OPINIÃO - O Brasil perdendo sua base

07/03/2016

Arnaldo Jardim

A siderúrgica brasileira Usiminas informou na semana passada que teve prejuízo líquido de R$ 1,627 bilhão no quarto trimestre de 2015. Número 1.291% maior do que o resultado já negativo de R$ 117 milhões no mesmo período de 2014. É um buraco quase 14 vezes maior do que um ano antes. Um desempenho que reflete a desatenção do governo federal com a indústria de base.

A siderurgia, setor estruturante da indústria e da economia, vive um momento crítico e aprofunda assim o processo de desindustrialização do País. Sua queda é sintomática. Significa que caíram os números da construção civil com suas estruturas metálicas, responsável por quase 37% do consumo de aço, por exemplo. Caíram os números da indústria automotiva com seus carros também oriundos do metal, consumidora de 22% da produção. Isso sem falar nos outros setores.

Fundada há exatos 60 anos, a Usiminas é uma das principais empresas do Brasil. Infelizmente, não é exemplo único do péssimo momento pelo qual passa a siderurgia brasileira. O próprio Ministério das Minas e Energia comprova o declínio de um dos mais importantes setores da nossa economia.

Os mais recentes dados divulgados pelo Governo, sobre o primeiro semestre de 2015, mostram um cenário preocupante de desemprego na siderurgia. Minas Gerais reduziu 2.949 postos de trabalho, São Paulo diminuiu 861 e Rio de Janeiro registrou queda de 489. Por atividade, estes números no Brasil todo apontam para uma perda maior na extração de minério de ferro (-3.205).

Ela é seguida pela extração de pedra, areia e argila (-1.461), extração de minerais metálicos não-ferrosos (-661), extração de carvão mineral (-432), extração de outros minerais não metálicos (-288) e atividades de apoio à extração mineral (-287). Isso sem contabilizar os dados do segundo semestre de 2015.

O Brasil tem um parque produtor de aço com 29 usinas, administradas por 11 grupos empresariais. Uma capacidade instalada de 48,9 milhões de toneladas/ano de aço bruto, com uma produção anual de 33,9 milhões de toneladas. É um setor que envolve 122.139 colaboradores e garante um saldo comercial de US$ 2,7 bilhões.

Somos o 14º exportador mundial de aço em exportações diretas, o 6º maior exportador líquido de aço, vendendo para mais de 100 países. Uma produção que abastece principalmente setores como Construção Civil; Automotivo; Bens de capital, Máquinas e Equipamentos (incluindo agrícolas); e Utilidades Domésticas e Comerciais.

É preciso urgentemente reforçar as bases da siderurgia antes que percamos de vez participação no mercado mundial. Um fato sintomático é o aumento na importação de latas de alumínio por nós, que já fomos grandes exportadores do material.

As empresas que permanecem abertas operam na incerteza e exportam o material bruto para a China, que manufatura o minério e vende de volta para o Brasil. Mas vende com muito mais valor agregado, para a economia chinesa, obviamente.

Ela tem dominado o comércio de minerais e provocado reações como o protesto de cinco mil trabalhadores em Bruxelas, na semana passada. A China exporta com preço abaixo do custo de produção. Não podemos ser xenófobos a ponto de proibir o capital estrangeiro no Brasil, mas precisamos estabelecer regras. Não há como competir com condições desiguais de financiamento, tributação e relações trabalhistas.

A produção chinesa passou de 7,4 milhões de toneladas em 2003 para 93 milhões em 2014 – é três vezes a produção brasileira. Um sucesso que conta com o apoio do governo chinês, ciente de seu papel nesse crescimento. Somente em 2015, ofereceu subsídio adicional visível de US$ 10 bilhões.

É preciso reverter a importação predatória da China, usada nos últimos anos para controlar a inflação. Com isso, roubou da indústria brasileira, lentamente, as condições isonômicas de competição que tinha. Derreteu a tributação moderada, as taxas de juros e de câmbio reais competitivas. Reduziu a pó a desoneração completa dos impostos na exportação.

Nossa indústria siderúrgica é competitiva, tem qualidade e gente séria e comprometida trabalhando. Mas de suas portas para fora - onde depende do governo federal - o abandono dilui qualquer competitividade. Os governos Lula/Dilma abandonaram um setor que gera cerca de três milhões de empregos diretos e indiretos.

Temos recursos naturais, mão-de-obra qualificada e prestígio no mercado mundial. É inadmissível ler notícias como os prejuízos da Usiminas quando poderíamos estar lendo saldos positivos da balança comercial. É triste ver a força do aço ser substituída pela incerteza de promessas políticas. É preciso reagir, preservar e recuperar este estratégico setor, a nossa siderurgia.

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