Oriente Médio II

07/06/2021

Paz impossível

Dinheiro, prestígio e poder

Naqueles incríveis anos 70, eu e meus amigos da vila em que morávamos, éramos jovens e aos domingos para descansar do trabalho sentávamos nos muros das nossas casas para conversar e um deles trouxe uma revista: ‘O Cruzeiro’, que tratava da morte de Gamal Nasser. Ao ver a revista todos nos perguntávamos o que ocorria no ‘Oriente Médio’, e me lembro que o Tota (Antônio de Carvalho) disse: ninguém é capaz de entender esse povo. Eu sempre tive o desejo de estudar história e pensei ‘um dia eu vou entendê-los’. Depois de uma década houve o assassinato de Anwar Al Sadat em 6 de outubro de 1981 e novamente chamou a minha atenção, mas desta vez eu já estava na faculdade e pude começar a estudar as guerras do ‘Oriente Médio’ e assim outra década depois comecei a ministrar palestras sobre as questões israelo-palestinas.

Quanto às guerras importantes para o entendimento desta região podemos citar como lembrete para as pessoas que querem entender:

 

➔ 1948/1949 – A Guerra de Independência

➔ 1956 – Guerra do Canal de Suez

➔ 1967 – Guerra dos Seis Dias

➔ 1973 – Guerra do Yon Kippur (Dia do Perdão)

 

As três primeiras guerras envolveram os países árabes-muçulmanos Israel e as potências mundiais (EUA, URSS, França e Inglaterra) cada uma com interesses próprios na região e principalmente atrapalhando o processo de paz, por isso como resultado tivemos a vitória dos judeus que inicialmente ganharam da ONU um pequeno território da chamada Palestina mas, ao final das quatro guerras, Israel havia tomado dos palestinos todo o território que a ONU prometera para eles (árabes-palestinos).

Após esses anos de estudo posso dizer que é possível entender deste assunto, que por si só é muito atraente, por tratar de dois povos tentando criar duas nações diferentes. Além disso, há muitos livros bem escritos sobre o tema.

Outra questão muito comum é o porquê deles usarem de tanta violência. Aqui temos um problema grande, já que jornalistas e às vezes, até professores de história falam e escrevem muita bobagem sobre o tema. Posso citar duas respostas erradas: uma, que usam a violência por serem seres humanos e outra, que são ruins ou estimulados por outros países – e aí vem o absurdo de dizer que os EUA estão sempre do lado dos judeus. Essa afirmação não pode ser feita sem comprovação histórica.

Quem estuda essas guerras sabe que os EUA têm seus próprios interesses e que movem suas políticas por eles e não por alianças com judeus ou qualquer outro povo. Um bom exemplo do pragmatismo americano é que na Guerra do Canal de Suez, que foi vencida pelos judeus contra os egípcios, os americanos impuseram uma derrota política aos judeus.

Mas então, por que usam tanta violência? A violência é usada por uma questão muito simples: ela dá resultados.

Há muito tempo, Maquiavel já ensinava que o homem usa todos os recursos para conseguir um objetivo político. A violência é um desses recursos, que funciona mais ou menos assim: o lado A usa e abusa do massacre – com tanques ou suicidas – o lado B é levado pela violência de A para a área da política e desta maneira temos mais um acordo de paz...

Algum tempo depois, o lado que se sentiu prejudicado pelo acordo usa da violência para chamar o outro lado para o campo da política.

Uma última pergunta muito comum e importante é sobre a chance de uma paz duradoura na região. Bem, a resposta é pessoal apesar de estar baseada em quarenta anos de estudo. Não há chance de paz por dois motivos. Primeiro que ambos os lados não podem aceitar o outro, pois eles se acreditam muito diferentes e não têm nada para oferecer um para o outro. Os judeus não vão entregar a Palestina, isto sem falar em Jerusalém, que toda humanidade deseja. Um segundo motivo trata da constituição de dois povos com históricas diferenças, mas que se confundem. Daí a dificuldade de se estabelecer o que é um árabe ou um judeu, e assim a ‘coisa’ piora. Posso dizer que existe um sujeito que é, ao mesmo tempo, palestino, árabe, judeu e cristão (?). Portanto, essa dificuldade de estabelecer com clareza o diferente, leva à necessidade do uso da violência: eu faço parte do grupo A que odeia o grupo B, assim estabeleço meus círculos de amizade e construo minha história. Logo, enquanto houver a necessidade da formação de países, haverá guerra e como já sabemos, quanto maior a violência usada por um lado, mais o outro será levado ao campo da política.

 

Autor: Egydio Neves Neto