Refugiados encontram no empreendedorismo uma forma de reconstruir suas vidas
No Dia Nacional do Empreendedor, comemorado amanhã (10/05), o ACNUR destaca sua plataforma “Empreendedores Refugiados”, com 159 negócios liderados por refugiados em diferentes cidades brasileiras.
O mundo viu o número de pessoas forçadas a se deslocar crescer significativamente nos últimos 12 anos, chegando a 120 milhões de pessoas que tiveram que deixar suas casas e reconstruir suas vidas em outros países. No Brasil, atualmente, há quase 800 mil pessoas vivendo no país e precisando de proteção internacional.
Nesse contexto, muitos refugiados e migrantes veem o empreendedorismo como uma forma de recomeçar. Foi o caso de Ousmane Mbaye , que saiu do Senegal e chegou ao Rio de Janeiro em 2013. Inicialmente, ele trabalhou no setor de construção civil, mas em 2015 abriu seu próprio negócio e fundou a Dior Thiam, dedicada à moda africana.
Formou-se em Design de Moda pelo Senac e começou a produzir peças exclusivas, como bolsas, roupas e acessórios, usando tecidos importados do Senegal. Atualmente, atende clientes em seu estúdio em Brasília, cria cenários para eventos importantes, participa de feiras e entrega seus produtos para todo o Brasil. Ousmane diz que um dos aspectos mais significativos de seu trabalho é mostrar a força de ser uma pessoa africana no Brasil.
“Temos muito orgulho de sermos descendentes de africanos. Como refugiados e migrantes, a tristeza faz parte de nossas vidas, mas a felicidade também. Existem maneiras de mostrar que somos capazes, que somos pessoas que contribuem, inclusive economicamente, para o desenvolvimento deste país. Então, faço isso por todos nós”, conclui.
Ousmane faz parte da Plataforma Empreendedores Refugiados , que reúne 159 negócios liderados por refugiados. Com mais de três anos de atuação, a iniciativa da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e do Pacto Global da ONU - Rede Brasil contempla empreendedores de 43 cidades de 16 estados e do Distrito Federal.
Dia do Empreendedor
O dia 5 de outubro é o Dia Nacional das Micro e Pequenas Empresas, também conhecido como Dia do Empreendedorismo. Uma pesquisa realizada com empresários e empresárias da plataforma Refugee Entrepreneurs demonstrou o papel central que o empreendedorismo desempenha em suas trajetórias: “Para 69% deles, o negócio representa a principal fonte de renda de suas famílias. Isso prova que o empreendedorismo é essencial para que refugiados e outras pessoas deslocadas à força alcancem autonomia financeira e reconstruam suas vidas com dignidade”, destaca o Oficial de Meios de Subsistência e Inclusão Econômica do ACNUR, Paulo Sérgio Almeida.
É o caso da empreendedora venezuelana Carolina Ramos , que sustenta os quatro filhos no Brasil fazendo bolos. Ela conta que fazia doces e tortas para vender na Venezuela, mas retomar a atividade no Brasil não foi fácil. Em meio aos desafios impostos pela pandemia e às dificuldades, Carolina lembra que precisou dar uma pausa na produção de bolos porque não tinham nem fogão em casa.
Em 2023, ela viu uma oportunidade por meio do projeto Mujeres Fuertes, uma iniciativa do ACNUR, em parceria com a Hermanitos e o Ministério Público do Trabalho do Amazonas e Roraima (MPT-AM/RR). Após o projeto, Carolina fundou a “Bolos da Karol”, especializada em doces, principalmente decorados e cobertos com pasta americana.
“Meu marido morreu de câncer em 2024, então fiquei sozinha com meus filhos no Brasil. Mas sei que tem algo bom me esperando, há muitas oportunidades aqui. Meu sonho é expandir meu negócio, ter minha própria loja e trabalhar com bolos prontos para entrega, o que seria um diferencial”, diz.
A gerente de Direitos Humanos e Trabalho do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, Gabriela Rozman, reforça a importância do empreendedorismo para esses grupos que enfrentam desafios adicionais de inclusão, como as mães solteiras. “Por isso, a plataforma Refugee Entrepreneurs, junto com seus parceiros, oferece diversos cursos e treinamentos para que empreendedores possam desenvolver seu potencial, crescer e ganhar ainda mais visibilidade para seus negócios.”
Um desses treinamentos foi realizado em setembro, em conjunto com a Meta, parceira estratégica da plataforma. Cerca de 116 empreendedores refugiados e migrantes participaram do curso online sobre marketing digital, que abordou diversos aspectos, como vender nas redes sociais e construir uma marca digital, além de mostrar ferramentas e recursos do Facebook, Instagram e WhatsApp Business. Entre os participantes, a grande maioria eram mulheres venezuelanas.
O Sebrae, outro parceiro da iniciativa, também apoia as ações da plataforma. Nos eventos presenciais da plataforma, a entidade oferece palestras e, em muitos casos, sedia o evento.
Sobre a plataforma Refugee Entrepreneurs
A plataforma Empreendedores Refugiados é uma iniciativa do ACNUR e do Pacto Global da ONU - Rede Brasil e tem como objetivo divulgar e dar visibilidade aos negócios liderados por refugiados no país, além de apoiar capacitações e outras oportunidades de educação e promoção de seus negócios.
Criada em fevereiro de 2021, a plataforma conta atualmente com 159 negócios listados. São 16 nacionalidades que compõem a plataforma, sendo a maioria dos negócios de propriedade de venezuelanos (68%), seguidos pela Síria (8%) e República Democrática do Congo (8%). As áreas predominantes são Gastronomia (48%), Artesanato (12,5%), Moda (9%) e Design e Arte (8%). 56% dos negócios são liderados por mulheres.
ACNUR - Agência das Nações Unidas para os Refugiados - brabrpi@unhcr.org
Acervo Pessoal
Ousmane Mbaye, do Senegal, fundou o Dior Thiam, dedicado à moda africana
Acervo Pessoal
Ousmane Mbaye apresenta seus produtos em feiras e atende clientes em seu ateliê em Brasília