RENOVAÇÃO - Amendoim é boa alternativa para renovação e está em alta no exterior

26/12/2016

A  lua já está alta no céu estrelado, mas o trabalho no campo não para em Jaboticabal, região da Alta Mogiana, no interior paulista. Acoplados a tratores de última geração, que são operados por um único trabalhador, os grandes equipamentos seguem em linha pela lavoura e colhem até 500 sacas de 25 quilos de amendoim por hora. Produtores como Nilton Luiz da Silva Junior, Walter Aparecido Luiz de Souza e Ernesto Citta, de famílias tradicionais no cultivo de amendoim na região, correm contra o tempo para colher a safra do grão que conquista cada vez mais ilhas de produção no mar de cana que domina o cenário do Centro-Sul do país.

A corrida no campo se explica porque a chamada safra das águas é de tiro curto. O amendoim é semeado entre setembro e outubro, exclusivamente em áreas de reforma de canaviais, após o quinto corte da matéria-prima, e é colhido entre março e abril, quando alcança sua maturação. Depois, o produtor devolve a terra arrendada, onde haverá novo plantio da cana destinada à produção de etanol e açúcar.

Nilton aprendeu com o pai e o avô os macetes do cultivo do amendoim, cultura implantada no país há cerca de 50 anos, mas que teve uma retração significativa nos anos 1980 e 90, devido a questões sanitárias, tecnológicas e de mercado. O renascimento ocorreu a partir do ano 2000, quando produtores, beneficiadores e a indústria confeiteira introduziram novas formas de produção visando melhorar  a qualidade do produto. O aumento da demanda e da remuneração, especialmente no mercado internacional, e o status que conquistou de alimento que reduz a taxa de triglicérides ajudaram a elevar a produção.

Os agricultores de Jaboticabal se apropriaram das novas técnicas de manejo, das novas variedades rasteiras desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e investiram em equipamentos modernos para arranque e colheita mecanizada. De quebra, aproveitam a vantagem de estar a poucos quilômetros da maior indústria de amendoim do país, a Coplana, cooperativa que recebe o grão, armazena, beneficia, processa e exporta com valor agregado, especialmente para o mercado europeu.

“O amendoim está em alta no mercado externo. As novas sementes, a mecanização da colheita e a segurança que a cooperativa nos dá fizeram toda a diferença. Posso dizer que o amendoim dá muito trabalho, sua implantação é cara (cerca de R$ 4 mil o hectare, em comparação aos R$ 5 mil do hectare de cana), mas o resultado é compensador e prevejo um futuro melhor ainda”, diz Nilton. Nesta safra, ele plantou 300 hectares em terras arrendadas e mais 50 hectares em área própria. A expectativa é colher cerca de 190 sacas de 25 quilos por hectare.

Walter plantou 980 hectares, 90% em terras arrendadas. Por causa da seca, ele não está muito otimista em relação à produtividade desta safra. “Não deve chegar a 200 sacas por hectare, porque tive de plantar mais tarde.” No entanto, ele acredita que o investimento feito em uma nova máquina com capacidade para colher simultaneamente em quatro linhas, que se soma às outras seis máquinas de duas linhas, e o aumento de demanda pelo amendoim devem compensar o trabalho, que se estende diariamente até por volta das 21 horas. A expectativa é receber pelo menos R$ 30 pela saca de amendoim.

José Roberto Tossi, 35 anos de experiência com amendoim e um dos empregados da lavoura comandada por Reginaldo, afirma que a mecanização foi o grande divisor de águas para a cultura. “No passado, eram necessárias de 200 a 300 pessoas para colher uma roça dessas. Hoje, duas ou três pessoas dão conta do recado”, diz ele, enquanto observa as máquinas colhedoras trabalhando de um lado e as arrancadoras de outro. Após o arranque, que deixa as vagens enfileiradas e invertidas, o amendoim fica secando no campo por dois ou três dias, antes de ser colhido e levado para a cooperativa. Já na lavoura de Ernesto, a expectativa de produção é muito boa. Reginaldo Moreira da Silva, gerente da fazenda, diz que o patrão plantou 242 hectares nesta safra, quase 10% a mais do que ano passado. “Acho que vamos alcançar 250 sacas por hectare”, aposta Reginaldo.