencial a mais alta comenda dada a quem fez um grande serviço ao país ‘a Ordem do Cruzeiro do Sul’. Essa palhaçada teve o resultado de desagradar a direita e à esquerda. Isolado no poder, Quadros tenta o golpe da renúncia acreditando que o povo pediria para ele voltar e que os militares também o chamariam de volta por temerem um governo populista por parte de Goulart. O golpe da renúncia foi um tremendo fracasso em relação às expectativas de Jânio. O povo não deu a mínima, ou seja, não saiu às ruas pedindo a sua volta, uma vez que estava enfurecido com as medidas econômicas recessivas. A UDN e os militares tinham um golpe na cabeça para impedir a posse do vice. Foi nesse contexto que Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, convence o general do terceiro exército a rebelar-se contra os outros generais e, assim, para evitar uma guerra que dividiria o exército nacional, Tancredo Neves faz aprovar no Congresso Nacional, o Parlamentarismo. Desta feita, Jango assume a presidência mas, ridiculamente, foi transformado na ‘Rainha da Inglaterra’, pois quem governaria seria o Primeiro Ministro, a saber Tancredo Neves. João Goulart lutou durante 3 anos contra o parlamentarismo e conseguiu um plebiscito que lhe devolveu os poderes de presidente num país presidencialista, pois o parlamentarismo foi anulado pela vontade popular.
Como nem tudo são flores, a UDN ficou irritada e os militares passaram a por em prática o golpe
militar de 1964. A razão para o golpe foi a promessa de João Goulart que, no presidencialismo realizaria as reformas de base, entre elas:
- Reforma agrária;
- Reforma dos bancos;
- Reforma universitária;
- Reforma tributária;
- Reforma educacional.
Tudo que a direita mais ortodoxa não queria ouvir falar. Como se vê, a ‘vassoura de Jânio’, que foi o símbolo maior da sua campanha, finalmente elucidou o seu verdadeiro significado. Limpou a rampa do Planalto retirando a esquerda, permitindo que os militares finalmente subissem.
Autor: Egydio Neves Neto