O Português

11/07/2023

COLUNA AMÉRICO PERIN

 

O Português

 

Américo Perin

Muito embora ouvindo os pronunciamentos de muitas autoridades brasileiras pelos noticiários das TVs, não só no Brasil como também quando viajam para outros países, fico na dúvida se choro ou dou risada. Também não escapam os barbarismos que ficam sem correção, nas barras de baixo, das telas das nossas TVs durante os noticiários.

Nossa língua é a 8ª mais falada no mundo. É falada, inclusive, numa região da China, viu... E, é considerada desde 1986 como uma das línguas oficiais da União Europeia.

Quando os portugueses aqui chegaram, no século 16, encontraram 1,3 mil línguas diferentes faladas pelos nativos.

Consta que o Imperador de Portugal, para poder comunicar-se e/ou entender o que falavam os índios, ordenou aos Jesuítas que criassem um novo idioma, que ficou conhecido como “Língua Brasilis”. E esse seria o idioma oficial do Brasil. Como os índios tinham uma enorme dificuldade em articular a letra “R”, dizem ser essa a causa do “sotaque caipira” do povo de muitas cidades do interior de São Paulo. Os diferentes sotaques brasileiros, de outras regiões, atribuem-se às imigrações e também a alguma influência da “Língua Brasilis”.

Bem, mas na verdade, agora sim, falando de piadas, os portugueses são é muito gozadores.

Um casal - nossos cunhados - saiu para um passeio pela Europa. Com eles, levaram algumas sugestões, às quais não poderiam deixar de conhecer durante a viagem.

Em Portugal, deveriam experimentar um prato famosíssimo, muito apreciado pelos “bons gourmets”. Hospedaram-se, ajeitaram suas coisas e foram caminhando por uma das avenidas de Lisboa até que, em dado momento, meu cunhado perguntou, a uma jovem que vinha em sentido contrário a eles, onde poderia comer o tal famoso prato e ela respondeu com a maior naturalidade: “Ô pá, num restaurante, ora bolas...”

Eu peguei um táxi, passei o endereço que procurava, que ficava numa “rotunda” (rotatória). O motorista, muito simpático, pôs-se a falar, imagino que contando coisas da vida dele. Imagino, porque na velocidade que ele falava, eu, confesso, não entendi nada. Chegando na rotunda, desci do táxi tentando relembrar minhas aulas de Português e as vezes que meu pai me ajudava nas redações escolares...

Numa outra ocasião, estávamos Ângela e eu passeando por uma praça de onde se enxergava lá embaixo o rio Tejo a passar com suas águas tranquilas. Como o fim da tarde já se aproximava, os bares do outro lado da rua começavam a abrir suas portas e os garçons postados na calçada convidavam os passantes para entrarem em seus respectivos bares. Simpatizei-me por um dos bares, mas, como era ainda cedo, disse ao rapaz que voltaria em seguida. Ele, apressadamente, cuidou de não perder o freguês e sugeriu que já deixasse reservado onde iríamos sentar. Ângela e eu fizemos a escolha, apontei numa direção e disse-lhe que poderia reservar determinada mesa. O gajo permaneceu calado, fitando meus olhos fixamente... Insisti na minha escolha e ele permaneceu me olhando calado, até que disse: “Ô pá, tu não preferes sentar-se em uma cadeira?...”

Não posso queixar-me dos portugueses, na verdade foram todos muito simpáticos e atenciosos. Caminhando pela cidade do Porto, entabulei conversa com um senhor de idade, convenientemente vestido como todos os da sua época, chapéu preto, terno e colete pretos, meias e sapatos pretos e um guarda-chuva igualmente preto pendurado no antebraço. Pois não é que durante nossa longa conversa, repentinamente, ele girando uma de suas mãos semiaberta, para cima, perguntou-me: “tu és “v”rasileiro, pois não?”, e respondendo a minha pergunta de como havia descoberto, dado a quantidade de países onde se fala nosso idioma, ele carinhosamente disse com aquele sotaque gostoso de ouvir: “porque vocês falam doce”....

Mas na verdade, mesmo com minha pouca experiência adquirida em nos ouvir falar e escrever, posso assegurar que aqui “nóis só farta aprendê ingreis, qui purtugueis nóis já sabe”...

A ascensão da língua portuguesa à condição de idioma oficial do Brasil foi um processo que durou mais de dois séculos, envolvendo um intercâmbio entre europeus e indígenas: se de um lado os portugueses trouxeram a língua portuguesa, de outro os indígenas ensinaram aos europeus o tupi-guarani, em especial o Tupinambá, um dos dialetos Tupi.

A Língua Geral, ou Tupinambá, se tornou a mais falada no Brasil no final do século 17, inclusive com características literárias, pois era usada por missionários na tradução de peças sacras, orações e hinos.

Preocupado em garantir a presença política no Brasil, Portugal decretou, em 1757, a lei do Diretório, que proibiu crianças, filhos de portugueses e indígenas de aprender e falar outra língua que não o Português. Inicialmente, a regra valia para as áreas onde hoje estão os Estados do Pará e Maranhão. Mas, em 1759, um alvará tornou obrigatório seu uso em todo o território nacional, assegurando sua hegemonia.

Embora predominante, o Português falado no Brasil varia conforme a região e a localidade, como evidenciam os diferentes sotaques. Além da influência dos idiomas dos povos que passaram ou imigraram para o Brasil ao longo da história (holandeses, franceses, espanhóis, árabes, italianos etc.), os sotaques se devem às diferenças no idioma dos colonizadores, que vieram em distintas épocas e regiões de Portugal.

Outro aspecto relevante é que, embora a língua portuguesa seja a oficial, ela não é a única: pesquisadores calculam que, além dela, ainda existam pelo menos 180 línguas indígenas no Brasil. A essas se somam as línguas alóctones (de descendentes de imigrantes), línguas crioulas, práticas linguísticas diferenciadas dos quilombos e duas línguas de sinais. Ou seja, por essa perspectiva, o Brasil pode ser considerado um país multilíngue.

Recentemente, ações no campo das políticas públicas têm procurado resgatar e preservar línguas. Na educação, a implantação da educação escolar indígena bilíngue tem colaborado para a preservação de línguas indígenas. Outra iniciativa relevante foi a inclusão, no Censo Populacional de 2010, de pergunta para identificar a língua falada pelas pessoas que se autodeclaram indígenas. O Brasil estabeleceu um cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que prevê a padronização da escrita entre os oito países que têm a língua portuguesa como oficial e integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o objetivo de ampliar o intercâmbio cultural e científico.

Desde janeiro de 2009, a reforma ortográfica está em vigência com mudanças que envolvem o fim do trema, novas regras para a acentuação e para o emprego do hífen, além da inclusão das letras w, k e y no alfabeto. Ao todo, as alterações atingem cerca de 0,5% das palavras. O Português em Braille também acompanha as mudanças.