QUEDA - Construção civil começa a sentir o impacto da crise financeira na cidade

04/08/2015

Fernando Laurenti

 

Análise feita pelo Departamendo da Indústria da Construção (Deconcic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) dos números do IBGE sobre vendas de material de construção no comércio varejista mostra queda de 1,2% no faturamento global de janeiro a maio deste ano. No acumulado do ano a queda nas vendas de materiais de construção foi de 5,7%.

Vendas por unidade da federação

Os dados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE permitem analisar o desempenho regional das vendas. Nos primeiros 5 meses de 2015, praticamente todos os Estados do Sul e Sudeste acumularam retração nas vendas. Em termos de volume físico de vendas, as maiores quedas foram registradas no Distrito Federal (13,6%), Espírito Santo (11,4%), São Paulo (10,2%) e Minas Gerais (9,9%), que também tiveram as maiores retrações em faturamento: Distrito Federal (7,9%), Espírito Santo (6,5%), São Paulo (5,4%) e Minas Gerais (5,3%). Ceará, Goiás e Santa Catarina ainda mantêm resultados positivos no comércio de materiais de construção este ano, com expansões de vendas físicas de, respectivamente, 5,4%, 3,1% e 2,5%.

Comércio local

Em Sertãozinho, a queda foi maior do que o número apresentado pelo IBGE no Estado de São Paulo. Alguns comerciantes de materiais de construção dizem que a queda já chegou a 20%.

Para o comerciante José Donizeti Stopa, a redução nas vendas nos seis primeiros meses, está em torno de 15% e a tendência é piorar se as coisas não melhorarem. “Aqui é visível no balcão da loja. Passei aos meus funcionários que a estratégia a ser usada é valorizar cada centavo do cliente, fazer preços menores, reduzir a margem de lucro para não perder venda e segurar o freguês com a gente”, disse Donizeti.

Contratações em queda

A indústria, o comércio e até a lavoura demitindo faz com que os trabalhadores migrem para a construção civil, isso quando a construção civil está contratando e em épocas que estava a todo vapor. Agora, com a grave crise financeira que vive o país, a elevação da taxa de juros dificultando o crédito aos interessados em construir, conseguir um emprego na construção civil também já está difícil, mas mesmo assim ainda é um setor que tem absorvido uma parcela dos trabalhadores que foram demitidos das metalúrgicas.

Segundo Pedro Rodrigues de Souza,  presidente do Sindicato da Construção Civil de Sertãozinho e Região, houve uma diminuição de 30% em relação ao ano passado na construção civil, sendo que, no ano passado, empresas estavam contratando. Pedro alerta para números importantes na empregabilidade. “Em relação à migração das pessoas que trabalhavam na indústria e estão atuando na construção civil está em trono de 10% a 15%, um número pequeno que está sendo absorvido pelo setor que  sempre foi o carro-chefe de empregos no país”, falou Pedro Rodrigues.

Sentindo na pele

O eletricista Emilio Geraldo Angelotti está assustado com o número de pessoas que perderam o emprego e saem fazendo “bico” como eletricista, aumentando a concorrência que passa a ficar desleal, segundo ele. “Além disso, a queda é de 50% na procura por clientes em novas obras. É isso mesmo, de 50%! O  que tem ainda um pouco mais são os reparos e reformas, coisas pequenas do dia a dia. Está feio e não vejo melhora pra tão já - se tiver”, ressalta Angelotti.

Aquele que consegue um trabalho na construção civil na atual conjuntura acaba agradecendo a Deus por poder tratar de seus filhos com dignidade.

É o caso do ex-metalúrgico Maycon da Silva, de 28 anos, casado, pai de quatro filhos,  demitido há seis meses da empresa Sergomel. Conseguiu uma vaga de ajudante de pedreiro na empresa Constru Cap. “Tenho filhos para criar, perdi o emprego na metalúrgica, estou constantemente mandando currículos. Enquanto não me encaixo na minha área, vou lutando e trabalhando na construção civil. Agradeço a Deus ainda de ter saúde e um emprego, assim não deixo faltar nada para os meus filhos. Trabalho como torneiro e outras funções nas fábricas, não é vergonha nenhuma trabalhar fora da minha área, aliás, trabalhar não mata ninguém, quero tratar dos meus filhos com dignidade”, disse Maycon.

Ancelmo Santos das Virgens, de 26 anos, está há mais tempo na labuta como pedreiro. Saiu da metalúrgica, foi para a construção civil e, de ajudante, passou a aprender, e consegue hoje responder como pedreiro de base e pretende se especializar em acabamentos, buscando aperfeiçoar-se nesta área. Gostou da construção civil e pretende ficar na profissão. Ancelmo já revelou que pensa em voltar para sua terra natal em busca de mais tranquilidade. “Fui metalúrgico e há três anos estou na construção civil. Aqui a gente tem mais segurança de emprego. Mas não pensem que se ganha mais na metalúrgica não. Ultimamente se ganha igual, ou melhor, aqui como pedreiro. Acho que qualquer dia vou voltar para minha terra e vou trabalhar lá de pedreiro. Meu pai disse que lá está melhor nesta hora”, ressaltou Ancelmo, nascido em Santa Maria do Salto (MG).

Ainda como informação, esta semana a empresa Brumazi demitiu cerca de 47 funcionários. E nesta quinta-feira a empresa SMAR desligou 96 empregados do seu quadro de 400 colaboradores, aumentando ainda mais o índice de desempregados no município de Sertãozinho.  .

Os números do Caged, de janeiro a junho deste ano, trazem 528 contratadas versos 965 demitidas, um saldo negativo de 437. Isso sem contar com as demissões da Brumazi e Smar, aumentando o número de postos perdidos, mais 143 desempregados.