NOSSA CASA - Mercado imobiliário sente impactos da crise econômica
Fernando Laurenti
O Brasil vive uma crise política, financeira e moral. Com as dificuldades da crise o país entra em recessão, para de crescer, aumenta o desemprego, a moeda nacional se desvaloriza. Na cidade de Sertãozinho as coisas ficam ainda pior. A nossa economia é movida pelo setor sucroalcoleiro, setor que vem enfrentando muitas dificuldades já há alguns anos.
Nós esperamos que, com o valor alto da moeda americana e com os ajustes que o governo federal começou a fazer nos preços dos combustíveis - que já deveria ter feito há muitos anos atrás -, que as coisas possam melhorar para as usinas de açúcar e etanol, consecutivamente melhorando o cenário industrial de Sertãozinho, uma corrente que se estende a todas as outras áreas, inclusive para o setor imobiliário, que passa a ser o nosso principal assunto de hoje.
Com o grande número de demissões no município de Sertãozinho, muitos estão indo embora, voltando para o seio de suas famílias, voltando para sua terra natal; outros desocupando o imóvel, procurando uma moradia menor com um valor que caiba no bolso. Sem falar dos que não estão conseguindo pagar.
Tudo isso significa maior desocupação de imóveis em nossa cidade. É visível a olho nu o número de imóveis com placas de aluga-se e vende-se. Os os valores já abaixaram e, quem não abaixa o valor, não consegue alugar, o prédio fica fechado.
Em função da importância para a economia do país, crises do setor imobiliário acarretam acréscimos nas taxas de desemprego da construção civil. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged), em maio deste ano o setor fechou 115.599 postos em todo o país.
Fora do país, os jornais já trazem notícias mostrando as dificuldades do setor imobiliário brasileiro. Na Espanha, o jornal “El País” destacou a crise do setor.
El País: Crise imobiliária brasileira é destaque em jornal espanhol
"Muitas pessoas não estão conseguindo pagar por perda de renda, de trabalho ou por falta de perspectiva"
Em tempos de aperto financeiro, muitos brasileiros não têm conseguido manter as parcelas do carro em dia e se veem obrigados a devolver o veículo para as financeiras, que levam o bem para o leilão público para quitar a dívida. No primeiro semestre de 2015, a retomada de veículos cresceu 19% em relação ao ano passado.
E a crise também tem dificultado o pagamento dos financiamentos de imóveis. No primeiro semestre de 2015, o número de pessoas que compraram imóvel na planta e desistiram porque não conseguiam mais pagar as prestações aumentou quase 30% em relação ao ano passado, segundo a Associação Nacional dos Mutuários (ANM).
"Muitas pessoas não estão conseguindo pagar por perda de renda, de trabalho ou por falta de perspectiva", afirma Carlos Alberto de Santana, diretor jurídico, ANM.
As rescisões e o aperto na hora de pagar podem ficar ainda mais frequentes nos próximos meses considerando as medidas cada vez mais restritivas de acesso ao financiamento imobiliário. Na semana passada, a Caixa Econômica Federal, que detém dois terços de todos os empréstimos para compra de imóveis no país, informou que aumentaria os juros para financiar a casa própria com recursos da poupança. Essa foi a terceira alta de 2015. A taxa para não clientes da Caixa passou em outubro de 9,45% ano para 9,90%, para compras de imóveis pelo Sistema Financeiro Habitacional. O cenário só é bom para quem tem dinheiro na mão: o poder de negociação dos compradores aumenta com o avanço da crise.
O corretor de imóveis Benê está, segundo ele, vivenciando um momento de paralisia imobiliária.
“Meus considerados, entendo que estamos em um momento bom para quem tem dinheiro e quer comprar imóveis, já as procuras por financiamentos caíram. Hoje a procura de compra caiu 60% e a oferta de imóveis para serem vendidos aumentou em 80%. O setor está inerte e não há o que fazer. Falar que não está saindo negócios, não é verdade, só que bem menos, como já disse.Por exemplo, um patrimônio a ser vendido por R$ 650.000,00, que é o que vale, foi vendido por R$ 500.000,00, pela necessidade do proprietário em queimar o bem para salvar uma outra situação. É realmente o momento de aproveitar as oportunidades. Claro, para quem pode. Vejo o momento ruim e que provoca medo nos investidores e, às vezes, é isso que atravanca o mercado”, disse Benê.
A corretora de imóveis e diretora de imobiliária de Sertãozinho, Célia Tavares, disse que o momento é de acreditar e correr atrás. Não dá para ficar chorando o leite já derramado. E que os profissionais precisam mostrar que a sensação da crise é maior do que a própria crise.
“Penso que passamos a ter melhores oportunidades de negócio, onde está é a ocasião para vender e comprar. Sempre houve crise, sempre houve desemprego. A hora é essa. Investir em imóveis sempre foi e sempre será bom negócio, só perde quem não compra”, falou Celia Tavares.
O balanço destes seis primeiros meses são negativos em quase todos setores do município de Sertãozinho. Conversamos com os presidentes dos Sindicatos dos Comerciários e dos Metalúrgicos e os números são negativos nos seis primeiros meses na cidade de Sertãozinho. O comércio deixou desempregados 800 pessoas; a indústria demitiu mais do que contratou - o saldo foi de 600 pessoas desempregadas.
Com este cenário fica claro que o setor de locações e vendas parceladas acaba sentindo o reflexo do cenário apresentado acima. Imobiliárias de Sertãozinho estavam prontas para lançar novos empreendimentos na cidade e recuaram, aguardando um momento melhor para lançar as vendas de seus novos projetos.
No que se refere à compra de imóveis, o advogado Fabricio Fonseca, especialista em Política Pública e que gosta de estudar o setor imobiliário, avalia que o principal motivo para o baixo desempenho do setor é a escassez de crédito imobiliário enfrentada pelo país. “Desde 2006, o Brasil via o seu crédito imobiliário crescer.
No ano passado, chegamos inclusive a ter mais dinheiro destinado a crédito imobiliário do que a crédito pessoal”, contextualiza. Mas em tempo de crise econômica, tudo isso muda. Com as recentes altas da taxa Selic, a perda de poder aquisitivo da população e o aumento dos resgates em cadernetas de poupança, os bancos são hoje mais rigorosos na hora de conceder financiamentos.”