MSF lança campanha global para que preço de testes contra tuberculose e outras doenças caia para 5 dólares
Redução pode ampliar acesso para pacientes e diminuir custos para sistemas de saúde no Brasil e no mundo
Às vésperas do Dia Mundial da Tuberculose, a organização médico-humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) está lançando uma campanha global com o objetivo de reduzir para US$ 5 o preço cobrado por testes usados no diagnóstico de tuberculose (TB) e outras doenças.
A campanha “É agora, 5 dólares!” busca pressionar a empresa Cepheid, fabricante dos testes de diagnóstico GeneXpert, e sua proprietária, Danaher, a baixar o valor cobrado por todos os testes para US$ 5 em países de renda baixa e média, o que inclui o Brasil. Além de TB, os testes são usados no diagnóstico de HIV, hepatites, algumas doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e ebola. A testagem é o primeiro passo para que uma pessoa doente possa buscar o tratamento de que necessita, evitando também o aumento da transmissão de doenças infecciosas.
Para participar dessa mobilização global, qualquer pessoa pode assinar a petição disponível em https://www.msf.org.br/e-agora-5-dolares/. A iniciativa é liderada por MSF e apoiada por mais de 150 organizações em todo o mundo.
“Estamos aqui para exigir o fim da exploração na venda de testes que salvam vidas”, disse Hanna Darroll, responsável por campanhas de saúde global de MSF-EUA. “As empresas Danaher e Cepheid beneficiaram-se de pelo menos US$ 252 milhões em recursos públicos para desenvolver estes testes, mas depois viraram as costas e cobram preços exorbitantes sem levar isso em conta. O resultado é que milhões de pessoas em países de renda baixa e média não podem ter um diagnóstico adequado e o tratamento do qual necessitam para sobreviver. Nossas pesquisas mostram que as empresas poderiam cobrar US$ 5 por cada teste e ainda assim ter um lucro expressivo, então estamos aqui para dizer para Cepheid e Danaher: é agora, 5 dólares!” MSF publicou um estudo em 2019 estimando que cada cartucho GeneXpert poderia ser vendido com lucro a US$ 5, dado o volume de vendas que Cepheid e Danaher já atingiram há muito tempo. Graças à pressão feita pela coalizão em torno da campanha “É agora, 5 dólares!” e de ativistas de TB, em setembro de 2023 a Danaher anunciou que reduziria o preço do teste básico usado para diagnóstico de tuberculose de US$ 10 para US$ 8, o que foi um importante primeiro passo. A companhia também anunciou que validaria seu real custo de produção anualmente por meio de alguma entidade externa credenciada internacionalmente e ajustaria seu preço de acordo com essa avaliação, mas até o momento não há detalhes sobre essa medida.
De acordo com o Fundo Global, uma entidade financeira que aporta recursos no combate à TB, HIV e malária, a redução do preço deve resultar em uma economia anual de US$ 32 milhões, permitindo a compra adicional de 3,6 milhões de testes ao ano. No Brasil, são usados atualmente os testes para TB, HIV e hepatites B e C. Com a redução para US$ 5 do cartucho de TB, a economia para o SUS pode chegar a US$ 3,7 milhões anuais (mais de R$ 18 milhões). Já a eventual queda do preço dos testes de HIV e
hepatite B e C pode significar uma economia adicional de R$ 9 milhões por ano (US$ 1,8 milhão) ao sistema público de saúde brasileiro.
Isto significa que, tanto no Brasil como no resto do mundo, muito mais pessoas poderão receber diagnóstico e tratamento a tempo, e consequentemente mais vidas serão salvas.
