Mr. Bols, vê se não chateia!
Existem umas coisas na vida da gente que intrigam, fixam-se na nossa memória, irritam. É o caso que me foi contado por dois jovens da velha Piracicaba, que eram um desastre na escola. Tanto no comportamento como no aprendizado. Filhos de famílias abastadas, eram o motivo de preocupação constante em casa, pois um dia teriam de deixá-los à frente dos negócios.
Nada de estudo, nada de trabalho e diziam até que eles gostavam de fumar um certo cigarro que produzia uma fumacinha estranha (se estivessem na Força Aérea, seriam classificados como soldados pertencentes à “esquadrilha da fumaça”, se é que me entendem...)
Bem, mas o fato é que as famílias eram amigas e tiveram a ideia de enviar a dupla para Londres. Assim, pelo menos aprenderiam Inglês. E lá se foram os dois aproveitar a era dourada dos anos 60 em plena Inglaterra dos Beatles. Vai daí que, numa matada de aula, estavam saboreando um sanduíche no trailer do Mr. Bols, um cidadão britânico que ganhava a vida vendendo lanches na frente da escola, quando um carteiro entregou uma correspondência. Mr. Bols leu o conteúdo da carta e pôs-se a vociferar furiosamente contra o que ele achava um absurdo: havia recebido uma notificação de imposto referente à sua pequena lanchonete ambulante.
Os dois brasileiros, sem entender a situação, lhe arguiram do porquê de tanta irritação, pois, se o governo não tinha como saber a quantidade de lanches que ele vendia, tudo dependia, na realidade, de uma informação que partira dele próprio.
E aí é que Mr. Bols ficou mais bravo ainda e vociferou para os dois rapazes ser esse o motivo de o país deles ser tão atrasado. Segundo ele, aqui haveria grande sonegação de impostos, o que impediria o nosso governo de retribuir com escolas, hospitais, estradas etc. etc.
Pois é, Mr. Bols, é que o senhor não sabe as coisas esquisitas que acontecem por aqui! Por exemplo:
- Enquanto a indústria de caminhões de marcas estrangeiras crescia impressionantemente, acontecia na mesma intensidade o sucateamento das nossas ferrovias, e hoje, por uma série de motivos, estamos com sérios problemas de logística.
- Enquanto temos um enorme potencial hidráulico, não aproveitamos nem 1% dele para navegação comercial.
- Enquanto nossos deputados, senadores têm rendimentos extras maiores que seus salários, continuam a praticar sessões extraordinárias para fazerem o trabalho que deveria ser feito no tempo normal.
- Enquanto uma família gasta, entre impostos e serviços que o Estado lhe nega, quase 67 % da sua renda total, os mesmos políticos continuam sendo reeleitos.
- Enquanto somos um país que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, o nosso povo morre de fome e de doenças curáveis, por falta de políticas adequadas.
- E o pior, onde o voto é obrigatório, uma grande parte dos eleitores é composta por pessoas que não receberam uma educação formal adequada para poderem fazer análises críticas e acreditam em “narrativas” convenientemente criadas por aproveitadores e oportunistas.
- Bem, eu poderia aumentar esta lista com coisas mais atuais, mas então iria ter de falar de um certo careca que está enchendo o saco do povo e aí eu é que iria ficar careca, de preocupação, pois o sujeito tomou as rédeas da Justiça e...
Ora bolas, Mr. Bols! Vá chatear outro!