MERCADO - Brasil voltará a vender carne de boi para a China

02/06/2015

O mercado chinês está de volta à agenda de exportações da carne bovina brasileira. O anúncio foi feito na quinta-feira, dia 17, pela presidente Dilma Rousseff durante a visita oficial do presidente da República Popular da China, Xi Jinping. Com isso, o Brasil retoma a comercialização, que girava em torno de US$ 37,7 milhões até 2012, ano em que as negociações foram interrompidas.

Exportações brasileiras de carne bovina mantêm alta e preços devem ser recordes

O embargo da carne bovina brasileira pela China aconteceu após notificação do caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), o Mal da Vaca Louca, no Estado do Paraná, em dezembro de 2012. Para o ministro da Agricultura, Neri Geller, a reabertura do mercado fortalece ainda mais a posição do Brasil como um dos principais fornecedores mundiais de carne bovina. “É um reconhecimento à qualidade da nossa produção e robustez do nosso sistema de vigilância sanitária animal. O Brasil saiu fortalecido com o caso (atípico de vaca louca em maio) em Mato Grosso e o certificado da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) que considerou o Brasil com o status de risco insignificante (da doença)”, declarou.

O ministro disse que a estimativa é de que o país asiático compre até US$ 1 bilhão do produto brasileiro em 2015.

 “Estamos com uma expectativa, com a barreira fitossanitária sendo quebrada (pela China), de exportamos de US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão no próximo ano”,  disse Geller.

O governo chinês concordou em habilitar nove plantas para exportação. O ministro estimou entre 30% e 35% o crescimento do consumo de carne bovina pela China em 2015.

“Em 2009, quando abrimos o mercado, a China importava US$ 44 milhões em carne bovina do mundo e do Brasil foram US$ 2,5 milhões. Em 2012, quando perdemos o mercado, eram US$ 255 milhões (importados) do mundo, o Brasil exportou naquele ano US$ 37,768 milhões”,  recordou.

Agora, Neri Geller acredita que o Brasil possa absorver a maior parte do mercado chinês, que no ano passado importou US$ 1,3 bilhão. Com isso, as exportações para o país asiático poderão responder por cerca de 20% do total exportado pelo Brasil.

Além da carne bovina, outros acordos também foram fechados entre os dois países.

Dentre eles estão o comprometimento da China em agilizar a normalização da importação de pet food brasileiro - embargado em 2013 - e alteração do protocolo para exportação de tabaco para o país, a fim de incluir as exportações dos Estados de Santa Catarina e Paraná.

Por outro lado, o Brasil comprometeu-se em atribuir atenção especial ao processo de habilitação de novos estabelecimentos para importação de pescados e de tripas e também a revisar seus requisitos para importação de envoltórios naturais de caprinos e ovinos, para garantir a normalidade das exportações chinesas deste produto ao Brasil.

Retomada gradual

 

O diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, considerou positivo o fim do embargo à carne bovina brasileira pela China, mas ponderou que o restabelecimento do comércio da proteína entre os dois países será gradual.

“Temos de ter em mente que os resultados não vão aparecer amanhã. Isso leva um tempo. É preciso restabelecer todos os canais de negociação, consolidando-os no longo prazo”, disse Ferraz.

O diretor, porém, destacou que a liberação já terá alguma influência sobre as exportações brasileiras de carne bovina neste ano. Segundo ele, "manter esse mercado é absolutamente importante, tendo em vista o tamanho dele e a perspectiva de crescimento de consumo lá". Ainda de acordo com Ferraz, o Brasil "tem tudo para ficar com uma das maiores parcelas" do mercado chinês da proteína.

 

Repercussão positiva

 

O superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, afirmou que o Estado será um dos beneficiados pelo fim do embargo à carne bovina brasileira pela China. Mato Grosso tem uma unidade apta a exportar.

“A China tem um potencial consumidor enorme e será mais um país comprador que o nosso Estado ganha. Hoje já exportamos para mais de 80”,  disse Vacari.

Para ele, o fim do bloqueio tende a atrair novos mercados para a carne bovina do país.

“Se um país que não aceita a nossa carne vê a China retirar o embargo, por que ele vai continuar bloqueando? Qualquer retirada de embargo é extremamente positiva, porque mostra que o motivo dele foi superado”, destaca.

Quanto aos preços, Vacari avalia que o potencial é de alta, pois o que tem sustentado as cotações é a demanda, afirmou.

Já a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) disse que o fim do embargo é uma decisão estratégica.

“Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), nos próximos 10 anos, a Ásia - em particular a China - será responsável por aproximadamente 56% do aumento da demanda por proteína animal de todo o mundo”, destacou a entidade, em nota.

Ainda de acordo com a Abiec, o Brasil já exporta para mercados asiáticos como Cingapura, Malásia, Filipinas e Vietnã, além de Hong Kong, e está em negociações para abertura de Indonésia, Tailândia e Mianmar.

O Brasil tem atualmente 8 plantas habilitadas para atender o mercado chinês. Com o anúncio, a China concordou em habilitar outras 9 plantas frigoríficas. (Canal Rural)