Sísifo
Os nossos queridos gregos, que souberam, principalmente no século VI a. C., reelaborar todos os mitos e religiões do mundo inteiro, criaram a filosofia metodológica (antes dos gregos, é óbvio, já exista a filosofia, mas sem metodologia) e também o Teatro, no qual os mitos e as histórias já conhecidos pelo povo grego eram reelaboradas por autores geniais, como Sófocles e Eurípedes. E, até hoje, pensadores se nutrem dessa fonte de conhecimento, como Freud e o antropólogo Lévi Strauss.
Nesse sentido, o mito de Sísifo é até hoje reelaborado, porque, por trás, está a grande pergunta que, dependendo da época e do indivíduo, tem respostas diferentes. Então, qual a pergunta: O ser humano obedece a um destino ou a nossa vida é livre? Os sábios gregos, em sua maioria, acreditavam no destino, pois os deuses que moravam no Olimpo, no topo desta montanha, determinavam a nossa sina. Sísifo recebeu um castigo eterno. Todo dia, empurrava, penosamente, uma grande pedra até o cume da montanha e, evidentemente, a pedra rolava montanha abaixo. No outro dia, tinha que empurrá-la novamente.
Às vezes, parece que nossas vidas se assemelham aos trabalhos de Sísifo, indefinidamente, se repetindo. Mas o próprio mito mostra que, enquanto a pedra rolava para baixo, Sísifo, do alto da montanha, tinha a impressão de vitória e o descanso enquanto descia a montanha. Na História Geral, às vezes nos parece que somos determinados a nos repetir. É o caso da guerra da Ucrânia, na qual Putin e Biden trouxeram lá dos anos 70 a maldita Guerra Fria e o perigo nuclear. Nesse sentido, há quem diga que, se a História se repete na primeira vez, é tragédia (a bomba de Hiroshima) e, na segunda vez, é farsa, como tudo indica na retórica da Rússia na referida guerra acima citada.
Quando a grande mídia falou do uso de armas nucleares, imediatamente pensamos: “Deve ser mentira! Não sei quem traduziu do russo para o inglês”. Mas sabemos que traduzir é trair. Existem palavras intraduzíveis ou que, na língua original, têm mais de três significados e o tradutor escolhe o que quer dar. Os diplomatas sabem muito bem trabalhar essas questões, tanto os que escrevem o discurso quanto aqueles que o traduzem, e nós ficamos nas mãos deles.
O papel da mídia é vender ou manter a audiência. Então, surge o sensacionalismo, que chama a atenção. Nesse caso, a terceira grande guerra, que talvez seja um grande desejo da humanidade para colocar sua agressividade para fora e cometer crimes hediondos em nome da guerra. Portanto, a grande mídia brinca com o imponderável. É preciso perceber que Putin não é louco de soltar uma bomba nuclear, que hoje é 3.000 vezes mais potente (ou seja, o diâmetro alcançado é extremamente maior) que a de Hiroshima. O que nos leva a perceber que a própria Rússia sentiria os efeitos. Para além disso, nem a China e nem a Índia ficariam do lado da Rússia, levando-a a uma derrota total.
Na realidade, o Kremlin está preocupado em manter Putin no poder e mostrar que ele é capaz de defender a Rússia de imagináveis ataques externos e também fazê-la retornar a ser a grande potência que fora na época da ex-URSS. Por seu turno, os americanos são vítimas do discurso de Biden, que diz ser capaz de defender os EUA, o que é também um jogo de palavras para manter-se na Presidência. Por dever de profissão, procuramos ler muito sobre o assunto e acabamos descobrindo que uma das interpretações possíveis ao discurso em russo é a seguinte: “... se for preciso, para defender o Território Russo, usaremos armas do futuro…”. O que significa isso fica para você, nosso estimado leitor/a.
Caso bastante similar é a questão da Coreia do Norte, que tem bombas atômicas e, de tempos em tempos, anuncia um teste nuclear ou joga um míssil sem ogiva nuclear na direção da Coreia do Sul, aliada dos EUA, ou para o lado do Japão. Essa ação leva a grande mídia a especular a possibilidade da terceira guerra mundial. Mas o que o presidente da Coreia do Norte quer é ajuda econômica dos EUA, que, aliada às suas armas, consegue acalmar as revoltas internas do seu país. Enquanto isso, Sísifo empurra a pedra em direção ao alto da montanha…
Prof. Egydio Neves Neto
Prof. Renata Neres