Sombrinha ou guarda-chuva?
Há alguns meses, quando estava dentro de um ônibus, retornando de uma viagem de pesca esportiva pelo Pantanal com casais de amigos, tive um flash de minha infância ao ver uma cena comum, mas que naquele momento me causou certa nostalgia.
Na circunstância, o ônibus passava pela cidade de Cuiabá, capital do Mato Grosso, quando avistei uma senhora andando pela rua, segurando uma sombrinha. O dia estava lindo e ensolarado, porém muito quente. Ao ver aquela cena, lembrei-me de minha saudosa avó materna. Em dias como aquele, além de recorrer ao mesmo objeto para se proteger, ela usava uma expressão que acredito que muitos conheçam: “Hoje, está um sol de rachar mamona”.
Eu, que estava confortável no ônibus leito, com ar-condicionado numa temperatura agradável, me encontrava um tanto rabugenta depois de ficar quase 3 horas e meia dentro de um micro-ônibus sacolejando para cruzar a Transpantaneira – estrada de terra no meio do Pantanal, cuja extensão é de 137 quilômetros –, até chegar o momento de mudar de veículo e pegar o ônibus mais confortável, em Cuiabá, que nos levaria para casa.
Doida para chegar à minha cidade e mais especificamente ao meu lar depois de pouco mais de uma semana fora, estava contando as horas – que estavam só no começo – para sair de dentro daquele veículo. Foi ali, vendo aquela mulher, que, além de constatar que eu estava numa situação mais privilegiada que ela e que deveria agradecer, pensei em escrever algumas linhas sobre a sombrinha e o guarda-chuva.
Na ocasião, recordei-me dos momentos em que minha saudosa avó usava uma sombrinha parecida com a daquela senhora. Lembrei-me também de um dia parecido com aquele: estava um sol muito forte e minha avó tinha que ir ao centro da cidade. Pegou sua sombrinha colorida para se deslocar a pé de onde morávamos, no bairro “Antônio Nadaleto Mazer”, mais conhecido como Cohab 1, até o centro.
Envergonhada por acompanhar minha avó usando uma sombrinha num dia ensolarado como aquele, não queria de jeito nenhum pegar o tal acessório, já que, em determinado momento, ela pedira para eu segurar um pouco, para descansar os braços.
Eu, com sete anos de idade, se não me falha a memória, falei: “para que usar sombrinha se não está chovendo? Eu não quero”! E ela respondeu: “temos que usar para nos proteger do sol, que hoje está de rachar mamona”.
Contrariada e envergonhada de usar tal item, obedeci, o segurei por alguns minutos, que pareciam intermináveis, e logo pedi para que ela segurasse, dizendo que estava cansada. Antes, porém, pensei com meus botões: “por que chamam isso de sombrinha, se em outras vezes chamam de guarda-chuva”? Pensei, pensei, e não cheguei à conclusão nenhuma naquela idade.
Passados alguns anos, compreendi que o item utilizado para nos proteger do sol de rachar mamona poderia ser o mesmo para nos guardar de todo tipo de chuva, já que minha avó o utilizava nas duas situações, e mudava o nome de acordo com o tempo que estava lá fora.
Hoje, lembro-me com carinho e saudade das vezes que ela não só protegeu a ela mesma, com sua sobrinha que virava guarda-chuva, como a mim, que na realidade era a pessoa a quem ela mais queria resguardar naqueles momentos de sol ou chuva.
Sombrinha ou guarda-chuva, ambos foram criados para nos proteger. E são ótimas invenções. Todavia, não há criação mais bela do que as avós, que são nossas mães também e que deixam marcas doces e inesquecíveis em nossas vidas.
Por: Tatiane Cristina Pereira Guidoni Gimenez
Jornalista – MTB: 47.966
Instagram: @tatianeguidonigimenez