O SARGENTO QUE NUNCA PÔDE DAR INSTRUÇÃO
Américo Perin
“Era uma vez”, um país onde habitavam humanos, mas ninguém sabia que animais perigosíssimos também habitavam por ali, disfarçados de humanos é claro.
Conta a história, que um dos animais conhecido como “Genuinamente Mau” (eles usavam nomes esquisitos), comandava uma guerrilha que avançava pelo país a dentro com fins perversos e muito perigosos. Os humanos, que tinham como missão manter a ordem para que o país progredisse e seu povo tivesse uma vida de melhor qualidade, ao saberem dessa situação foram atrás do animal “Genuinamente Mau” e seu bando.
Naqueles tempos de difícil comunicação, não tinha internet, as rádios mal conseguiam ser ouvidas no sertão do país, os jornais então nem circulavam naqueles rincões (!) talvez muitos moradores humanos nem soubessem que habitavam na região conhecida por “Araguaia”, quanto mais que por ali apareceriam animais disfarçados de humanos...
Mas apareceram. Apareceram e foram muitíssimo bem recebidos quando pararam para descansar em uma determinada fazenda de humanos. A cortesia e hospitalidade é, até hoje, uma característica dessa gente.
Ocorre que, após a partida daqueles animais, surgiram ali tropas da Força Aérea dos humanos. Perguntados se alguém tinha visto passar alguns seres carregando armas de fogo etc., um garoto, ingênuo coitado, apressou-se em dizer que sim e mostrou a direção que os animais haviam seguido. Acontece que a notícia correu e o comandante “Genuinamente Mau” voltou com alguns outros animais, claro que evitando encontrar a tropa dos humanos pelo caminho. Chegando na fazenda, colocou toda família dos humanos na sala e decepou a orelha do jovem inocente que, talvez até hoje não saiba porque foi punido...
Como nas histórias o bem sempre vence, mais adiante nossa tropa (ops!), a tropa dos humanos, prendeu todo bando dos animais. O chefe “Genuinamente Mau” levantou as mãos e gritava covardemente: “Não me matem! Eu sou o “Genuinamente Mau”! Tenho muita coisa para contar!!!!!!!!! A vida dele foi poupada e ele, ao contrário dos que não “falaram nada”, está vivo até hoje.
Dessas histórias eu sei um monte, posso contá-las, mas aos poucos. Não cabem todas aqui no meu espaço.
Tem por exemplo um animal, fêmea, que foi capturada pelos humanos devido seu péssimo hábito de andar sempre armada com revolver calibre 38 e com ele adorava assaltar bancos. Como animal, seu nome, apesar de ser uma fêmea, é “Leitão”. Também foi presa, e apesar de jurar de pé junto que não traiu seus companheiros ela está viva por aí, ainda disfarçada de ser humano e vive dando entrevistas dissociadas da realidade.
Na minha base, os animais tentaram mais de uma vez entrar para roubar armamento, mas acho que não tinham treinado bem e nunca conseguiram. Houve até uma certa ocasião que um deles, não fugiu com o bando. Ficou deitado no chão do pátio da nossa companhia. É isso que dá, não treina direito e cansa durante a ação...
E porque lembrei dessas histórias? Estava pensando nas gordas quantias que os animais que sobreviveram recebem até hoje do governo daquele país.
É que, em 26 de junho de 1968, um soldado do daquele país foi morto em um atentado praticado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) ao Quartel General do II Exército, o atual Comando Militar do Sudeste. Seu nome? Mário Kozel Filho.
Os animais lançaram um carro-bomba, sem motorista, contra o Quartel General do II Exército. A guarda disparou contra o veículo, que bateu na parede externa do Quartel General. Mário foi em direção ao carro-bomba. A carga com vinte quilos de dinamite explodiu em seguida, atingindo uma área de raio de 300 metros. O corpo de Mário Kozel Filho foi despedaçado e outros seis militares saíram feridos gravemente.
Pois é minha gente. Nem toda história acaba bem (pelo menos para alguns). Mario foi promovido a 3º Sargento e até hoje tramita um projeto de lei para que ele seja promovido a Capitão e sua família passe a receber os proventos relativos a esse posto. O soldado nº 1.803 da 5ª Companhia de Fuzileiros do Segundo Batalhão, 4º Regimento de Infantaria, não voltou para sua casa. O "Kuka", tinha dezoito anos quando deixou de frequentar as aulas e de trabalhar na Fiação Campo Belo, junto com seu pai.
Os animais que, apesar de até garantirem que nunca traíram seus companheiros ao serem presos pelos humanos, são muitos e estão por aí. Até chegaram a ser presidentes daquele país, um macho, na época conhecido como “Sapo Barbudo” e uma fêmea, conhecida até hoje como “Anta”, conseguiram isso...
Aqui acabou a história e MORREU A VITÓRIA quem quiser que conte outra...