Um filho
Um dia, ouvi uma frase de uma mulher, mãe de filho único, que, ao ser perguntada se gostaria de ter mais filhos, respondeu: “não, não quero. Ele já me dá alegrias e tristezas suficientes. Um único filho está ótimo!”
A pergunta foi feita por uma mulher e, pelo acaso, eu estava por perto e acabei por ouvir tal diálogo.
Mãe “fresca”, como dizem algumas pessoas, já que me tornara mãe àquela época há poucos meses, confesso que fiquei assustada naquele momento com tal resposta.
Durante algumas horas, naquele mesmo dia, me pegava pensando sobre a resposta daquela mulher à pergunta recebida.
Refletia sobre como poderia uma mãe ter aquele pensamento, pois, mesmo com todos os desafios relativos à maternidade, como noites mal dormidas ou sem dormir, enjoos e dores pós-parto, dentre tantas outras adversidades que cada mulher passa, antes, durante e após o nascimento do bebê, o dom de ser mãe é uma dádiva divina.
Admito que, naquele dia e em muitos outros seguintes, julguei aquela mãe. Julguei para mim mesma, em pensamento.
Não a julguei pelo fato de não querer ter mais filhos e, sim, por dizer que a criança “lhe dava alegrias e tristezas suficientes”. Eu achava inadmissível uma mãe falar daquela forma de um filho, que é a maior prova do quão abençoadas somos por poder trazer uma vida ao mundo.
Entretanto, o meu pré-julgamento em relação à resposta daquela mãe caiu por água abaixo não muito tempo depois, quando, ao também ser indagada se gostaria de ter mais filhos, já que sou mãe de uma única filha, dei a mesma resposta.
Eu, que a condenei em pensamento anos atrás, reproduzi a mesmíssima resposta ao receber tal indagação quando minha filha tinha entre dois e três anos de idade. E olha que já a repliquei algumas tantas vezes.
Reconheci, e hoje falo com a boca cheia, sem medo de julgamentos, que minha filha me dá alegrias e tristezas suficientes.
As alegrias vêm desde que ela era bebezinha. E era só o que eu sentia até uma certa fase, mesmo tendo muito sono, cansaço físico, mental e emocional, relativos aos cuidados com minha pequena. Ver aquele sorriso banguela, lindo, puro, e depois com os primeiros dentinhos; o engatinhar; o ficar de pé; os primeiros passos; a primeira palavra, que para minha felicidade completa foi “mamãe”; enfim, todas as descobertas e evoluções daquele serzinho, eram motivo para eu me alegrar.
Depois, e até concomitantemente aos períodos de alegria extremas vivenciados por mim em relação às descobertas de minha filha, vieram as tristezas, oriundas de vários momentos, como quando um filho fica adoentado, cai e se machuca; ou mesmo quando ele começa a perceber que é um ser único, capaz de realizar algumas atividades e que nem sempre precisa de sua genitora para fazer algo por ele.
E a lista de períodos tristes foi e vai se alongando, já que houve e há os momentos de birras, desobediência e discordâncias, normais à espécie humana. Ah, e como nós, mães, sofremos e nos entristecemos com esses períodos!! Mas fazem parte da vida e, diariamente, vamos aprendendo a lidar com cada fase.
Diante disso tudo, concluí e assino embaixo da frase daquela mãe: minha filha me dá alegrias e tristezas suficientes.
Analisando todos as fases de ser humano maravilhoso que tive o privilégio de gerar e trazer ao mundo, que hoje está com 11 anos de idade, afirmo, em letras garrafais, que ELA ME DÁ MAIS ALEGRIAS do que tristezas, pois um filho, dois filhos, três filhos, ou seja quantos forem, são presentes de Deus, que nos são confiados para nos mostrar que somos capazes de amar alguém muito mais do que a nós mesmos e enfrentar tudo e todos por eles.
Com os filhos, aprendemos a ser mais tolerantes, mais responsáveis, mais compreensivos, mais solidários; viramos enfermeira, médica, curandeira, cozinheira, confeiteira – tudo com o maior orgulho e prazer –; e nos tornamos seres humanos
melhores, para servir como bom exemplo para nossa cria (ou crias).