OPINIÃO - Qual é a verdade?
Arnaldo Jardim
A cultura do campo dominará o horário nobre de uma das mais importantes emissoras de televisão do Brasil. Em um dos produtos mais abrangentes e formadores de opinião no País: as novelas. Mas qual é a qualidade da informação sobre o campo que chegará aos lares brasileiros?
Um setor que é muito mais do que se vê na telinha; do que se lê nos jornais, que tem pouco espaço na mídia e na influência imensamente proporcional à sua importância nas decisões políticas e que muitas vezes não consegue se apresentar como realmente é. Em casa, na cidade, a população recebe versões de um universo sem que o dinamismo, o sentimento de agregar valores, a realidade inovadora, séria, de um trabalho indispensável para alimentar o mundo, sejam apresentados.
Como fazer o cidadão ou a cidadã perceber como os produtos agrícolas são decisivos no preço de seu tradicional pãozinho? O agronegócio é responsável pelas fibras da indústria do vestuário, pela matéria-prima para produção de energia e, principalmente, pelos alimentos consumidos pelo mundo todo.
Contribui de maneira decisiva para a nossa economia. E esse sucesso se deve em muito à incorporação de novas tecnologias, imprescindíveis para o aumento gradual da produtividade.
Estamos vivendo um momento extraordinário de mudanças de comportamento, onde a informação é instantânea. Onde o grau de conhecimento e de renovação da percepção de mundo acontece em uma velocidade fantástica. Estamos falando de um setor que tem muito a nos dizer. É preciso contar essa história.
Dizem que o setor agropecuário desperdiça os recursos naturais. Quem de nós não viu em diversas notícias, durante a crise hídrica, o cálculo de que para um quilo de carne havia o desperdício de pelo menos 18 ou 15 mil litros de água? Desperdício, era assim chamado o uso.
Ninguém destacava, por exemplo, que pelas características do próprio ciclo da água, não há perda, que apenas 4% da nossa área cultivada é irrigada. Na agricultura, parte da água vai para o solo, parte para desenvolver a planta e parte evapora para a atmosfera.
Toda a área agrícola do Brasil é de apenas 80 milhões de hectares, pouco menos de 10% do território nacional. Da nossa ocupação, temos ainda 60% de cobertura natural. Isso espanta porque o que prevalece é uma visão de que o desmatamento é crucial para a agropecuária. Nós temos perdido a batalha da informação. É preciso reverter isso. Há uma demonização da ciência e da pesquisa.
Começamos em São Paulo a elaboração do nosso Programa Estadual de Agricultura de Baixo Carbono. Temos ainda que avançar na pecuária rumo à uma maior sustentabilidade encurtando números.
Alguns alardeiam que os produtos químicos são usados sem critério e os alimentos são contaminados, chegam a defender uma agricultura sem uso de defensivos. Mas, muitas vezes, sem saber que não é tão fácil, nem possível. Para produzir somente as hortaliças, por exemplo, teríamos necessidade de um espaço equivalente a toda a floresta amazônica.
Ainda que a Biotecnologia já tenha desenvolvido sementes tolerantes a herbicidas e resistentes a insetos, sua utilização não pressupõe a exclusão de outras tecnologias. A precisão da transgenia faz com que seus produtos sejam altamente específicos em relação às características adicionadas, sendo necessário manejar os outros desafios de uma lavoura, de todos os tamanhos.
Na soja, há redução no uso de herbicidas entre os anos de 2005 e 2006 e, também, entre 2009 e 2010. Para o milho, entre 2008 e 2014, houve redução no uso de aproximadamente 10 milhões de quilos desta classe de defensivos. No algodão, entre 2009 e 2014, a redução alcançou 3 milhões de quilos de defensivos.
Em meio a esses estigmas ou preconceitos, esquecem-se de que o problema não é o defensivo, mas sim seu uso sem critérios, sem respeito. São produtos aprovados por órgãos sérios, e que não são vilões quando utilizados de forma correta.
Nossa agricultura é sustentável quando comparada com a de outros países. No Japão, por exemplo, usa-se 12 vezes mais defensivos do que no Brasil, que neste ranking fica ainda atrás de toda a União Europeia. Produzimos 142 quilos de alimentos para cada dólar investido em defensivos. Na Argentina, esta quantidade é de 116 quilos; e nos Estados Unidos é de 94 quilos.
São produtos necessários. A tecnologia e a ciência querem ajudar, não destruir. Temos que comprar esse debate. Mas não é fácil em um momento em que a paixão e a simplificação prevalecem.
Quem tem tornado essa produção possível é exatamente o avanço da produtividade, essencial para manter a competitividade e agregar valor para o nosso produtor rural. O Brasil está mudando o seu processo de produção agropecuária. Ganham relevância questões como o confinamento e o conceito Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.
Daí a necessidade de mostrar a verdade. Mostrar a sustentabilidade e todo o esforço para uma pecuária sustentável é um elemento-chave. Mostrar além do delicioso humor caipira. Enxergar além do próprio horizonte.
ARNALDO JARDIM é deputado federal licenciado (PPS-SP) e secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
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