Rua do Mercado
Olá, hoje começa nossa coluna chamada: Rua do Mercado.
Que esta coluna seja uma homenagem à cidade de Sertãozinho, pois durante muito tempo teve como uma das suas principais ruas, a rua do comércio. Hoje chamada de Barão do Rio Branco. Nunca entendi porque retiraram um nome tão significativo como Rua do Comércio para Rua Barão do Rio Branco, nome que poucas pessoas sabem do que se trata. Foi um grande embaixador, negociou a compra do Acre no famoso acordo de Petrópolis, mas é muito mais significativo para a nossa sociedade, para a nossa Sertãozinho, o nome Rua do Comércio, que é uma homenagem belíssima à todas as pessoas que trabalham e andam por essas ruas.
E, certamente nessas ruas, ou nessa rua as pessoas conversam muito sobre política e todos os assuntos correlatos: o que eu gostaria de fazer nesta coluna, discutirmos vários assuntos, de maneira despretensiosa, sem querermos ser os donos da verdade. Apenas um diálogo, uma provocação que espera a sua compreensão e ao mesmo tempo sua sugestão, sua crítica. Principalmente a crítica é muito bem-vinda. Que nós possamos manter um diálogo sobre as coisas importantes que ocorrem no Brasil, no mundo e em Sertãozinho.
Então esse é o desejo, falar sobre a cidade, discutir problemas e discutir também coisas felizes, principalmente coisas como cultura, arte...
Perfeito? Sabemos que um grande artista plástico de Sertãozinho está sendo homenageado no mundo. Trata-se do Alexandre Mora Sverzut, e que está a passeio aqui na nossa cidade.
Então, falaremos, discutiremos, muitas destas coisas, principalmente aquilo que for de importância pra nossa cidade. Escolhi para nossa primeira conversa, algo que me parece extremamente importante, que é a questão de como o ser humano sobrevive sobre este planeta. Porque as pessoas imaginam que a vitória dos seres humanos sobre o planeta se deu pelo feito de grandes homens e de grandes mulheres. Sim, parte disso é verdade, mas não naquilo que tem a ver com feitos históricos, mas sim com aqueles heróis, muitas vezes anônimos que criaram tecnologia. O que seria da gente, nesse momento de pandemia, sem a luz elétrica? Então esta é a contribuição, todas as pessoas que trabalharam com afinco durante milênios para que nós tivéssemos luz elétrica. Todos os heróis anônimos e heroínas anônimas que trabalharam e que trabalham com afinco nas biológicas, nas medicinas, nas exatas, esses e essas são as pessoas que estão a fazer a nossa brilhante e maravilhosa história, de como o ser humano consegue manter-se sobre este planeta, transformando o planeta de tal maneira que ele seja a nossa casa e, super importante, uma casa cômoda, gostosa, agradável e que os permita uma glória.
Qual é a glória? Reproduzirmos, termos filhos e saber que terão uma vida melhor do que a nossa. Essa é a discussão mais importante que podemos fazer. E vou roubar aqui as ideias de um judeu chamado Harari. Esse jovem - porque ele é bem mais jovem do que eu - e isto me dá uma grande inveja dele. Este jovem escreve vários livros, mas dois são importantíssimos. É possível que você já os tenha lido. O primeiro, famosíssimo, Sapiens: uma breve história da humanidade, no qual ele nos diz o que acabo de escrever: o ser humano só consegue dominar o planeta porque ele se desenvolve a partir de uma rede, ou seja, a partir de discursos, narrativas, que faz que o grupo crie cooperação. Isso é importante! As pessoas precisam entender que é a criação de uma história, de uma narrativa de uma lenda, de uma religião, de um livro, que permite que um grande grupo se una, forme uma rede e essa rede queira cooperar. Foi assim que o ser humano (tão fraco, com tão poucas coisas para defender o seu próprio corpo, naturalmente, um corpo frágil, fraquíssimo) conseguiu sobreviver, dominar o planeta, transformar o planeta, expulsar e até mesmo extinguir outras espécies que concorriam conosco por comida. Então nesta luta do ser humano por reproduzir-se, controlar o planeta, é que ele se mostrou extremamente capaz. E é por isso, como resultado de todo esse tempo tecnológico, que hoje já vencemos a covid. Nós não estamos em extinção, não corremos esse risco, porque ao longo destes cem mil anos de história nós vencemos todas as pragas, todas as pandemias, todos os outros animais que concorriam conosco e que muito mais fortes poderiam ter nos matado. Ao invés de ficarmos tristes com a pandemia, deveríamos já, e é necessário, começarmos a pensar num feriado comemorativo porque como vencemos todas as outras pandemias, crises, terremotos, vencemos já a esta.
Veja, a famosa varíola, levamos mil anos para entendê-la, mil anos de pesquisa. O HIV, lembrem-se, o terribilíssimo HIV, nos deu uma grande lição. Foi entendendo como é o genoma, como é o HIV no seu funcionamento, que agora estamos prontos para entendermos o corona vírus. Foi por isso que em apenas um ano, e, repito, isto é uma glória, que em apenas um ano, nós conseguimos álcool gel, máscara, distanciamento e principalmente a gloriosa vacina que, por mais que demore, estamos prontos para voltar à vida normal em pouquíssimo tempo. Então isto é a verdadeira história, a verdadeira vitória do ser humano que passou a entender a natureza, que passou a entender a bioquímica do planeta, do nosso próprio corpo, dos vírus, e assim vencemos. Nós já vencemos. Já podemos comemorar isso. Assim como vencemos todos os outros problemas.
É preciso nesse momento problemático, lembrar-se das coisas boas. Das vitórias que tivemos. E essas vitórias são as vitórias da espécie humana que se une, coopera para o bem de todos. Uma geração se sacrifica pela próxima, isso tem sido enormemente comprovado pelo estudo da história. E aí vem o segundo livro desse moço: O Homo Deus e, neste livro maravilhoso, ele nos diz que a próxima tarefa dos seres humanos, não é o Trump, não é o Lula, não é o Jair Bolsonaro, não é o Joe Biden, a próxima tarefa dos seres humanos é matar a morte! Então, temos agora três tipos de gente: o imortal, que é Deus; o mortal, que são a grande maioria dos seres humanos; e o amortal, aquela pessoa humana que graças às tecnologias, à genética, à farmacologia e à química, não morrerá mais de doença. Esse é o grande trabalho dos seres humanos nesse momento, acabar com a morte. E aí fica a grande questão: se acabarmos com a morte, que problemas traremos? Porque haverá pessoas que não terá dinheiro pra comprar esses medicamentos e serão mortais, e alguns poucos, muito ricos, que poderão comprar esses medicamentos e não morrer. O que será que vai acontecer a partir daí, se tivermos pessoas que não morrem e pessoas que morrem? Como fica a religião, a economia, a política? Como fica a vida do cotidiano se tivermos realmente, e se este sonho da humanidade se realizar, a não morte?
Autor: Egydio Neves Neto