O Capitão
A grande depressão dos anos 30 afetou duramente a Europa, além dos EUA, é claro. Mas a URSS não foi afetada porque sua economia interna estava bastante combalida por causa da Primeira Guerra, da Revolução Comunista e da Guerra do Exército Branco contra o Vermelho. No entanto, apesar de todos esses problemas a URSS, que era atrasadíssima em 1922, venceu a Segunda Grande Guerra e a ditadura Stalinista transformou a URSS na segunda potência mundial, o que assustou o mundo capitalista e deu aos trabalhadores a falsa ideia que o comunismo funcionava.
Por causa disso o capitão Getúlio Vargas tinha vários problemas para resolver. O primeiro era o rumo que seria dado à revolução de 1930 capitaneada por ele, o segundo problema era resolver os problemas trazidos pela grande depressão. Mais do que isso Getúlio teria que industrializar o Brasil e combater o comunismo. Getúlio foi, muito provavelmente, o único Estadista deste país (isto significa que ele e seu grupo de intelectuais e empresários conseguiram planejar o futuro do Brasil).
Nos EUA, a saída da crise de 29 foi a intervenção do Estado na economia, o que se convencionou chamar de keynesianismo que propôs destruir o excedente de produção, combater a corrupção e ainda descobriu-se que a classe média precisava ser protegida com leis trabalhistas e os pobres foram protegidos com um programa chamado stamp food, uma espécie de bolsa família ou, se quiserem, de auxílio Brasil.
No Brasil, o nosso capitão também agiu de maneira estatizante comprando o excedente de café e protegendo os trabalhadores com a CLT (consolidação das leis trabalhistas), até hoje o sonho dos liberais é por fim a esse conjunto de leis que impedem o desenvolvimento do capitalismo digital no Brasil, mas que naquela altura se fazia necessário beneficiar aos trabalhadores para que esses não quisessem participar dos partidos e sindicatos controlados por comunistas ou muito pior pelos
anarquistas. Esses últimos, extremamente perigosos e combativos naquele tempo. Assim vemos que o grupo getulista foi pragmático como deve ser quem tem a responsabilidade de administrar o país.
Infelizmente o público que não está acostumado às discussões políticas, ou pior, que desconhece a história do Brasil quando se mete a falar da nossa trajetória econômica diz muita bobagem. É o que ocorre hoje em dia no face, mas, voltando à Era Vargas, ele foi muito mal-entendido na sua própria época. Os comunistas o chamavam de capacho do sistema capitalista. Os capitalistas o chamavam de empregado de Moscou. No entanto, o que ele estava fazendo era industrializar o Brasil, pois, era uma imposição do capitalismo internacional, uma vez que os EUA tinham vencido as duas grandes guerras e ao mesmo tempo, como já foi dito, afastar o perigo vermelho, já que a URSS e os comunistas no Brasil faziam uma grande propaganda do suposto crescimento econômico da URSS. Assim, os getulistas foram capazes de dar início à industrialização brasileira com a famosa Companhia Siderúrgica Nacional (que passou a produzir aço no Brasil, permitindo que Juscelino realizasse a indústria automobilística brasileira).
Ao mesmo tempo Vargas soube como bom populista conduzir as massas urbanas e rurais, mas, principalmente, cooptando-as para a ideologia capitalista. Esse fato não impediu que grupos retrógrados e com interesses particulares e contra o interesse nacional fizessem uma imensa propaganda, contra Getúlio, que sofrerá uma CPI e, embora tenha sido absolvido pela comissão mas pressionado para deixar o cargo, Getúlio se mata dando um grande exemplo aos políticos do Brasil. Ele preferiu o suicídio à agir como um comunista pedindo às massas para saírem às ruas para salvar o seu governo.
Vargas, que evidentemente não era comunista, não quis ensinar ao povo o caminho da revolução, preferiu o seu próprio sacrifício e nos deixou um grande legado. Um país industrializado, com trabalhadores assistidos pelo Estado (visto que naquele momento era uma política necessária para combater o comunismo) e o bilhete por ele deixado mostra claramente a sua capacidade de visão histórica, pois
nele estava escrito: ‘Deixo a vida para entrar para a História’.
Digníssimo/a leitor/a, essa pequena aula de história faz-se necessária para entender o combate entre os lulistas e os bolsonaristas, portanto ainda faremos um diálogo sobre os tempos atuais.
Até lá...
Autor: Egydio Neves Neto