OPINIÃO - Celeiro do mundo
Arnaldo Jardim
Nesta semana recebemos a visita de uma delegação do Cobank, banco dos Estados Unidos focado na produção agrícola. Eles, como o restante do mundo, enxergam no Brasil o futuro da produção de alimentos para o planeta. Ao lado do governador Geraldo Alckmin e do vice-governador Márcio França, tivemos uma reunião afirmativa sobre o papel do Estado de São Paulo neste desafio.
É preciso mais do que nunca se preparar para suprir a demanda mundial por alimentos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população da Terra deverá chegar a 9 bilhões até 2050. Isso impõe às lideranças globais o desafio de aumentar a produção agrícola de maneira sustentável. E São Paulo e o Brasil podem - e devem - protagonizar esse esforço.
A produção mundial de alimentos deve crescer cerca de 70% em relação aos números atuais, a afirmação é de ninguém menos do que da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Um órgão que tem visão global sobre os países e sabe da realidade e da capacidade de cada um deles, inclusive das nossas.
É preciso ir além da imagem mundial de amizade e simpatia que o Brasil transmite e liderar os países em torno deste tema. A fome é um desafio que não conhece fronteiras, partidos políticos, raças ou culturas. É um problema que pode afetar a todos, por isso deve ser uma preocupação geral – países ricos, pobres, emergentes, comercialmente abertos ou não, grandes como a Rússia, pequenos como Mônaco.
É neste quadro de desafio que o Brasil deve ser protagonista. Temos a mais eficiente agricultura tropical do mundo todo. Temos disponibilidade de terras agriculturáveis. Temos luz solar abundante. Temos água para fazer crescer o alimento de muitas nações. E o mais importante: temos um povo que não se furta a trabalhar de sol a sol para produzir. É nossa vocação natural.
Uma alternativa extremamente coerente e produtiva é copiarmos o ótimo sistema de funcionamento das cooperativas. O cooperativismo une as pessoas no trabalho, dividindo os ganhos de maneira justa. Por que não formar uma cooperativa mundial de produção de alimentos? Todos colaboram de acordo com suas possibilidades e, no final, todos saem ganhando.
Neste caso, ganhar significa matar a fome, alimentar as pessoas. Mas não somente colocar comida no prato, também produzir alimentos de qualidade, saudáveis. Podemos lançar mão das tecnologias disponíveis para multiplicar a produtividade, ao mesmo tempo em que garantimos mais saudabilidade ao que comemos.
Mas também não podemos nos iludir, pensar que o Brasil será automaticamente ungido a esta liderança. Temos um custo de produção exorbitante com insumos, energia e combustíveis. Não temos infraestrutura e logística decentes para escoamento da produção - e ainda estamos distantes, realmente, de um apoio governamental de políticas públicas estáveis e perenes que estejam direcionadas ao produtor que quer trabalhar.
São Paulo pode não ser mais o centro da produção agropecuária brasileira, mas inegavelmente é o mais importante polo de produção de conhecimento para o setor. Produz tecnologia, multiplica inovações, processa as matérias-primas de outros Estados e dita grande parte do jogo comercial para os produtos agrícolas.
Com apenas 3% do território brasileiro, responde por 18% das exportações do agronegócio brasileiro. É o maior produtor nacional de cana-de-açúcar, responsável por 53,4% da produção brasileira. E também o maior produtor nacional de etanol (53,6%), de açúcar (61,6%), de laranja (90%) e de ovos (30%) – somente no município de Bastos, são 18 milhões por dia!
É devido a essa importância que estamos constantemente recebendo visitas de delegações estrangeiras. Na Secretaria de Agricultura e Abastecimento, já fomos visitados somente nos últimos 12 meses por diferentes lugares do globo como Ilhas Fiji, China, Japão, Canadá, Turquia, Espanha, Reino Unido, Itália, Camarões, Alemanha e El Salvador.
Estamos exportando nosso conhecimento em controle biológico para a Bolívia usar em sua produção de soja, incialmente na região de Santa Cruz de la Sierra. Com a França, intercambiamos tecnologia por meio do Agropolo de Campinas, criado em 2015 e que já apresenta ótimos resultados.
O mundo nos olha com bons olhos. O país do futebol e do Carnaval pode ser também o país do alimento. O país que alimenta o mundo não apenas com belas imagens de nossa natureza, mas também com o quê essa mesma natureza, tão generosa em nosso território, pode oferecer.
Essa revolução verde, unindo produção e sustentabilidade, tem grandes chances de começar por nós. Em um cenário político e econômico pantanoso como o atual, é vital semear boas ideias. É hora de, no bom sentido, fazer o mundo comer em nossas mãos. Para isso retomar investimentos, buscar incessantemente melhorar a produtividade e inovação e assim gerar renda e emprego!