O carnaval feliz de 1919

21/02/2022

Sabemos que muitas expressões históricas jamais existiram, como:  

- Feijoada era comida de escravos;

- Telhados e charutos eram feitos nas coxas.

E assim a palavra carnaval também merece várias explicações. Alguns dizem que vem do Egito antigo, que significaria carro naval (o carro cheio d’água que carregava o andor da Deusa Ísis). Outros acreditam, a partir do carnaval de Veneza, que a expressão significa carne jogada no vau, ou seja, fora.

Seja como for, as festividades de Momo são necessárias para que as pessoas extravasem suas angústias acumuladas o ano todo e se recarreguem para suportar mais um ano de problemas e dificuldades. Daí podemos imaginar o que foi o trido de 1919. Basta pensar o contexto. A Primeira Grande Guerra estava acabando. Guerra que se mostrou inútil e extremamente mortífera e que, obviamente, veio acompanhada de uma grande quantidade de doenças (gonorreia) e a mais famosas delas, chamada de Espanhola.

Jamais saberemos quantas pessoas morreram. Alguns falam em 20 milhões de pessoas.

O escritor Ruy Castro (que gostamos muito de ler) cita o maior memorialista do Brasil: Pedro Nava. Esse nos diz que morreram tantas pessoas que caminhões de coleta passavam recolhendo os corpos e, às vezes, pessoas ainda vivas eram jogadas no caminhão, e os coletores, com passadas, acabavam de matar. Há a história de que muita gente foi enterrada viva.

Portanto, essa pandemia foi muito mais perigosa que a atual. Sem contar que os microscópios da época não permitiam enxergar o vírus. É por isso que hoje estamos muito melhores, apesar de que cada vida perdida é um grande sofrimento.

Mas vejamos, um milagre aconteceu: aos poucos, as pessoas deixaram de ficar doentes e a letalidade desapareceu. O que aconteceu?

O que ocorre sempre. Como não havia vacina, “criou-se” a imunidade de rebanho. Portanto, podemos imaginar a felicidade das pessoas. Elas tinham passado pelo inferno de uma guerra e viram milhares morrendo. Então, queriam festejar o fato de estarem vivas.

Claro!! Os médicos avisaram, no carnaval que se aproximava, que não deveria haver o consumo de bebida alcoólica e muito menos aglomeração. No entanto, muitas pessoas tiveram o seguinte pensamento: se a doença voltar, esse será o meu último carnaval. Logo, vou aproveitá-lo ao máximo.

Dessa maneira, tudo foi preparado nos mais belos dos detalhes para um grande carnaval. O lança-perfume naquela época era liberado e não era usado para cheirar, e sim para jogar nos olhos dos homens e nas axilas das mulheres para arder. Era a guerra de Momo. Serpentina jogada no chão cobria meio metro do assoalho. Pais e mães esqueceram filhos nas ruas, que passaram a ser chamados de enjeitados. E como resultado das farras ensandecidas pela felicidade de estarem vivos, em novembro nasceram centenas de “filhos do carnaval”.

Melhor ainda: a guerra tinha acabado. A Europa não tinha produtos para nos exportar e passamos a produzir aqui o que antes importávamos.

Isto permitiu a produção de produtos importados aqui no Brasil, dando-nos a oportunidade de mais um surto industrial.

E então, como sempre acontece, os momentos de tristeza são sempre substituídos por momentos de euforia e grande crescimento.

É isso o que os especialistas estão a esperar para 2023.

 

Autor: Egydio Neves Neto