Juntos, podemos fazer melhor!

03/11/2015

Por Drª Chames Miziara

A saúde constitui nosso bem mais precioso, sendo a saúde bucal parte desse tesouro. Antes, tínhamos um modelo de atenção à saúde centrado na doença; hoje, lutamos para um modelo alicerçado no controle do processo saúde-doença, o que aponta para a ampliação do acesso ao tratamento odontológico dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

A constituição brasileira de 1988 afirma que “a saúde é direito de todos, e dever do Estado”, a qual deve ser garantida por políticas sociais e econômicas, reduzindo o risco de doenças e promovendo o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, que deve ser compreendida como qualidade de vida e não apenas como ausência de doenças.

Com base nesse compromisso, a equipe de saúde bucal do município de Sertãozinho, recentemente, realizou dois mutirões no Centro de Especialidades Odontológicas “Marlene Câmara Seccani”, localizado no bairro Jardim Alvorada, para que as longas listas de espera, algumas herdadas da gestão anterior, fossem solucionadas.

No primeiro mutirão, de 3.000 usuários do SUS convocados por meio de aviso por escrito, do tipo “aerograma”, previamente enviados, somente, 920 pessoas compareceram. Já na segunda ação, voltada especificamente para o atendimento clínico odontológico, de 1.600 usuários convocados, 300 pessoas compareceram de início, e somente após a prorrogação do período para requisição de vagas, tivemos o montante de 700 pessoas atendidas. No Centro de Especialidades Odontológicas “Fábio Zanutto”, anexo ao Centro de Saúde II, no Jardim Recreio, no último mutirão realizado, de 1000 usuários do SUS convocados formalmente, foram registrados 300 comparecimentos.

Nota-se, por outro lado, o aumento dos atendimentos de urgência em todas as unidades ambulatoriais, prevalecendo a cultura de se buscar atendimento apenas em casos de dor, com foco na resolução imediata do problema, muitas vezes, levando à extração do dente. Um quadro comum entre a população brasileira, que faz com que os serviços odontológicos percam muito em eficácia, por serem prestados no oferecimento de cuidados curativos por livre demanda a problemas já instalados.

Portanto, torna-se imperativo que a população respeite os agendamentos, não faltando as consultas, pois a livre demanda (ir ao dentista só em casos de dor ou porque o usuário necessita de atendimento médico ou farmacêutico, e já se encontra na unidade ambulatorial) acaba acentuando a exclusão social dentro da saúde bucal.

Falando em problemas já instalados, existe todo um esforço da equipe de saúde bucal do município, representada pelos dentistas, auxiliares em saúde bucal e recepcionistas, e da própria coordenação, em conscientizar a população na prevenção das cáries e doenças periodontais, impedindo a perda dos elementos dentais.

Tratar a cárie como doença biológica e impossível de ser evitada, naturaliza os aspectos sociais e pouco contribui para inserção do dentista como trabalhador socialmente comprometido com o contexto sociopolítico.

O Sistema Único de Saúde, com os princípios de universalidade da atenção, integralidade, descentralização das ações e controle social, reforça o compromisso do trabalhador de saúde com a sociedade, pois representa desafios e perspectivas contínuas de mudança nas práticas profissionais.

Quando “tomamos parte”, nos envolvemos e nos comprometemos, necessariamente estamos nos posicionando frente ao que vemos, ouvimos, vivemos; estamos participando. Estamos assumindo os nossos destinos.

Drª Chames Miziara é dentista, especialista em Saúde Pública e Traumatologia Bucomaxilofacial, e coordenadora do Departamento Municipal de Odontologia. O texto acima foi escrito com a colaboração da Drª Márcia Saran Vezzani, dentista, especialista em Endodontia e Saúde Coletiva de Família, que também atende na rede municipal.