Em contraste, Cepheid e Danaher continuam cobrando entre US$ 15 e US$ 20 pelo teste usado para diagnosticar a forma mais letal de TB (tuberculose multirresistente), além de tuberculose resistente a medicamentos (US$ 15), HIV e hepatites (US$ 15 a US$ 30, sendo que o Brasil paga o valor mais alto), doenças sexualmente transmissíveis (entre US$ 16 e US$ 19) e ebola (US$ 20). Estes preços são até seis vezes o valor de US$ 5, que é a estimativa do custo de fabricação de um teste já com uma margem de lucro para as empresas.
“É inconcebível que a Danaher esteja ganhando dezenas de bilhões em receita todos os anos, inclusive com as vendas dos cartuchos GeneXpert, enquanto pessoas que precisam destes testes para obterem seu diagnóstico e iniciarem seus tratamentos não podem ter acesso a eles porque são caros demais”, disse Saloni Fruehauf, gerente de campanhas da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “Muitos de nós se lembram de como era durante a pandemia de COVID-19, da impossibilidade de ter acesso a testes ou de retomar o trabalho e outras atividades, e é uma sensação horrível. Estamos apelando a todos os que nos apoiam e a qualquer um que deseje dar um basta nesta exploração letal para que assinem nossa petição e juntem-se ao apelo para que as corporações façam a coisa certa e vendam todos estes testes por US$ 5 para países de renda baixa e média.”
O GeneXpert é um sistema de testagem usado para o diagnóstico de doenças que permite que os exames sejam feitos perto de onde os pacientes vivem e muitas vezes onde não existem laboratórios. É usado, por exemplo, para diagnosticar HIV em recém-nascidos que foram expostos ao vírus. Estima-se que atualmente metade destas crianças não sejam testadas com um instrumento de diagnóstico recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), como é o caso do GeneXpert. O teste também é usado para diagnosticar hepatite C, o que tem uma importância vital, já que existe cura para a doença. Também é usado para diagnosticar diversas DSTs e ebola. Para TB e suas formas resistentes a medicamentos, o GeneXpert tem representado uma verdadeira revolução, apesar de poucas pessoas terem acesso aos testes.
“Os testes GeneXpert são nada menos que revolucionários para TB resistente, já que conseguem entregar um resultado em horas, o que antes podia levar até três meses, porque antes era preciso levar as amostras para laboratórios regionais distantes e esperar até que a cultura de bactérias fosse realizada”, disse o Dr. Muhammad Shoaib, coordenador médico de MSF no Paquistão. “Um número insuficiente de pessoas tem acesso aos testes de GeneXpert e o alto preço é um fator decisivo – no Paquistão, temos um número estimado de 15 mil casos de TB resistente por ano, mas apenas 3.500 foram registrados, o que mostra existir uma diferença enorme entre o número de pessoas que necessitam desta testagem e quantos efetivamente a conseguem. Com os recursos para tuberculose em declínio, precisamos desesperadamente de testes mais acessíveis.”
Do total de notificações de TB feitas à OMS em 2022, 62% dos pacientes não tiveram acesso a um teste de diagnóstico recomendado pela entidade, como o GeneXpert. Em vez disso, foram diagnosticados usando a técnica de análise microscópica do escarro,
existente há mais de 100 anos, ou com base apenas nos sintomas clínicos, sem nenhuma testagem.
“Antes de chegar à nossa clínica, um menino de 11 anos com TB resistente tinha sido diagnosticado erroneamente e recebido tratamento duas vezes em quatro anos, mas nunca ficava bom”, disse o Dr. Shoaib. “Quando veio até nós, pudemos oferecer a ele a testagem adequada e encaminhá-lo imediatamente a um tratamento efetivo, e agora ele está de volta à escola. Como médico, sinto o quanto é importante poder diagnosticar as pessoas, incluindo crianças, e oferecer a elas rapidamente o tratamento adequado para TB, para preservar a sua saúde e também evitar que a doença se espalhe para as pessoas próximas.”
MSF adquire mais de US$ 2 milhões em testes GeneXpert todos os anos para utilização em seus programas médicos em cerca de 70 países.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Twitter: @MSF_Imprensa