Américo Perin

23/09/2024

Aquele seria um dia como tantos outros se não fosse a prontidão que já durava quase um mês. Mas aquela noite prometia...

À noite, quem não estivesse de serviço teria o privilégio de poder assistir a um filme no cinema da nossa Base Aérea. Coincidência ou não, sempre se assistia a um filme de guerra com os aviadores no final posando – desculpem o trocadilho - de heróis.

Mas era bom para distrair a tropa e também as famílias dos militares que moravam na Vila Militar. Como eu dizia, aquela noite prometia.

Terminada a sessão do cinema, coloquei a tropa em forma e comandei o passo à vontade para voltar para o prédio da Companhia de Guardas. Lá íamos nós quando, na frente da sala do Oficial de Dia, eu nem tive tempo de comandar o passo ordinário e o “olhar à esquerda”, pois avistamos o Barbirato descendo a colina numa carreira desesperada, gritando uma ordem mandada pelo Sargento de Dia: “Corre! corre! O quartel poderá ser invadido a qualquer momento!!!!". Mudei a intenção do comando de voz para um “marche-marche” e, mal chegamos no pátio da Companhia, um farol enorme, do lado de fora, na estradinha do São Luiz, varreu o pátio. Foi um esfola joelhos que nem quero lembrar: “Todo mundo pro chão!!!!”

O Sargento de Dia aos berros dizia que eu desse metralhadora para o meu pessoal. Eu, na verdade, dei o bom e velho mosquetão modelo 1919, pois ninguém estava treinado para o manejo da famosa “Lurdinha ponto 30”. Postei um homem atrás de cada coluna na varanda do alojamento e os demais espalhados em outras posições estratégicas pelo pátio. E lá fomos nós: eu, o Bastos, o Barbirato, o

Carrara e o Reis em direção ao tal holofote que acendia e apagava a cada curto período de tempo.

Atravessamos o bosque, alcançamos o pântano correndo e fomos nos escondendo atrás de cada árvore encontrada na avançada. Após o brejo, ainda teríamos uma colina para subir rastejando até chegarmos na cerca que “defendia o quartel das tentativas de invasões”. Dali, tudo foi (ops) “seria” mais fácil, pois estaríamos a poucos metros “dos faroleiros”.

Bem, isso aconteceu (ops novamente) “teria” acontecido lá pelos meados de 1965. O fato é que, missão cumprida, todos voltamos incólumes para o prédio da companhia e o farol não acendeu mais.

“Quem quiser saber como tudo isso acabou, por favor, que me chame no privado...“