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Antigamente o que, para nós, não é tão antigo, para os jovens é muito velho. Ou seja, nos anos 80 e 90, o cinema era, para muitos, a grande arte, e, ao lado de filmes que eram chamados “cabeça”, destinados a quem buscava conhecimento, também existiam os filmes de entretenimento. Nestes, os EUA eram férteis criadores de heróis, como Batman, por exemplo. E, nessa época, os EUA eram vistos como modelo para todo o mundo.
É interessante como os estadunidenses gostavam de se projetar prósperos, felizes e sem problemas de nenhuma natureza. No entanto, as vitórias dos americanos sobre a URSS e o Oriente Médio levaram a um pequeno período de paz americana: 1991 a 2008. Nessa época, parecia que o mundo estava estável e nada abalaria o poderio dos EUA. Apesar disso, houve a crise da bolsa em 2008 e a China, que lentamente vem tentando tomar o lugar dos EUA. Nesse contexto, a internet, por meio da Netflix, Amazon, etc., começou a mostrar uma nova projeção imagética da sociedade americana. Os padrões típicos do cinema comercial Hollywoodiano passam a ser questionados. Salta aos olhos do espectador o desmantelamento da imagem que vinha sendo exportada para o mundo.
Agora aparece uma sociedade confusa (como sempre deve ter sido), com problemas raciais, de gênero e com uma grande quantidade de estrangeiros que trazem para os EUA tanto sua inteligência como seus valores e questionamentos. Além disso, a nova imagem cinematográfica, ou melhor, das séries e dos filmes, aponta para sinais como corrupção, fraude e drogas (pois ninguém duvida que os EUA são o maior nariz do mundo quando se trata de comprar drogas). Essas coisas, hoje em dia, são colocadas nas telas.
Como exemplo, podemos citar “A lista negra”, “Ozark” e “Inventando Anna”. Escrevendo sobre isso, temos o semidocumentário que desnuda uma sociedade opulenta, mas tediosa, e, principalmente, louca por dinheiro, na qual “vale tudo” para sair do anonimato, ter glória, poder e até comprar amigos. Anna Delphis, (caso você não tenha visto, não se preocupe, não daremos spoiler) é o símbolo de tudo que Hollywood sempre negou. A personagem da personagem mostra que o “jeitinho” que todo mundo acreditava existir só no Brasil, se não existia antes (o que duvidamos), chegou com a sociedade 4.0 e hoje faz parte do novo jeito americano de ser.
Por isso, é tão interessante fazer a sociologia da imagem que os próprios americanos estão criando sobre eles mesmos. E, assim, desfaz-se mais um sonho norte-americano, que, apesar de suas vitórias tecnológicas e justamente por causa de sua democracia, vê a ascensão da ditadura chinesa e da contestação do seu modelo pela Rússia. Tudo isso mostra a coragem de uma sociedade em discutir seus problemas nas plataformas digitais e, para além disso, ganhar dinheiro, poder e prestígio como a personagem de “Inventando Anna”, mesmo que, para isso, tenha que arranhar a sua imagem pretérita para buscar uma nova ressignificação dos EUA como player mundial.
Prof. Egydio Neves Neto
Prof. Renata Neres